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Carandiru

publicado em:23/04/13 11:24 PM por: Kamila Azevedo Filmes

Em 2003, ano de seu lançamento, “Carandiru” foi um dos filmes nacionais mais antecipados daquele período. Baseado no best-seller “Estação Carandiru”, de autoria do médico Dráuzio Varella (que, atualmente, possui um quadro no programa “Fantástico”, da Rede Globo) e adaptado pelo diretor Hector Babenco, cineasta argentino radicado no Brasil, o filme atende às expectativas do público, que, naquela época, lotou as salas de cinema do país – sucesso que acabou gerando, posteriormente, em 2005, a série “Carandiru: Outras Histórias”.

A história por trás de “Carandiru” começa em 1989, quando Dráuzio Varella (Luiz Carlos Vasconcelos) foi ao presídio realizar um trabalho voluntário de prevenção ao vírus da AIDS – que vinha infectando muitos presos no local. O resultado de três anos de convivência entre o médico e seus pacientes foi posto justamente em “Estação Carandiru”, uma obra em que Varella analisa muito o dia a dia e a vida dos presos.

De uma certa maneira, este também é o propósito do filme dirigido por Hector Babenco, uma vez que “Carandiru” faz o relato do dia a dia dos presidiários, de acordo com o ponto de vista de Dráuzio sobre eles. Por isso mesmo, a primeira cena do longa é aquela que retrata a chegada do médico ao local – antecipada por um pequeno conflito no pavilhão –, quando ele começa a entrar em contato com as suas primeiras impressões sobre o que acabou de assistir e que acabam influenciando na sua decisão de, talvez, não retornar ao presídio.

Através do contato diário que Dráuzio possuía com os presos – quando fazia a triagem para ver quem necessitava fazer o exame de detecção do HIV – o espectador vai conhecendo, junto do médico, quem é quem no Carandiru, e quais os motivos que levaram aquelas pessoas a estarem ali. Mesmo quando a personagem principal não está em cena, a plateia continua a acompanhar a jornada diária de cada detento, numa verdadeira luta pela sobrevivência.

Hector Babenco e equipe souberam desenvolver muito bem a história de “Carandiru”, equilibrando, de maneira acertada, cada dose de emoção, revolta e alegria – com destaque para a cena que retrata o show de Rita Cadillac. O único pecado cometido por eles foi no quarto final do longa – justamente aquele que é mais importante, uma vez que mostra a rebelião que causou a morte de 111 presos, em 1992 –, pois, neste momento, a obra ganha um ar de documentário que não condiz muito com o que estávamos assistindo antes, fazendo parecer com que estejamos assistindo a uma espécie de “Globo Repórter” sobre o fato.

Entretanto, isto não prejudica “Carandiru”. O diretor Hector Babenco criou uma obra humanizada – graças, principalmente, à maneira como Dráuzio retratou a personalidade dos presos, resultando em uma mistura de tipos que se espalham em diversas realidades dentro de um mesmo espaço – e que causa uma grande empatia com a plateia. Outro acerto foi que o diretor não mostrou os presidiários como herois, e sim como pessoas que erram, que se arrependem, que se ajudam, que convivem com as suas próprias leis e que podem decidir jogar tudo para o alto. Neste sentido, também temos que reconhecer o mérito do elenco, que consegue transmitir com competência uma realidade nua e crua, que continua nas mentes daqueles que vivenciaram este período, e que teima em permanecer viva em algumas cadeias ou presídios do Brasil.



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Comentários


Eu esperava muito desse projeto que foi uma decepção para mim.Os motivos era o bom momento do cinema brasileiro com filmes como “Central do Brasil”,”Bicho de Sete Cabeças” e “Cidade de Deus”,o sucesso do livro e a reputação de Hector Babenco.A direção é condescendente com os presos(que são ratratados como vitimas da sociedade) e o roteiro não explora bem todos os personagens(com destaque para o núcleo formado por Ailton Graça e suas duas mulheres).Com ótimas atuações de Wagner Moura(que dia que ele não está bem?) e Rodrigo Santoro e muito bem fotografado por Walter Carvalho(a sequencia da limpeza na cela é muito bem filmada) o projeto “Carandiru” ficou devendo.Não considero bandido vítima e sim cidadões como eu e você que na visão do diretor(argentino,que fique claro) são vitimas do estado.Talvez com um cineasta politizado como José Padilha o projeto “Carandiru” teria sido um sucesso.Mas tanto filme como o presidio foram um fracasso.

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Faço minhas as palavras de Paulo Ricardo aí em cima, hehe. Eu também me decepcionei com o filme, achei o roteiro sem profundidade e dinâmica. Tem bons momentos como os que você cita do show de Rita Cadillac. E as atuações são destaque. Mas, acabou sendo um filme aquém do esperado diante do tema.

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Boa crítica, ma ssou obrigado a engrossar o coro dos decepcionados aqui. “Carandiru” é um bom filme, mas não é o filme que diz ser, se é que me faço entender. Acho que o eelnco é preciso, como vc bem pontua, mas a realização tem suas oscilações…

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Paulo, de uma certa maneira, eu concordo com o seu comentário. Porém, acho que o filme não chega muito perto de ser uma decepção, especialmente porque o retrato humanizado dos presos tem muita influência do cinema norte-americano, em obras como “Monster – Desejo Assassino”, por exemplo. Concordo com você que bandidos não são vítimas. Acredito que eles são o resultado das escolhas que fazem para as suas vidas. A visão do Babenco é uma visão influenciada por questões políticas, apesar de ele não ser tão politizado quanto o José Padilha, que você cita no final de seu comentário.

Amanda, fique à vontade. rsrsrsrsrs Não me decepcionei com esse filme. Achei que ele meio que cumpriu com o seu papel.

Reinaldo, obrigada! Sim, você se fez entender em seu comentário. Entendo que “Carandiru” não cumpriu o que prometeu ser, mas, mesmo assim, é um bom filme.

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Como o livro fez um sucesso muito grande, o público esperava um filmaço, por isso ficou esta sensação de decepção em muitas pessoas. Eu concordo mais com o texto da Kamila, o filme é interessante, o elenco muito bom e fica apenas a polêmica da parte final que mostra o massacre.

Concordo também que talvez um diretor como José Padilha poderia ter feito um longa sensacional, mas é apenas uma suposição.

Abraço

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Hugo, entendo a decepção da maioria das pessoas, mas este não foi meu sentimento em relação à adaptação de “Estação Carandiru”. Exatamente: imaginar que José Padilha poderia ter feito um trabalho melhor adaptando o livro é somente uma grande suposição!

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olá como chama a canção do a cena que sao zico e deusdete no terraça perdão pelo meu mau expressão eu sou da argentina muito obrigado

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