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Dercy de Verdade

publicado em:2/02/12 12:04 AM por: Kamila Azevedo TV

“Dercy de Verdade” é um nome mais que apropriado para a minissérie escrita por Maria Adelaide Amaral e dirigida por Jorge Fernando, que foi ao ar, no início de janeiro, pela Rede Globo. Baseada no livro “Dercy de Cabo a Rabo”, também de autoria de Amaral, a minissérie nos apresenta a atriz e humorista Dercy Gonçalves da forma como a conhecemos publicamente, como aquela comediante desbocada, que não tinha medo de falar palavrões e safadezas em público; ao mesmo tempo em que nos mostra o outro lado dessa mulher, que, talvez, fosse conhecido por poucos, e que denotava que Dercy era bastante tradicional e se preocupava muito em oferecer uma vida digna ao seu núcleo familiar mais próximo, especialmente para a sua filha única Dercimar.

Nascida na cidade de Santa Maria Madalena, interior do estado do Rio de Janeiro, em 23 de junho de 1907, Dercy não teve uma vida fácil. Abandonada ainda criança pela mãe, foi criada por um pai alcoólatra que nunca apoiou o seu grande sonho de enveredar pela carreira artística. Nesse momento da vida de Dercy, a minissérie faz um adendo importante: na década de 20, época em que Dercy fugiu de casa para se juntar a uma trupe de teatro mambembe, ser artista não era considerado uma profissão correta para “uma moça de família”. Essa visão preconceituosa, como podemos assistir no decorrer de “Dercy de Verdade”, foi apenas o primeiro dos muitos obstáculos que a atriz e comediante teve que enfrentar com muita coragem – virtude que ela tinha, aliás, de sobra.

Na narrativa de “Dercy de Verdade”, é importante perceber, a escritora Maria Adelaide Amaral decidiu privilegiar aqueles que são os momentos profissionais cruciais na vida de Dercy Gonçalves, desde a sua participação no Teatro de Revista; passando pelos trabalhos no gênero de chanchada, nos programas de TV que foram encabeçados por ela, até culminar nas peças de teatro e nos stand-up comedies que ela estrelou. Curioso notar, nesse ponto, que toda a carreira dela foi pautada e centrada na figura dela mesma, como se Dercy Gonçalves fosse um personagem criado por Dolores Gonçalves Costa (seu nome na certidão de nascimento) – e a favor dela conta muito o fato de que Dercy foi extremamente verdadeira até o fim, sem fazer qualquer tipo de concessão profissional, até mesmo quando estava encenando um material mais sério do tipo “A Dama das Camélias”, no teatro.

Neste sentido, é importante perceber também o eixo que a escritora decidiu seguir no desenho de sua personagem principal, mesmo que, para isso, ela tenha que modificar acontecimentos reais para propósitos dramáticos. Para Maria Adelaide Amaral, a presença marcante daquela mulher altamente liberal nos palcos não suprimiu, na realidade, o ser que tinha valores muito fortes e que era muito tradicional. Apesar de sua filha Dercimar ter sido fruto de uma relação extraconjugal de Dercy com um importante exportador de café (interpretado, na minissérie, por Cássio Gabus Mendes), muitas vezes, a comediante colocou em segundo plano sua própria felicidade ao fazer de sua filha única a sua grande prioridade na vida, tentando oferecer para Dercimar uma família nos moldes tradicionais, para aquela época, de forma que ela tivesse um padrasto que a levasse ao altar, de preferência em um bom casamento – em uma das cenas do programa, Dercy chega até mesmo a se vangloriar do fato da filha ter se casado virgem, o que era muito importante para ela.

Na confluência de fatores para a produção de “Dercy de Verdade” vê-se que tudo conspirou a favor da minissérie. Quem melhor para adaptar o seu próprio livro do que Maria Adelaide Amaral? A escritora soube condensar uma existência de 101 anos da forma correta. O diretor Jorge Fernando tem o senso de humor e a competência necessárias para compreender uma personagem tão peculiar quanto Dercy Gonçalves, além disso, demonstra aqui uma sensibilidade irretocável na escolha dos colaboradores, notadamente o diretor de arte e o diretor de fotografia, que fizeram um trabalho excelente. Em relação aos atores, a escolha de Heloisa Périssé e Fafy Siqueira (não existe nenhuma atriz melhor que ela para interpretar Dercy em sua fase madura) – elas alternam as cenas com imagens de arquivo da própria Dercy Gonçalves, o que foi uma solução narrativa bem diferente – foi muito acertada, tendo em vista que as duas possuem um timing cômico excelente e, notadamente, se esforçaram bastante para dar vida a uma das personalidades mais importantes do show business brasileiro (o que faz, até mesmo, a gente perdoar o exagero da caracterização delas em certos momentos da minissérie). Enfim, “Dercy de Verdade” é mais um acerto da Globo dentro do gênero das minisséries, as quais já viraram uma tradição de início de ano na emissora carioca.

Cotação: 7,5

Dercy de Verdade (2012)
Direção: Jorge Fernando
Roteiro: Maria Adelaide Amaral, com a colaboração de Letícia Mey (baseado em livro de autoria da própria Maria Adelaide Amaral)
Elenco: Dercy Gonçalves, Heloisa Périssé, Fafy Siqueira, Armando Babaioff, Bruno Boni de Oliveira, Cassio Gabus Mendes, Daniel Boaventura, Danton Mello, Drica Moraes, Eduardo Galvão, Emiliano Queiroz, Fernando Eiras, Humberto Carrão, Mayana Neiva, Nizo Netto, Paula Burlamaqui, Ricardo Tozzi, Rosi Campos, Samara Filippo, Tuca Andrada, Walter Breda, Yaçanã Martins



Jornalista e Publicitária


Comentários


Realmente a Fafy Siqueira foi uma ótima escolha para viver Dercy,no caso da Heloisa Périssé ela foi bem irregular.Bjs.

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Paulo, concordo com você em relação, tanto a Fafy Siqueira, quanto a Heloisa Perissé. Acho que as duas foram escolhas adequadas e estavam esforçadas para fazer um ótimo trabalho, mas, no caso da Heloisa, a performance dela foi bastante irregular. Beijos!

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Gosto dessa onda da Globo em adaptar histórias de grandes personalidades em minisséries (passou a época dos políticos – uma de Sarney seria sensacional! – entrou cantores – Maysa é para mim a melhor e Dalva também é bem legal) e agora Dercy, um personagem que eu nunca tive muito acesso retratada de uma forma bem branda e regular. E Fafy deu show de bola!

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Luís, eu também adoro esse formato de programas da Rede Globo. Concordo que essa abordagem sobre a Dercy, uma personagem um tanto polêmica, foi branda e regular. E concordo ainda mais em relação à Fafy Siqueira.

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Eu infelizmente não assisti a minissérie, embora quisesse justamente para conhecer mais da figura pública e particular de Dercy. Eu a achava engraçada e acho que ela é extremamente importante para a cultura nacional, qual inúmeros outros artistas brasileiros.

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Luís, uma que eu queria assistir e não consegui acompanhar todos os dias foi “O Brado Retumbante”, aí acabei desistindo…

Luís, sim, ela teve a sua importância para a figura nacional. Melhor que assistir a esta minissérie sobre a Dercy deve ser ler a biografia dela. Acredito que o livro deve ser mais completo que esse programa.

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Interessante, não pude ver a minissérie e fiquei bem curiosa. A Globo deve lançar em breve em DVD, hehe.

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Eu também adorei a série! Achei um grande acerto! O cenário, o modo como a história foi contada, intercalando trechos da própria Dercy com a voz de Fafy. Tive a impressão de que a série foi muito rápida, fiquei querendo mais, o que considero um ótimo sinal.

Quanto à Heloísa, sabe que eu gostei tanto dela quanto da Fafy?

Beijinhos

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Amanda, eles têm lançado esses programas em DVD! hehe

Flá, exatamente, a série poderia ter se estendido mais. E eu achei a Heloísa muito irregular e exagerada em certos pontos, mas, no geral, gostei da atuação dela. Beijos!

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