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Argo

publicado em:20/11/12 1:27 AM por: Kamila Azevedo Cinema

O título de “Argo”, filme dirigido por Ben Affleck, faz referência a uma operação secreta instituída pela CIA, a  agência secreta de inteligência do governo norte-americano, para extrair seis diplomatas (Tate Donovan, Clea DuVall, Scott McNairy, Rory Cochrane, Christopher Denham e Kerry Bishé) que, após um ataque feito, durante a revolução iraniana, à embaixada dos Estados Unidos em Teerã, em 4 de novembro de 1979, conseguiram escapar e se refugiar na casa do embaixador canadense (Victor Garber) no Irã. O caráter peculiar desta operação, que foi idealizada pelo especialista da CIA em resgates, Tony Mendez (interpretado pelo próprio Affleck), é que ela utilizou como mote principal a criação de uma produtora de cinema que iria, falsamente, desenvolver o roteiro de uma ficção científica que seria filmada no Irã. Ou seja, o plano da CIA colocava, não só o agente Mendez, como membros da indústria cinematográfica (interpretados por John Goodman e Alan Arkin), além dos embaixadores, como integrantes de uma equipe de produção e filmagem em pleno Irã. Um plano arriscado, mas que visava tirar todos em segurança de um país que, naquele momento histórico, odiava os Estados Unidos, devido ao asilo político que eles tinham oferecido, por motivo de saúde, à Reza Pahlavi, o antigo xá do Irã.

Um dos elementos mais felizes de “Argo” é que o filme se exime de comentar sobre a situação política que impedia, na realidade, do governo norte-americano de tentar extrair, não só os seis diplomatas que conseguiram refúgio na residência oficial do embaixador canadense, como também todas as pessoas que ficaram mantidas reféns na própria embaixada dos Estados Unidos no Irã. Ben Affleck sabe que o elemento mais importante do roteiro escrito por Chris Terrio, tendo como base o artigo escrito por Joshuah Bearman, é a iniciativa particular, não só de Tony Mendez, como de seu superior imediato, Jack O’Donnell (Bryan Cranston), bem como dos membros do gabinete da presidência de Jimmy Carter que autorizaram a execução deste plano. Os seis diplomatas foram resgatados após 87 dias vivendo escondidos. Não tinha outra saída para eles, a não ser um plano “estapafúrdio” como esse, que tinha muita chance de dar errado. É como se, com esse filme, fosse feito um acerto de contas com o passado ou um novo relato para uma história já publicamente consolidada e conhecida, dando o devido crédito aos verdadeiros herois (para usar um chavão bem típico e amado pelos norte-americanos) que foram os responsáveis pelo resgate bem-sucedido dos seis diplomatas.

Neste sentido, há que se reconhecer a excelência do roteiro escrito por Chris Terrio. “Argo” tem um ritmo muito dinâmico e, apesar de ser um longa que bombardeia a plateia com novas informações a cada instante, é uma obra que tem muita fluência, tensão e agilidade. Com uma reconstituição histórica perfeita, cortesia do maravilhoso trabalho desenvolvido pelas diretoras de arte Sharon Seymour e Jan Pascale, a obra tem um caráter documental (prestem atenção também ao desempenho de Rodrigo Prieto na fotografia granulada, quase saída de um filme dos anos 70) que reforça justamente essa intenção principal do filme que é refazer um acontecimento marcante da história recente dos Estados Unidos. Um outro acerto muito importante de “Argo” foi a decisão por optar por nomes pouco conhecidos (a maioria oriundos de séries de TV) no elenco. Isso ajuda a plateia a imergir ainda mais na história do longa.

Entretanto, se tem algo que “Argo” revela é a consagração de Ben Affleck (um ator somente mediano, mas que, aqui, também está muito bem) como diretor. Este é o seu terceiro filme nesta função e, a julgar pelas críticas obtidas pelo longa não só nos Estados Unidos como ao redor do mundo, esta é a prova da sua maturidade no ofício (é importante ressaltar que o estilo de Affleck, nesta obra, foi comparado ao de Martin Scorsese e Sidney Lumet), com uma condução forte e muito segura de uma trama política, com toques de suspense – ao contrário dos temas principais de seus dois longas anteriores como diretor (“Medo da Verdade” e “Atração Perigosa”), que eram dramas que possuíam crimes no pano de fundo dos roteiros. “Argo”, por sinal, é o primeiro filme que estreia em 2012 e que tem, verdadeiramente, a cara do Oscar. É bom Ben Affleck e equipe irem se preparando, pois seu filme será um dos importantes concorrentes à premiação mais importante do cinema.



Jornalista e Publicitária


Comentários


Tudo anda conspirando para me assistir a Argo…hehe
Gostei da sua crítica, parece que Affleck acertou novamente, afinal, parece que ele tinha um ótimo roteiro em mãos.
Assim que tiver uma oportunidade, espero que logo, assistirei ao filme.

Abraço.

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Oi Kamila! Tecnicamente Argo é um primor. Como thriller é competente e muito bem filmado por Ben Aflleck. Mas acho super exagerada todo o auê em cima de Alan Arkin dado como certo na categoria de coadjuvante. Ele não é melhor por exemplo que John Goodman! Todo o elenco está bem. Ninguém rouba a cena por assim dizer. Considero seu maior trunfo o roteiro e sua incrível história. É ela que levará o filme ao Oscar. Abs!

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Celo, assista, sim, a esse filmaço! Abraço!

Alex Sandro, sim, tecnicamente, “Argo” é um filme muito bom. Eu gostei muito da atuação do Alan Arkin, especialmente porque ele fez um contraponto cômico bem interessante dentro desse filme. Ele e o John Goodman, aliás. O elenco merece uma indicação conjunta ao SAG e acho que isso irá acontecer. Concordo com você que, de uma certa maneira, ninguém rouba a cena no longa. O roteiro é sensacional mesmo! Abraços!

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Pois é, Ben Affleck só melhora a cada filme, e parece que Argo servirá mesmo como consagração definitiva. O tema ajuda, mas tudo foi bem feito.

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Esse era um filme que eu queria ver no cinema e não deixar para DVD.Espero que no periodo de premiações eu já tenha visto.Bjs.

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Amanda, sim, esta parece que vai ser a consagração definitiva de Ben Affleck como diretor. E merecidamente. O filme é muito bem feito mesmo!

Paulo, eu também! O filme é excelente. Assista-o. Beijos!

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verdade, eu fiz uma associação com Um Dia de Cão, do Sidney Lumet… o Affleck está ótimo como diretor!

ps: curti esse sistema de notas!!

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Eu sigo achando Argo um bom filme, cumpre seus propósitos, mas só isso. Bem montado, bem conduzido, funciona como thriller político e ainda como comentário ácido de Hollywood. Mas mesmo assim não consegue ir tão adentro dessas questões, não é um filme de complexidade. Prefere um outro caminho, o da tensão, do plano arriscado, e se sai super bem aí. Mas nada que outros filmes do gênero já não tenha feito. E que bom que o Affleck encontrou um talento por trás das câmeras. Basta agora que ele não insista mais em atuar em seus próprios filmes, porque se dirigido por outros ele é um desastres, imagine por ele mesmo…

Alias, não tinha visitado seu blog depois dessa nova reformulação de layout. Parabéns, tá é bonito. 😉

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Rafael, concordo que “Argo” não é um filme de complexidade, mas acho que isso não diminui o mérito do filme. Pelo contrário, até porque, como você bem disse, o filme prefere seguir um outro caminho e, nisso, acaba sendo muito bem sucedido. Que bom que gostou do novo layout. Agradecemos! O trabalho foi feito com muita dedicação pelo Viana e pela MediaVIP.

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Bela crítica, Kamila! Achei “Argo” um thriller bastante competente, roí as unhas como há tempos não fazia. O Affleck se mostra bastante seguro atrás das câmeras e o roteiro é incrível! (“Então, você quer ir a Hollywood bancar o chefão sem ter feito realmente nada? Sim, senhor. Então você vai se encaixar direitinho.”)

Um dos pontos do seu texto que eu gostaria de ressaltar é quando você diz que as informações são jogadas o tempo todo na tela, mas nem por isso o filme assume um tom lento ou monótono. E concordo contigo. O longa possui um clima ágil, mas temos tempo suficiente para digerir todas essas informações e nos acostumar com o contexto histórico e político da trama. Ele sabe balancear informação e ritmo. E isso se deve à competência do diretor e à excelente montagem. O único ponto que eu não acho que o filme se sobressai muito é em relação ao elenco. Eles estão bem como um conjunto, mas ninguém ali entrega uma grande atuação. E por isso, não concordo com a atenção que o Arkin vem recebendo na award season, e não engulo a vitória do filme no SAG!

Embora eu não ache a direção do Affleck a melhor do ano – prefiro a direção documental da Bigelow em “A Hora Mais Escura” – ele entrega aqui um belo trabalho e não seria injusto se ele estivesse concorrendo ao Oscar.

Nota: 9,1

Abraços!

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Um ponto que eu esqueci de comentar: achei a fotografia fria demais. Entendo que eles queriam trazer um realismo maior ao filme, dar uma ar anos 70, mas aquela imagem granulada e em tons sóbrios me incomodou muito.

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Clóvis, “Argo” é um grande filme, a consagração definitiva de Ben Affleck como diretor. Acho que algumas vitórias do filme nessa award season são exageradas, como a do SAG, mas elas são, ao mesmo tempo, resultado do grande apoio que o filme recebeu da indústria cinematográfica. Gosto da atuação de Alan Arkin em “Argo” e adoro a fotografia do filme, que deu um ar bem documental à obra.

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