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O Lado Bom da Vida

publicado em:14/02/13 1:02 AM por: Kamila Azevedo Cinema

Uma das cenas de “O Lado Bom da Vida”, filme escrito e dirigido por David O. Russell, é fundamental para compreender o estado de espírito em que se encontra Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper, numa excelente atuação indicada ao Oscar 2013 de Melhor Ator). Após terminar a leitura de “Adeus às Armas”, livro escrito por Ernest Hemingway, ele não hesita em atirar a obra pela janela, simplesmente por ter odiado o seu final. O raciocínio seguido pela personagem é bastante lógico: “A vida é dura o suficiente. Por que alguém deveria ler algo que mostra o quão ruim as coisas podem ficar?”.

A verdade é que Pat já vem de um determinado momento difícil de vida. Após ser dominado por um acesso de raiva, ele perdeu o emprego, a casa e a esposa. Quando o encontramos, na primeira cena de “O Lado Bom da Vida”, ele está voltando à sua rotina normal após passar oito meses internado em uma instituição psiquiátrica, onde foi diagnosticado com transtorno bipolar, além de ser acometido, periodicamente, por crises de ansiedade excessiva. Mais do que viver um dia de cada vez, a grande batalha diária de Pat é para reconstruir a sua vida – e isso inclui o desejo dele de retomar o seu emprego de professor e, principalmente, reatar o seu casamento.

Numa situação normal, isso já seria complicado de se fazer. Tente se colocar, então, na pele de Pat, que, num momento de vulnerabilidade emocional, tendo que morar na casa dos pais (Robert de Niro e Jacki Weaver, ambos indicados ao Oscar 2013 de Melhor Ator e Atriz Coadjuvante, respectivamente), tendo seu comportamento observado – e analisado – o tempo inteiro pela família, amigos e, até mesmo, estranhos. Não só ele tem que exercitar uma boa dose de autocontrole, como também ter uma estratégia e um foco para poder conseguir aquilo que ele mais deseja e poder, novamente, viver uma vida considerada normal. Talvez, por isso mesmo, chame a atenção nele a atitude positiva e a postura otimista que ele adota diante de tudo aquilo que ele tem que encarar.

Neste sentido, provavelmente, o acontecimento mais importante de “O Lado Bom da Vida” é o encontro de Pat com Tiffany (Jennifer Lawrence, considerada por muitos como a favorita ao Oscar 2013 de Melhor Atriz). Assim como a personagem interpretada por Bradley Cooper, a de Jennifer Lawrence tem a sua própria dose de problemas. Uma jovem recém-viúva, que perdeu o seu eixo emocional e se dedica às conexões frívolas, talvez, para afastar a sua própria dor e solidão. Sem dúvida, Pat e Tiffany são duas personalidades com fissuras, medos e machucados sentimentais. Uma relação, nessa conjuntura, com certeza, não daria certo. Mas, curiosamente, eles possuem exatamente o que o outro precisa para poder se levantarem juntos. Por sinal, a metáfora utilizada pelo filme para ilustrar a mudança deles é perfeita: por meio da dança, uma atividade em que a troca – de olhares, de passos, de sentimentos, de sorrisos – é fundamental para dar certo.

“O Lado Bom da Vida” é um daqueles filmes simples, porém que pegam a plateia de jeito, principalmente por causa da sua realidade emocional. No caso particular da história contada por David O. Russell, o aspecto mais singular dela – e, nesse ponto, talvez aqui resida o  ponto mais positivo do longa – é que ela conta uma narrativa de alguém que é, na realidade, infeliz e que nega as situações passadas e desfavoráveis que vivenciou, mas que, de uma certa forma, consegue ainda enxergar a felicidade e se agarra a todo raio de luz que encontra, como se nele estivesse a sua salvação. É uma mensagem bonita e inspiradora, especialmente porque nos convida a tentar apreciar o lado bom em tudo o que vivemos e deixarmos que isso invada por completo o nosso ser.

Desta forma, fica aqui todos os elogios ao elenco de “O Lado Bom da Vida”. A começar por Bradley Cooper, perfeito na pele de alguém que tem a plena consciência de que, para vencer a sua própria loucura, é necessário que ele faça algo mais louco ainda e que esteja totalmente fora de sua zona de conforto. Neste filme, ele encontra um contraponto perfeito na atuação corajosa de Jennifer Lawrence, cuja personagem não tem nada a perder e, por isso, fica com a missão de falar aquelas verdades que Pat precisa para poder se reerguer – e, ao fazer isso, ao mesmo tempo, ela também se reencontra consigo mesma. Porém, a grande surpresa deste longa é a volta de Robert de Niro às grandes atuações. Vem dele, e da sua interação com Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, as duas melhores cenas desse filme.

Se não bastasse isso tudo, “O Lado Bom da Vida” ainda comprova a grande virada observada na carreira do diretor e roteirista David O. Russell. Se antes ele era conhecido pelos rompantes de raiva contra os seus atores (é famoso, no YouTube, o vídeo em que ele esculacha a atriz Lily Tomlin no set de “Huckabees – A Vida é uma Comédia”), agora ele pode dizer que é um diretor e roteirista nomeado três vezes ao Oscar (por este filme e por “O Vencedor”), com uma sensibilidade enorme para a direção de atores (este longa, por exemplo, obteve quatro indicações nas categorias de atuação do Oscar 2013) e, principalmente, um diretor de histórias sobre pessoas com um background difícil, mas que possuem uma qualidade em comum: o fato de não abaixarem a cabeça diante dos erros e saberem o momento certo para recomeçar.

Indicações ao Oscar 2013
Melhor Diretor
– David O. Russell
Melhor Edição
Melhor Filme
Melhor Ator
– Bradley Cooper
Melhor Ator Coadjuvante – Robert de Niro
Melhor Atriz – Jennifer Lawrence
Melhor Atriz Coadjuvante – Jacki Weaver
Melhor Roteiro Adaptado  – David O. Russell



A última modificação foi feita em:fevereiro 17th, 2013 as 2:08 pm


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Comentários


Esse filme é simplesmente fantástico!!!!
Eu achei q a trilha sonora casou direitinho com o filme.
É incrível ver como a cada filme Jennifer Lawrence está cada vez melhor e mostrando que ela é a melhor atriz da sua geração, pois com apenas 22 aninhos ela já tem duas indicações ao Oscar, vou torcer muito para q ela consiga vencer no próximo dia 24, pois ela está fazendo por merecer.
Sem contar que a química entre Jennifer e Bradley também ajudou muito o filme.

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Kamila gostei muito do filme. Se Jennifer levar será muito merecido, embora eu torça secretamente pela Jessica rs.

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Bela crítica. Dá para sentir o quanto você compreendeu essa delicada e muito bem contada história. Para mim, “O lado bom da vida” é dos melhores filmes do ano.

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Pablo, sim, o filme é mesmo fantástico. A Jennifer Lawrence, mesmo jovem, é uma excelente atriz e isso se traduz em todo o reconhecimento obtido na sua carreira, até agora. Duas indicações ao Oscar de Melhor Atriz com apenas 22 anos, não é pra qualquer uma! E ela merece!! Concordo em relação à química entre ela e Bradley neste filme.

Flavio, também gostei muito do filme. Eu torço pela Jessica Chastain, mas acho que, neste ano, quem quer que vença, o prêmio estará em excelentes mãos.

Reinaldo, obrigada! Também acho que é um dos melhores filmes de 2013, até agora.

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Provavelmente estará na minha lista de melhores do ano. Me lembrou ligeiramente “Melhor é Impossível”, que eu adoro. Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Robert De Niro estão fantásticos. A melhor cena é aquela em que Tiffany confronta o futuro sogro. Bela solução do roteiro: Um louco entende o outro.

Bjs!

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Otavio, provavelmente, também estará na minha lista de Melhores de 2013. A lembrança com “Melhor é Impossível” foi ótima!! Concordo com a sua melhor cena!

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“daqueles filmes simples, porém que pegam a plateia de jeito, principalmente por causa da sua realidade emocional.” – Disse tudo, é mesmo uma bela obra.

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Cassiano, essa época do Oscar realmente fica repleta de bons lançamentos nas salas de cinema brasileiras.

Amanda, pois é! Obrigada!

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Assisto esse filme amanhã,mas fico feliz por saber que De Niro voltou a interpretar um personagem(um ator que estimo muito).Estou curioso em relação a atuação de Jennifer Lawrence,porque ficou impressionado com Emmanuelle Riva em “Amour”(esse filme grudou em mim que não saí de jeito nenhum).Vou procurar esse video do David O.Russell.

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Paulo, gostei muito da atuação da Jennifer Lawrence, mas, das indicadas ao Oscar 2013 de Melhor Atriz, minha favorita é a Emmanuelle Riva. Achei a atuação desta emocionante e muito, mas muito boa. O vídeo do David O. Russell está linkado no post.

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Gostei mais do seu texto do que do filme em si, haha. Não consegui enxergar essa profundidade emocional que muitos apontam no filme. O roteiro é deveras problemático e usa e abusa de clichês e absurdos narrativos pra justificar as ações dos personagens. E nem mesmo estes conseguiram ser trabalhados o suficiente pra despertar a minha atenção. A cena na casa do Pat após a briga no jogo é longa e inverossímil, o personagem do Chris Tucker protagoniza os momentos mais embaraçosos (quantas vezes ele saiu daquele hospital?) e o final é tão clichê que dói. O elenco está apenas bem, mas nada que justifique essas indicações ao Oscar. O Bradley Cooper faz cara de bobão a maior parte do tempo e só se sai bem em uma ou duas cenas, Weaver quase não abre a boca e o de Niro só faz o básico. Jennifer Lawrence consegue criar uma ótima atuação a partir de uma personagem levemente interessante e acaba sendo a única coisa boa do filme. “O Lado Bom da Vida” é um longa manipulador, raso e bastante equivocado em seu tema central, e esse sucesso todo no circuito de premiações só deve se dar ao nome de Harvey Weinstein. Tenho medo do que ele pode aprontar no Oscar.

Nota: 5,5

Abs.

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Eu já imaginava que vs iria gostar muito do filme (detestado por muitos) e eu assim como vs amei, me apaixonei, senti as dores e as glórias de Pat (estou lendo o livro) achei justa todas as indicações ao oscar, por mais que pareça um tanto exagerada a indicação de Jackie Weaver acho justa (rs) por fim, é um filme simples demais e que agrada a massa e é bom ao mesmo tempo, algo meio raro, amei amei demais.

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Cleber, não acho que muita gente detestou “O Lado Bom da Vida”. Pelo contrário, só li boas opiniões a respeito desse filme. A indicação da Jacki Weaver ao Oscar não teve NADA de justa, enfim…

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