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Os Amantes Passageiros

publicado em:19/03/14 12:57 AM por: Kamila Azevedo Filmes

Um dos diretores e roteiristas mais aclamados do cinema espanhol, Pedro Almodóvar, em seu mais recente filme, “Os Amantes Passageiros”, apresenta um lado diferente de sua filmografia, na medida em que esta comédia trata os costumeiros temas presentes em suas obras (notadamente os que se referem à densidade da natureza dos relacionamentos humanos) de uma forma um tanto leve, frívola e quase fantasiosa – que acaba prejudicando o resultado final obtido pelo diretor e roteirista espanhol, uma vez que “Os Amantes Passageiros” termina sendo um longa incoerente em muitas de suas intenções.

A história se passa dentro de um avião da companhia aérea Península, mais especificamente na primeira classe deste meio de locomoção, onde se encontra um grupo heterogêneo de pessoas, cada um com os seus próprios problemas. Ganha destaque também no roteiro escrito por Pedro Almodóvar a tripulação excêntrica deste vôo, a qual também está envolvida em seu próprio, digamos, mundo, lidando com o desgaste normal de uma rotina puxada em termos profissionais e com as questões delicadas advindas dos muitos encontros e desencontros amorosos entre eles.

Como se dá para perceber, este voo não é típico – não só por causa do grupo de pessoas que nele se encontra. Na medida em que a viagem começa a enfrentar problemas, já que um dos trens de pouso da aeronave não está mais funcionando, é que Pedro Almodóvar começa a esboçar a sua ideia principal, a qual acaba não sendo muito bem trabalhada. Quando explora a metáfora do voar em círculos (o piloto do avião é obrigado a fazer isso enquanto espera a prontificação de algum aeroporto que tenha condições de receber um pouso de emergência), Almodóvar se refere aos próprios personagens presentes na primeira classe daquela aeronave, que se recusam a enfrentar os seus problemas e que estão todos fugindo ou à procura de alguma coisa. Um outro ponto interessante é Almodóvar mostrar que, enquanto a primeira classe está recebendo todo o luxo e preocupação possível, os passageiros da classe econômica são relegados ao segundo plano e passam o voo inteiro dopados, anestesiados, inertes a uma situação que pode modificar a vida de todos que ali estão. Qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência…

Entretanto, como bem comentamos, tais ideias – que são interessantes – não são desenvolvidas da forma correta por Pedro Almodóvar. O diretor e roteirista espanhol, desta vez, não conseguiu se comunicar por completo com a sua plateia. E isso é culpa direta do seu roteiro e da tão famigerada expectativa que sempre ronda as obras de alguém tão talentoso e querido pelo meio cinéfilo como ele. Se “Os Amantes Passageiros” acaba sendo uma obra decepcionante, pelo menos não o faz isso por completo, afinal, ainda encontramos na tela as típicas cores do universo Almodovariano e um grupo de atores talentosos (em sua maioria, todos já trabalharam anteriormente com o espanhol) que faz o melhor possível com um roteiro desastroso.



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Comentários


Até hoje não entendo muito bem o que Almodóvar quis com esse filme, principalmente depois do arraso que foi “A Pele Que Habito”. Chega a ser incômodo o exagero desse filme. A histeria e a falta de rumo da proposta (que, como você bem comentou, é sim interessante) impedem que “Os Amantes Passageiros” seja sequer inofensivamente envolvente. Uma gigantesca decepção e o pior filme de Almodóvar que já vi.

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Considero Pedro Almodóvar um dos cineastas mais originais e talentosos do cinema.Não sou fã dos melodramas “Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos”,mas a sequencia da fase madura que iniciou com o ótimo “Carne Trêmula”,”Tudo Sobre Minha Mãe” e “Fale Com Ela”(meu favorito) são obras primas e ele saiu da zona de conforto com o pesado “Má Educação”(um filme autobiográfico,apesar dele não admitir isso),depois tivemos a comédia “Volver” com uma Penelope Cruz linda e emulando Sophia Loren.Kamila,de “Abraços Partidos” em diante eu não consigo me comunicar com os filmes de Almodóvar.Esse é o ponto baixo de sua carreira.”Abraços Partidos” é um filme bem feito(lembro de uma citação a Audrey Hepburn) que tinha um roteiro confuso(numa revisão eu compreendi melhor a proposta do filme),mas que não acrescentava muito a sua original filmografia.”A Pele Que Habito” apesar de muito elogiado é um filme com um final acelerado e resisto a uma revisão e chegamos ao que considero ao pior filme da carreira dele “Os Amantes Passageiros”.Almodóvar entrega um roteiro que como vc disse é desastroso e uma história que beira o vulgar.Sem graça,repetitivo e sem próposito.Muitas piadas de sexo oral,passageiros drogados(que coisa horrivel,não desejo isso pra ninguém) e uma história boba e sem sentido.Almodóvar quis o que com esse filme? criticar as cia aéreas da espanha ou falar sobre a crise econômica que abalou o país.”Os Amantes Passageiros” foi um dos piores filmes que assisti em 2013.

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Concordo em gênero, número e grau com sua crítica. Aliás, está aí um filme que arranha a unanimidade nessa diversificada blogosfera cinéfila. Um filme que faz valer a a famosa frase: “o horror, o horror, o horror”!
Bjs

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Matheus, concordo plenamente com seu comentário. Posso dizer, seguramente, que é também o pior filme que eu assisti do Almodóvar.

Paulo, pelo que consta, Almodóvar queria fazer uma crítica política à situação espanhola com esse filme. Sinceramente, acho que a intenção era boa, mas a execução foi péssima. O roteiro desse filme beira o desastroso e o vulgar. Muita baixaria junta, nem parece um filme do Almodóvar. Infelizmente, a unanimidade parece ser a de que este é o pior filme de sua carreira.

Reinaldo, pois é. E que unanimidade diferente, em se tratando do cinema do Almodóvar. Uma obra lamentável!!

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