Cazuza: O Tempo Não Pára
Os dois maiores poetas da geração dos anos 80 foram, sem dúvida alguma, Renato Russo e Cazuza. Além de serem ótimos letristas, com uma capacidade tremenda de traduzir sentimentos; Renato e Cazuza tinham muito mais coisas em comum: ambos eram extremamente intensos e meio “loucos”. Os dois, talvez prevendo o futuro que os aguardava, viviam cada dia como se fosse o último. Morreram jovens, em decorrência da mesma doença, a AIDS. Mas, por uma razão que ninguém entende, a nossa geração (a dos anos 90) só conhece a obra de um deles: Renato Russo.
Com o objetivo de apresentar ao público jovem a personalidade e a música de Cazuza, de fazer com que a geração dos anos 80 relembre aquela figura e as aventuras vivenciadas naquele período e de prestar uma homenagem àquele que é um dos maiores compositores brasileiros; foi que Sandra Werneck (“Amores Possíveis”) e Walter Carvalho (o diretor de fotografia de “Central do Brasil”) se uniram para dirigir “Cazuza – O Tempo Não Pára”, um projeto inicialmente idealizado por Daniel Filho, diretor da Globo Filmes.
O filme tem um roteiro levemente baseado no livro “Só as Mães São Felizes”, de Lucinha Araújo, a super mãe de Cazuza (Lucinha era superprotetora; preocupada com o filho e queria ter ele sempre por perto, pois assim achava que o salvaria de se meter em encrencas); e cobre a vida de Cazuza a partir do momento em que ele desperta para a sua vocação musical (pelas mãos de Ezequiel Neves – no filme interpretado pelo surpreendente Emílio de Mello –, ele se torna o líder do Barão Vermelho, de onde sairia para uma bem-sucedida carreira solo) até o dia de sua morte, em 1990, depois de sofrer com os efeitos do vírus HIV no seu corpo.
A descoberta da infecção pelo vírus é um ponto de transformação e de divisão no filme, marcada também pela chocante e dura transformação física do ator Daniel de Oliveira, que incorpora (essa é a palavra certa) Cazuza. Entretanto, a doença em si não chega a ser um ponto de transformação na personalidade de Cazuza, uma vez que ele ganha mais força para trabalhar; continua sendo superprotegido e paparicado por Lucinha (Marieta Severo, ótima); em contraponto à figura do pai, João (Reginaldo Faria, que aparece pouco, mas é eficiente nas suas cenas), que libera, mas sabe cobrar no momento certo; e se mantém rodeado de amigos irradiando a mesma alegria e senso de humor irônico que possuía.
“Cazuza – O Tempo Não Pára” tem falhas gritantes, a maioria delas no que diz respeito à linha de tempo do filme (os pulos no tempo são muitos). Entretanto, este é um longa que funciona e emociona – sem apelar para cenas de emoção barata –, ao se apoiar, justamente, naquilo que Cazuza fez de melhor: escrever (e, em outros casos, prever), cantar tudo aquilo pelo qual ele havia passado e, principalmente, viver.
Não é um grande filme mesmo, mas cumpre sua missão. E Daniel Oliveira está muito bem mesmo, “incorporando” Cazuza como você disse.
Uma coisa que me irritou na época, não tem muito a ver com o filme em si, mas com a trilha sonora. Me dei ao trabalho de comprar o CD e as músicas não estão completas lá, apenas o trecho que toca no filme, um dos maiores absurdos que já vi. Ou melhor, ouvi. hehe.
Amanda, sim, é um filme que cumpre a sua missão. Acho a atuação do Daniel de Oliveira uma das melhores em anos recentes. Não sabia dessa do CD da trilha sonora. Que absurdo! Uma enganação!
Vale pela atuação de Daniel de Oliveira e também de Emilio de Mello, mas o filme em si é apenas razoável.
Acredito que por ser uma história muito conhecida, a vida do cantor esteve quase sempre debaixo dos holofotes, o filme acabou trazendo pouca coisa de novo.
Até mais
Realmente o Daniel de Oliveira incorporou o Cazuza, principalmente nos momentos derradeiros. A atuação dele é de longe a melhor coisa do filme. Essas falhas gritantes atrapalhara ma experiência para mim como um todo, tanto que dei 6/10 na época. De qualquer forma, Cazuza foi um grande compositor e merece ser lembrado…
Hugo, concordo com seu comentário. Gosto do filme, mas acho que faltou uma certa ousadia na direção.
Bruno, o Daniel de Oliveira é unanimidade, em se tratando desse filme. Performance excelente. Mas, o filme tem, sim, certas falhas.
Daniel Oliveira consegue o que “Somos tao jovens” apenas promete,
nao ser uma caricatura.
Herculano, exatamente!!