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Crash – No Limite*

publicado em:26/03/13 11:09 PM por: Kamila Azevedo Filmes

Crash – No Limite”, filme que marca a estréia do roteirista Paul Haggis na direção, é mais uma obra que trata sobre a intolerância que é um elemento tão forte dentro de várias sociedades. No longa, vemos como o caminho de pessoas das mais variadas classes sociais e origens étnicas acabam se cruzando no curso de dois dias na cidade de Los Angeles. São eles: Jean (Sandra Bullock), uma dona-de-casa, e o seu marido procurador de justiça (Brendan Fraser); um persa (Shaun Toub) dono de uma loja de conveniência, sua esposa e a filha médica; dois detetives de polícia (Don Cheadle e Jennifer Esposito) que também são amantes; Cam (Terrence Howard), um diretor de televisão, e sua esposa (Thandie Newton); dois ladrões de automóveis (o rapper Chris “Ludacris” Bridges e Larenz Tate); um chaveiro (Michael Peña) e sua filha; dois policiais (o indicado ao Oscar Matt Dillon e Ryan Phillippe); dentre tantos outros.

O filme mostra o encontro de todos estes personagens de duas maneiras completamente distintas. Num primeiro momento, o que eles terão em comum é o fato de que todos encaram a vida de acordo com noções pré-concebidas, as quais estão ligadas aos estereótipos e às generalizações. Eles pecam pela omissão e por seguirem aquilo que é considerado como politicamente correto. Num segundo momento, “Crash – No Limite” retoma um pensamento expresso por Graham, personagem de Don Cheadle, no início do filme. De acordo com o detetive, Los Angeles é uma cidade que mantém seus habitantes atrás de um pedaço de metal ou de vidro. Por causa disso, as pessoas começam a sentir falta do toque e de esbarrar umas nas outras. Na medida em que os personagens de “Crash – No Limite” se colidem e passam por aquelas experiências que irão definir toda uma existência, eles acabam – de uma forma ou de outra – tomando uma posição diante da insignificância de suas vidas ou daquilo que eles acreditam.

É justamente por causa disso que muitos acusam o trabalho de Paul Haggis (que co-escreveu o roteiro do longa ao lado de Bobby Moresco) de hipócrita e manipulador. Mas, a verdade é que “Crash – No Limite” é um filme que incomoda e que, principalmente, acaba fazendo um retrato fiel da sociedade norte-americana, que, após os atentados de 11 de Setembro, ficou ainda mais paranóica, mais insegura e mais desconfiada em relação ao outro. É bom também ficar atento ao final de “Crash – No Limite”. A cena nos mostra que a mudança é um ciclo ininterrupto. Enquanto uns se modificam, outros ainda precisam se colidir uns com os outros.

*Texto originalmente publicado no blog Cinemateque, em Maio/2008.



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Comentários


É, esse é um filme que me incomoda narrativamente porque os personagens parecem como meras peças de um jogo que precisam se encontrar (esbarrar) em algum momento do filme para se justificar e não necessariamente como algo natural. E algumas “reviravoltas” são bem difíceis de engolir (como a da personagem de Sandra Bullock).

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Rafael, mas, é bem isso mesmo. As personagens são peças do roteiro e servem a esse propósito que o Paul Haggis possui. Concordo com seu comentário em relação a algumas das reviravoltas.

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Tenho uma certa birra com esse filme por causa do Oscar, hehe. Acho que Brokeback Mountain merecia o prêmio, mas é uma obra que tem seu valor mesmo, pela forma como retrata a sociedade, que você bem destacou no texto. E até esse jogo de peões. Porém, fica um certo vazio no final, com algumas questões forçadas, e até sem sentido.

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Amanda, pois eu não tenho birra em relação a esse filme. Gosto muito de “Crash”, apesar dessas “nuances” do filme. Gosto muito também de “O Segredo de Brokeback Mountain” e acho que, qualquer um desses filmes, seria merecedor do Oscar de Melhor Filme.

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“Crash” é um filme corajoso e aborda muito bem a paranóia americana pós 11/9.Tenho uma implicância com a redenção do personagem de Matt Dillon(dificil acreditar que ele salvaria Thandie Newton com o cinto preso no carro prestes a explodir).ótimo elenco,com destaque para Terrence Howard,Don Cheadle e o já citado Matt Dilon.Há…e o Oscar de melhor filme ficou em boas mãos(também ficaria feliz com a vitória de “Boa Noite Boa Sorte” ou “Brokeback Mountain).

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Paulo, também acho esse filme corajoso, apesar de ter algumas questões discutíveis. Todo mundo tem alguma implicância com esse filme. Do elenco, gosto muito do Michael Peña aqui. Concordo que o Oscar de Melhor Filme ficou em boas mãos aqui.

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Eu gosto muito desse filme, principalmente, no modo como ele procura levantar questões relevantes sobre a sociedade contemporânea estadunidense. Tem alguns momentos bem forçados, como aquela cena entre o pai e a filha no momento do tiro, mas o saldo geral acaba sendo bastante positivo. Do elenco, a única que me chamou a atenção foi a Thandie Newton, que até hoje eu não entendo como foi ignorada pelas premiações daquele ano. Meus filmes favoritos naquele ano são “O Jardineiro Fiel” e “O Segredo de Brokeback Mountain”, mas não tem implicância com “Crash” por ter prevalecido no Oscar. Sua vitória não foi imerecida e dá pra entender o porquê de ter levado a estatueta de Melhor Filme.

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Clóvis, também gosto muito desse filme, apesar dos momentos forçados. Fiquei emocionada com todos eles. Meu filme favorito naquele ano foi “Boa Noite, e Boa Sorte”, mas fiquei bem satisfeita com a vitória de “Crash”, apesar de todo apoio à “O Segredo de Brokeback Mountain”, que também é um belíssimo filme.

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qual a relação entre o titulo do filme e o seu enredo?

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Patricia, o nome “Crash” diz respeito justamente a palavra colisão. O que o filme mostra é que Los Angeles é uma cidade em que as pessoas pouco se esbarram e, quando isso ocorre, acontece tudo aquilo que a gente vê nas múltiplas histórias intercruzadas de “Crash – No Limite”.

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