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No

publicado em:8/05/13 12:58 AM por: Kamila Azevedo Filmes

O filme “No”, dirigido por Pablo Larraín, se passa naquele que pode ser considerado como o mais importante momento histórico recente do Chile, quando, em 1988, em decorrência da pressão internacional, foi realizado no país um plebiscito nacional para decidir se Augusto Pinochet (que governava o país por meio de uma ditadura militar instaurada em 1973) permaneceria no poder ou se o Chile entraria num momento de transição rumo a uma democracia, com eleições livres que levassem em conta a manifestação popular nas urnas.

Apesar deste pano de fundo histórico, o roteiro escrito por Pedro Peirano (com base na peça do escritor chileno Antonio Skármeta) enfoca os bastidores das campanhas publicitárias do “SIM” e do “NÃO”, com destaque para essa última. Desta forma, somos colocados diante do jovem publicitário René Saavedra (Gael García Bernal), que é um dos trabalhadores a serviço da campanha contra a permanência de Augusto Pinochet no poder. Neste sentido, é importante observar o background de Saavedra, ele próprio um ex-exilado que foi casado com uma ativista (Antonia Zegers) do movimento contra a ditadura.

Chama a atenção em René Saavedra o olhar externo que ele possui sobre a situação chilena, como alguém que passou boa parte de sua vida fora do país. Porém, o que ele mais acrescenta à campanha dos partidos de oposição ao regime de Pinochet é a visão completamente dominada pelas técnicas publicitárias – e isso entra em choque direto com a intenção central da campanha, que era mostrar à população chilena a verdade obscura por trás do governo Pinochet, com os desaparecidos e presos políticos e com os executados e exilados. Ao ver o “NÃO” como um produto publicitário, ao notar que esta era uma campanha que colocava em lados opostos o cidadão comum chileno e aqueles oriundos das classes dominantes da sociedade, Saavedra muda o rumo de um plebiscito que poderia muito bem estar com as cartas marcadas – afinal, não custa nada lembrar, o regime de Pinochet dominava os meios de comunicação e a máquina pública oficial.

Indicado ao Oscar 2013 de Melhor Filme Estrangeiro, “No” se apoia numa linguagem documental, que mistura os acontecimentos retratados no filme com imagens reais advindas das campanhas publicitárias de 1988. Com um roteiro excelente defendido por ótimas atuações (com destaque para o protagonista Gael García Bernal e os coadjuvantes Luis Gnecco, Alfredo Castro e Néstor Cantillana), “No” nos mostra – numa época em que se é bem conhecido o poder do marketing político – um case publicitário interessantíssimo, porém a sua maior importância é retratar como, a partir de uma simples ideia (a de que a alegria está por vir após momentos difíceis), sem qualquer tipo de coerção por uso da força ou de sangue, se pode agregar pessoas em torno de um único objetivo: pensar qual o tipo de futuro que se quer para o país em que elas vivem.



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Jornalista e Publicitária


Comentários


Kamila,eu gostei muito desse filme.Dos 5 nomeados na categoria filme estrangeiro eu conferi o dinamarques(não recordo o nome) e o austriaco/francês “Amor”(meu favorito).Mas o chileno “No” me agradou muito.Pelo tema,a narrativa(uma fotografia diferente) e a maneira elegante que aborda a tragédia que foi a ditadura militar.Elegante talvez não seja o termo correto e sim documental(como vc mesmo diz na sua critica).Mereceu a nomeação ao Oscar e só reforça o bom momento do cinema latino.

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Paulo, também gostei muito desse filme. Foi o segundo indicado ao Oscar 2013 de Melhor Filme Estrangeiro que eu vi e isso comprova a boa safra que esta categoria teve no ano passado. Uma indicação muito merecida, sem dúvida.

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