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O Artista

publicado em:29/02/12 12:54 AM por: Kamila Azevedo Cinema

É impossível assistir a “O Artista”, filme escrito e dirigido por Michel Hazanavicius, e não se lembrar de “Crepúsculo dos Deuses”, longa dirigido por Billy Wilder. Ambas as obras falam sobre o momento de transição do cinema mudo para o cinema falado, dos profissionais que ficaram para trás e que foram completamente esquecidos pela indústria cinematográfica. Se “Crepúsculo dos Deuses” tinha uma abordagem mais crítica do assunto, “O Artista” tem uma proposta de fazer um grande tributo à sétima arte, mais particularmente a uma determinada forma de se fazer cinema, que, atualmente, em tempos de tecnologia 3D, técnicas de captura de performance, entre outras facilidades da era moderna, poderia parecer totalmente fora de moda.

Se, em “Crepúsculo dos Deuses”, tínhamos a polarizadora figura de Norma Desmond (Gloria Swanson), a antiga estrela de cinema mudo que planejava o seu retorno triunfal à grande tela, agora, no cinema falado; em “O Artista” temos George Valentin (Jean Dujardin), também uma estrela do cinema mudo, dotado de muito charme e carisma, literalmente amado pela crítica e pelo público. Porém, assim como Norma Desmond, Valentin, no período de transição do cinema mudo para o cinema falado, foi um daqueles atores e atrizes que foram descartados pela indústria cinematográfica, pois representavam o que era antigo, quando tudo que eles queriam era algo que resumisse o novo.

Em paralelo à derrocada profissional e pessoal de George Valentin, “O Artista” nos conta a história da ascensão profissional de Penny Miller (Bérénice Bejo), que, quando era aspirante a atriz, foi descoberta por Valentin (que, talvez, enxergou nela aquelas características que ele mesmo tinha: o magnetismo, um rosto muito expressivo e forte e que monopolizava as atenções), que lhe deu a sua primeira chance no cinema. Penny que será o rosto do cinema falado, a grande estrela dos filmes que eram produzidos pelo estúdio que empregava Valentin, a representação dessa nova era.

Por trás deste relato de um momento particular da história do cinema, “O Artista”, na realidade, é o retrato de uma grande história de amor. Este sentimento aqui é totalmente dirigido à sétima arte. George Valentin é um apaixonado pelo que faz. Penny Miller é, por sua vez, fascinada pelo tipo de arte e de estilo que Valentin representava, pois isso é tudo aquilo que ela mais conhecia. A mensagem do filme, no final, é até muito bonita, uma vez que não importa se mudo ou falado, tudo é somente um suporte para a grande finalidade do cinema, para a magia, a aventura e a fantasia que se aventurar numa sala escura representa.

Em decorrência disso, o maior mérito de “O Artista” é apresentar a uma nova geração de cinéfilos (ou não) uma forma que, como já mencionamos, muitos dizem ser obsoleta de fazer cinema. Ao provocar na platéia sensações e sentimentos, o longa acaba por mexer com a nossa própria paixão pela sétima arte. Para isso, se utiliza daquela que é a linguagem mais forte que possuímos: o olhar e o gestual. Por isso mesmo se destacam, no filme, as belas atuações de Jean Dujardin (vencedor do Oscar de Melhor Ator) e Bérénice Bejo, além dos elementos técnicos que nos ajudam a entrar numa viagem no tempo, bem como no estado emocional do filme, como a Trilha Sonora, os Figurinos e a Direção de Arte. É uma obra nostálgica, um trabalho notável, orquestrado com maestria por Michel Hazanavicius, que rendeu dez merecidas indicações ao Oscar 2012 – das quais venceu cinco.

Cotação: 10,0

O Artista (L’Artiste/The Artist, 2011)
Direção: Michel Hazanavicius
Roteiro: Michel Hazanavicius
Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller, Missi Pyle, Ken Davitian, Malcolm McDowell, Uggie



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Comentários


Kamila, teu texto tá muito bom, porém não compartilho da ideia de que O ARTISTA é brilhante.Acho apenas bom, Não me emocionou. Acho Crepusculo dos Deuses infinitamente superior, assim como Cantando na Chuva, outro q comparam a ele. Não concordo com a vitória dele no Oscar. Acho forçar muito a barra, já q tinhamos filmes melhores. Enfim, talvez o problema seja comigo. Abs!

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Um filme que encanta, que pelo menos mexeu comigo pela forma artística técnica e também emocional. Ao meu ver, o filme merece todos os prêmios do Oscar e ainda acho que Bejo também poderia vencer, era a minha favorita. Dujardin nos encanta com seu sorriso, não? Sua presença é tão marcante e hipnótica que é difícil não desgrudar os olhos dele em cada momento do filme. Beijo!

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Celo, sei que você não é o maior apreciador do filme. Eu fiquei emocionada assistindo à obra, mas tenho que concordar com você que “Crepúsculo dos Deuses” é infinitamente superior. E eu concordo com a vitória do longa no Oscar. Abraços!

Cristiano, Bejo está excelente, mas foi indicada na categoria errada. Ela é claramente principal, ao lado de Dujardin, que é encantador, a figura do puro carisma. Beijo!

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Caramba nota 10,0,a última vez que vi isso foi com “Cisne Negro” e “A Origem”.Ainda não vi,mas em breve verei.Bem pela sua critica o filme é uma homenagem ao cinema e a obra de Hazanavicius pode ser compreendida em qualquer lugar do mundo,uma vez que é mudo só com gesto e ações.Kamila,eu imagino que deve ser muito dificil escrever um filme mudo,pq a ação tem que ser muito importante,já que não tem dialogos.Eu não vi “Crepusculo dos Deuses” vou procurar em DVD(com total atraso,pq vc já havia me recomendado antes rsrs).Eu vou gostar desse filme Kamila,tenho certeza disso.Quando eu assistir eu falo contigo no face.

Beijos

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Paulo, acho que mais difícil do que escrever um filme mudo é atuar e dirigir um filme assim. Todos os elementos têm que estar em perfeita sincronia, no mesmo tom. Por isso, os méritos do trabalho desenvolvido pelo Hazanavicius, atores e equipe técnica. Todos estavam na mesma sintonia e todos captaram o que tinha que ser feito. Beijos!

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eu particularmente não gosto, mas não odeio. o maior mérito do filme é não ofender nem irritar ninguém. é agradavel gostoso de ver, mas incrivelmente superestimado.

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Cleber, não consigo enxergar o filme dessa forma, como não ofende nem irrita. E também não acho uma obra superestimada. Cada um com direito à sua opinião, nesse caso…

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Também faço coro a sua louvação a O Artista. Um filme encantador que também me envolveu e emocionou. Não é saudosismo como muitos reclamam, é o prazer de ver algo bem cuidado, bem feito e corajoso. Tem mesmo semelhanças com Crepúsculo dos Deuses (um dos meus filmes preferidos de todos os tempos) como Cantando na Chuva, ambos falam da mudança do cinema mudo para o falado, com forma diferentes de adaptação, ou não, dos artistas.

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Amanda, exatamente. Perfeito o seu comentário e eu concordo com tudo que você disse. Até gosto, pra ser bem sincera, quando cinema volta o olhar pra ele mesmo, como uma forma até de analisar a arte.

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Que legal ver esse 10 rs. Digna vitória no Oscar, apesar de eu achar Hugo melhor, mas é um trabalho bonito, bem feito, e merecedor dos reconhecimentos. E não foram 10 indicações ao invés de 8?

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Andinhu, eu acho “O Artista” um filme bem melhor do que “A Invenção de Hugo Cabret”. Foram, sim, 10 indicações. O Reinaldo já tinha dito isso. Vou corrigir no texto.

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[…] – 1º Semestre de 2012 01. Guerreiro (Warrior, 2011, dirigido por Gavin O’Connor) 02. O Artista (L’Artiste, 2011, dirigido por Michel Hazanavicius) 03. Histórias Cruzadas (The Help, 2011, dirigido por Tate Taylor) 04. A Invenção de Hugo Cabret […]

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[…] “A mensagem do filme, no final, é até muito bonita, uma vez que não importa se mudo ou falado, tudo é somente um suporte para a grande finalidade do cinema, para a magia, a aventura e a fantasia que se aventurar numa sala escura representa.” – Ana Kamila, Cinéfila Por Natureza […]

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