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Encontros e Desencontros

publicado em:8/08/13 12:35 AM por: Kamila Azevedo

Bob Harris (Bill Murray, em uma performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator e um Globo de Ouro de Melhor Ator de Filme de Comédia em 2004) é um ator cujas carreira e casamento estão em crise. Ele viaja para Tóquio, no Japão, pois recebeu dois milhões de dólares para estrelar a campanha de uma marca de whisky. Bob, ao contrário do que os outros pensam, não se encontra em uma crise de meia-idade. Ele simplesmente não sabe como compreender os novos rumos que a sua vida tomou nos últimos anos.

Já Charlotte (a excelente Scarlett Johansson) é uma graduada em Filosofia e esposa dedicada de John (Giovanni Ribisi). Ela acompanha o marido em mais uma das viagens a trabalho dele para o Japão – ele é fotógrafo e registra imagens de bandas de rock. John é um marido perfeito, do tipo que diz “eu te amo” cada vez que sai de casa, porém Charlotte está em crise consigo mesma; está perdida – tanto que está lendo um livro chamado “A Busca da Alma: Como Encontrar a Sua Verdadeira Vocação” – e não encontra nos amigos e no marido as pessoas com quem poderá conversar ou obter conselhos.

Bob e Charlotte serão os nossos guias durante “Encontros e Desencontros”, o segundo filme da carreira de Sofia Coppola – o seu roteiro original rendeu-lhe um Oscar nessa categoria em 2004. Estes dois personagens possuem muito mais em comum do que imaginam: estão “soltos” em Tóquio – cidade de estrutura grandiosa (imagens refletidas pelas visões de Scarlett Johansson durante os passeios dela) -, assustados com tanta tecnologia – em um certo momento do filme, a comunicação entre Bob, Charlotte e seus cônjuges chega a ocorrer via aparelhos de fax -, separados pelas barreiras da língua e costumes culturais diferentes, ou seja, eles estão perdidos e esperando para serem “resgatados”, ou melhor, encontrados.

Até mesmo nos ambientes em que eles mais dominam: atuação (no caso de Bob) e o marido (no caso de Charlotte) passam a ser encarados de outra forma enquanto eles estão no Japão. Bob não consegue desempenhar seu papel do jeito que acha melhor, pois não entende as instruções de seu diretor; e Charlotte não se sente parte do mundo do marido – por isso começa a questionar a relação dos dois – nem dos relacionamentos profissionais dele, afinal basta observar as reações dela às conversas de John com a atriz hollywoodiana (Anna Faris, as aparições dela roubam a cena) para chegarmos à conclusão de que, para ela, tudo aquilo é extremamente superficial.

Bob e Charlotte estão hospedados no mesmo hotel em Tóquio. É esse local que marcará uma série de encontros e desencontros entre os dois: no elevador; no hall, no parque esportivo e no bar do hotel – aonde uma mesma banda toca todas as noites. Esses encontros e desencontros são sempre sucedidos de noites em claro assistindo programas de TV japoneses – eles não conseguem dormir devido ao fuso horário -, passeios por Tóquio – nos quais eles tentam entender um pouco mais sobre a cultura japonesa – e silêncios inquietantes – os quais dominam grande parte do filme – e que representam a profunda solidão que eles sentem.

É no bar do hotel que acontecerá o encontro definitivo entre Bob e Charlotte. A partir daí, eles encontram um no outro a companhia de que precisavam para explorar Tóquio. Eles se divertem flertando entre si e indo à festas, boates, bares e karaokês ao lado dos amigos japoneses de Charlotte. Entre eles, a conversa parece ser mais fácil e os olhares comunicam tudo. Ainda podemos dizer que Bob encontrou na juventude de Charlotte a força de que precisava para enxergar e modificar certos aspectos de sua vida; e que Charlotte vê na maturidade de Bob a pessoa na qual ela pode confiar, se abrir sobre seus planos sem sentir que está sendo julgada, com o objetivo de obter aquilo que ela mais deseja: conselhos e estímulo.

A melhor maneira de resumir “Encontros e Desencontros” é dizer que este é um filme que retrata uma história de amor que não tem a mínima chance de acontecer. E a platéia é testemunha desse relato, o qual é contado com simplicidade e sensibilidade por Sofia Coppola – a trilha sonora do filme também ajuda bastante, uma vez que retratam os estados de espírito dos personagens em cada momento da história. Neste filme, as imagens valem mais do que mil palavras e a prova máxima disso é que a única coisa que vai ficar na sua cabeça quando “Encontros e Desencontros” terminar é a questão: o que foi que Bob sussurrou no ouvido de Charlotte? Seria esse o nosso final feliz?



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Comentários


Concordo com duas questões apontada na sua crítica-Charlotte pode se abrir com Bob sem ter a sensação de estar sendo julgada e que essa história de amor que não tem a minima chance de acontecer.A atuação de Bill Murray é ótima.O cara esta de saco cheio com tudo,com o casamento(a cena que ele tem que escolher a cor de um tapete por telefone mostra a distanciamento entre eles).Na verdade a Charlotte me parece que gosta do marido,mas os dois não estão em uma fase boa,ela não decidiu o que fazer da vida e ele sempre recrimina ela,mas porque ele não é um pouco mas carinhoso com ela?.O Bob me parece mais a deriva,sem muitas motivações e encontra a versão mais nova dele em Charlotte.O filme é isso,cheio de minucias,detalhes,observações e revelou o talento de Sofia Coppola.Há e sobre a última cena eu imagino que ele diz o seguinte:

“Tudo vai passar Charlotte,é um momento e você vai conseguir realizar seus sonhos.Adorei conhecer você”

Essa cena final foi um achado da Coppolinha porque é de uma delicadeza e sensibilidade fora do comum no cinema de hoje.Parabéns pela critica.

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Paulo, obrigada! Também gosto muito da atuação de Bill Murray neste filme. O que eu acho mais interessante é que Bob e Charlotte, provavelmente, nunca teriam se notado caso não estivessem naquela situação particular em Tóquio. A solidão deles, naquele lugar, que os aproxima. Gostei da sua interpretação sobre a última cena e acho que esse foi o propósito de Sofia Coppola: fazer com que cada um de nós pense o que quiser sobre o que Bob disse a Charlotte.

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