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Drive

publicado em:9/06/12 12:17 AM por: Kamila Azevedo Filmes

No decorrer dos 100 minutos de “Drive”, filme dirigido por Nicolas Winding Refn, o protagonista (interpretado de forma maravilhosa por Ryan Gosling) será um grande mistério para nós da plateia. Na forma como foi composto pelo ator canadense, o personagem principal, que é um misto de piloto de carros dublê de longas hollywoodianos e mecânico, é alguém que não expressa qualquer tipo de emoção e que se recusa a baixar a sua guarda. Ele tem um caráter muito observador e fala mais com o seu olhar do que as palavras. Talvez, por isso mesmo, a cena em que ele mais se revela é justamente a que faz a abertura de “Drive”, em que ele fala o seguinte: “existem milhares de ruas nesta cidade. Você não precisa conhecer a rota. Você me dá a hora e o lugar, e eu lhe dou uma janela de ação de cinco minutos. Eu sou seu por todo esse tempo. Não importa o que acontecer. O que ocorrer além desses cinco minutos, você está por sua conta. Você entendeu?”.

Neste sentido, um dos elementos mais curiosos de “Drive” é que nós da plateia passaremos a compreender de verdade este mesmo protagonista por meio das suas ações, principalmente a partir do instante em que ele quebra a própria regra que estabeleceu para si mesmo e que ele explicitou tão bem naquela primeira cena. O que o diretor Nicolas Winding Refn quer fazer com isso é nos levar a perceber que, por trás de toda aquela frieza, existe um ser humano e um heroi de verdade. Esta situação está plenamente manifestada na forma como o roteiro escrito por Hossein Amini estabelece a relação que nasce entre o personagem principal, a sua vizinha Irene (Carey Mulligan, ótima) e o filho dela Benicio (Kaden Leos). É por ela que ele acaba enfrentando grandes figurões do crime (aqui representados por Albert Brooks, na melhor performance de sua carreira, e Ron Perlman). É por ela que ele revela um lado protetor, ao mesmo tempo em que se mostra um verdadeiro justiceiro, ao ponto de acabarmos sentindo uma enorme compaixão por ele – e essa também é uma das grandes vitórias alcançadas por Refn no relato dessa história.

Em muitos sentidos, “Drive” é um filme deveras interessante. Prestem atenção, por exemplo, nas referências textuais do roteiro. O personagem principal, quando veste a sua jaqueta estampada com um escorpião, parece que vira uma outra pessoa,  alguém mais forte, mais incisivo. Percebam que, em certo ponto do longa, até, ele cita a parábola do sapo e do escorpião – que tem muito a ver, aliás, com o nosso protagonista, que é um homem de natureza, como já dissemos, observadora e que só ataca quando se sente acuado justamente por ter seu próprio instinto de defesa, assim como esta espécie.

Também é bom ficar de olho nas referências estéticas de “Drive”. Na forma como foi idealizado pelo diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, o longa tem muitas influências dos filmes de ação dos anos 70/80, especialmente porque não poupa o espectador nas cenas mais pesadas de violência. Esta mesma conjuntura pode ser vista também na trilha sonora composta por Cliff Martinez, que funciona muito bem com o clima do longa. Porém, neste segmento, talvez, o trabalho mais positivo tenha sido alcançado por Refn com seu diretor de fotografia Newton Thomas Sigel, uma vez que algumas cenas de “Drive” possuem ângulos de câmera geniais e soluções criativas que se revelam um sopro de inovação nesse gênero.

Cotação: 9,0

Drive (Drive, 2011)
Direção: Nicolas Winding Refn
Roteiro: Hossein Amini (com base no livro de James Sallis)
Elenco: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston, Albert Brooks, Oscar Isaac, Christina Hendricks, Ron Perlman, Kaden Leos, Russ Tamblyn



A última modificação foi feita em:junho 19th, 2012 as 12:05 am


Jornalista e Publicitária


Comentários


É um belo filme mesmo, instiga pela estética, pelas referências, pela trama. E Ryan Gosling está incrível de fato.

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Eu devo ser uma das poucas pessoas que não amou esse filme. Eu, aliás, em certos momentos, o achei bem chato e cansativo. Isso não se deve à interpretação dos atores, já que eu os achei bastante eficientes, mas tem algo no filme que não me agradou na totalidade, mas também não sei apontar exatamente o que é.

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Amanda, exatamente! Concordo com o comentário!

Luís, eu discordo que o filme seja chato e cansativo em agluns momentos, mas respeito a sua opinião.

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O Ryan Gosling vem mostrando que não é apenas um rostinho bonito e crescendo muito como ator (vide Ides of March e All Good Things). Acho que ele tem bastante perspectivas de ganhar um Oscar num próximo trabalho, quem sabe né.

Gostei também da atuação da Carrey, mas acho que em Shame ela foi muito mais além. É alguém que também está crescendo para ser uma grande atriz.

Gostei do seu review e gostaria de reforçar o aspecto de videogame que percebi ao longo do filme. Inclusive, o Bráulio Tavares dissertou sobre isso (http://mundofantasmo.blogspot.com.br/2012/03/2819-drive-1632012.html). Porém, eu daria uma nota um pouco mais baixa. Achei as cenas de violência fortemente desnecessárias (ou será que simplesmente não estou acostumada?)

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As cenas de violencia (que por sinal são poucas e até normais para quem já está intimo ao estilo) são maravilhosas e muito bem orquestradas (principalmente a sequencia do hotel). Tudo nesse filme é maravilhoso, o filme consegue ter múltiplas visões sobre o mesmo apesar de ter uma estrutura basicamente simples.

Uma das visões favoritas que tenho que o personagem é a personificação do signo de escorpião (curiosidade, Ryan também é de escorpião) que reflete ao mesmo tempo a sensibilidade e a energia, que só destila seu veneno quando sente que alguém querido é atacado. Claro que estamos abertos a mais visões … mas sem dúvida … Escutar Nightcall e não se aventurar ao lado do champs … é sacrilegio …

SALVAS PANDAS COM ESSE FILMEEEE

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Grande filme. Dá gosto. Gostei que você não citou o Scorsese de Táxi Driver, como muitos fizeram. Acho que não tem nada a ver ele com o Refn (mesmo estética ou narrativamente), exceto pelo dois protagonistas de seus filmes dirigirem carros.

Abs!

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Elloa, você está certíssima em relação ao Ryan Gosling. Pra mim, ele é o melhor ator da geração dele. E gosto muito da Carey. Ainda tenho que assistir “Shame” e espero poder fazer isso em breve. Realmente, o filme tem um aspecto meio de videogame e isso foi bem notado por você e acredito que as cenas de violência excessiva se encaixam bem com a proposta final deste filme.

João Paulo, concordo com você em relação às cenas de violência e, não sei se você viu, mas, no meu texto, eu ressalto esse aspecto do escorpião e das características em comum com o Driver.

Pedro, grande filme mesmo que dá gosto mesmo da gente assistir. Eu também acho que “Taxi Driver” nada tem a ver com “Driver”, nem entendo as comparações feitas. Abraços!

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Exatamente! Um sopro de criatividade. Jogando um tipo de filme que já conhecemos num outro patamar. Refn pensa adiante. Precisamos disso. Ótima análise, Kamila. Belo ponto de vista sobre a jaqueta mudar a personalidade do Driver.

Bjs!

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Kamila, gosto bastante de “Drive”, mas, infelizmente, vou contra a maioria e não o considero superlativo… Acho que tem um apuro estético impecável e um clima muito interessante, mas, no geral, não vejo uma grande trama ali…

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Ótimo texto para um excelente filme, Kamila. Drive é mesmo uma das surpresas do ano – sobretudo pra mim, que não dava nada pelo filme. Só uma coisa: em relação à violência, acho que ele se afasta muito dos filmes de ação dos anos 80, que, contraditoriamente, eram até moralistas perto da violência gritante de Scorsese e David Lynch, o que parecem ser as maiores inspirações do diretor ao conceber tais cenas (a cabeça explodindo no hotel, por exemplo, remete diretamente ao clímax de Taxi Driver ou à cena inicial de Coração Selvagem). Falando nisso, pra mim, embora Albert Brooks esteja assombroso, sua melhore performance é na obra-prima do Scorsese. Abraços!

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Júlio, obrigada! Eu também acho esse filme uma das surpresas do ano, apesar de todas as críticas que eu li a respeito da obra terem sido muito elogiosas. Obrigada pela consideração em relação ao tom violento do filme. Abraços!

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Muito bom texto Kamila parabéns, escrevi sobre Drive tb, breve postarei no Moviemento, adorei o filme, foi uma grande surpresa, é uma grande miscelania de influencias, desde a abertura e o texto num “neon” meio anos 80 e todo o resto muito bom mesmo não conhecia o diretor vou procurar por algo mais dele.

Te mais!!!

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Eu pensava que Drive constituiria aqueles filmes que dividem opiniões, mas não. A aceitação do filme foi péssima, tenho vários amigos que não gostaram do filme e não entenderam a proposta. Várias outras pessoas foram ao cinema imaginando um filme de ação e aventura, mas acabaram se deparando com um drama psicológico. Eu adoro o filme, está entre os meus preferidos. As sincronias musicais são absurdamente bem feita e bem calculada. O que eu mais gosto no filme, inclusive, é essa “lentidão” que alguns chamam, mas na verdade é uma pausa dramática para o expectador imaginar o que se passa na cabeça do personagem – ainda mais se tratando do ryan gosling, que pouco fala. Aliás, falando em Goslin, o cast do filme é sensacional. Eu sempre apostei no Goslin como o melhor ator jovem de hoje em dia, já vi vários filmes de outros gêneros com ele como Crazy, stupid, love, (Uma comédia muito boa pras comédias superestimadas de hoje em dia), Lars and the real girl, Notebook e o meu preferido Stay. E ainda tem as duas lindas e super talentosas Carey Mulligan e Christina Hendricks (vide Mad Men). Ah, enfim, adorei o filme!

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annecortez, a aceitação foi péssima somente entre os seus amigos. A maioria das críticas e das opiniões são muito favoráveis a esse filme. Gostei do que você falou sobre a “pausa dramática” e o ritmo lento do filme, é bem isso aí mesmo. O Ryan Gosling, pra mim, é o melhor ator da geração dele e adoro a Carey Mulligan, que é uma das boas atrizes jovens da atualidade.

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