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Noé

publicado em:12/04/14 12:23 AM por: Kamila Azevedo Cinema

Um dos herois mais conhecidos da Bíblia, a história de Noé está contida no Gênesis, primeiro livro do Velho Testamento, que fala, basicamente, sobre a criação do mundo como o conhecemos, bem como sobre a criação de Adão e a maneira como o ser humano, ao cair em tentação, iniciou um caminho que o levou à degradação e à maldade. O ápice do Gênesis é justamente um dos relatos mais emblemáticos da Bíblia, quando Deus, arrependido de ter criado o homem, decide subjugar a sua criação a um dilúvio de proporções épicas de forma a varrer toda a sua obra e recomeçar o mundo e, por consequência, a humanidade. Noé, um descendente da linhagem de Adão, foi o escolhido para fazer uma grande arca de madeira e abrigar nela, além da sua família, um casal de cada espécie animal existente, pois esses eram os únicos seres que viviam de acordo com a Criação.

Tal acontecimento é a premissa básica do épico dirigido e co-escrito por Darren Aronofsky. “Noé” retrata um mundo dividido entre a sombra/maldade e a luz/amor/medo. E tem uma história que, apesar das críticas de alguns grupos religiosos em relação à falta de verossimilhança com os relatos bíblicos, é o retrato fiel do Deus punitivo visto nos livros que compõem o Velho Testamento – uma imagem que contradiz muito com a figura de amor e de compaixão que temos do Senhor. A jornada de Noé, um homem visionário no sentido de ter sido o escolhido de Deus para uma missão muito difícil, é uma história de uma densidade emocional profunda, cujas peculiaridades são muito bem abordadas por Darren Aronofsky.

Ao ser o escolhido de Deus para garantir a preservação das espécies para o repovoamento da terra, Noé trouxe para si mesmo um peso muito grande. O peso de impor para a sua família as suas escolhas. O peso de impor para a humanidade em geral, mesmo que provida de uma maldade e egoísmo sem tamanho, as suas escolhas. Esse tipo de peso é algo que a pessoa carrega para a vida toda e a cegueira quase obsessiva e egoísta também de Noé visando cumprir o seu papel trará consequências que afetam não somente a ele mesmo, como também aos outros, especialmente aqueles de seu convívio mais próximo – a esposa Naameh (Jennifer Connelly); os filhos Shem (Douglas Booth), Cam (Logan Lerman) e Jafé (Leo McHugh Carroll) e a filha adotiva Ila (Emma Watson).

Porém, o lado mais interessante – e intrigante – de “Noé” é a forma como Darren Aronofsky estabelece uma metáfora que permeia boa parte dos 138 minutos de filme. Ela está contida naquela que é uma das mais brilhantes cenas vistas no cinema nos últimos anos. Com influências diretas de um dos momentos mais clássicos de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, longa de Stanley Kubrick, com o uso da excelente trilha sonora de seu colaborador habitual Clint Mansell, com um trabalho de edição competente de Andrew Weisblum, em poucos minutos, Aronofsky mostra a evolução da violência na humanidade. E é justamente esse o momento “eureka” de “Noé”. O filme não fala sobre um acontecimento bíblico, nem faz um confronto entre as visões criacionista e evolucionista – apesar de tudo isso estar presente na obra. O longa tem o propósito de discutir a violência humana, seja aquela praticada de homem para homem, seja a de marido para mulher, seja a de pai para filho, seja a de homem para mulher, seja a de irmão para irmão, seja a física ou a psicológica… É o exemplo perfeito de como a humanidade, espécie passível de falhas e em constante evolução, ainda tem muito a aprender.



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Comentários


quando vi o trailer de Noé e soube que o diretor era Aronofsky minhas expectativas ficaram lá no alto. após ler alguns textos elas diminuíram um pouquinho, agora com a descrição dessa cena influenciada por 2001 elas voltaram a subir! haha

ainda não tive a oportunidade de assistir… talvez vai ficar para dvd/blu ray

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Bruno, pois é, Aronofsky sempre carrega muitas expectativas em torno dos seus filmes, mas acho que ele errou a mão em “Noé”. O filme tem alguns problemas, mas, no geral, acaba sendo uma boa obra. Esse momento é o mais brilhante do filme. Você verá quando o assistir.

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Eu gosto muito de Darren Aronofsky,é um daqueles cineastas que eu aguardo o próximo filme com expectativa.”Requiem” é um filme pertubador e original,”O Lutador” e “Cisne Negro” estão entre as minhas obras favoritas da década passada.Eu admiro “Noé” mas não mexeu comigo como as outras obras de Aronofsky.O filme é lindo visualmente,fotografia,montagem e direção de arte são dignas de nomeação ao Oscar.Russell Crowe está muito bem e Jennifer Connelly sofre da mesma síndrome de Charlize Theron e Leo Dicaprio,muita linda e tbm muito talentosa.Eu admiro o filme,é uma obra corajosa(e popular,pq quem não ouviu ou conhece a famosa história da arca de noé?(quando eu era criança minha mãe contava pra mim).Mas o filme não me envolveu emocionalmente(e levo isso em conta).Pretendo rever.Concordo com dois pontos da sua crítica:a montagem com a evolução do mundo que realmente remete “2001” e sua observação que o filme retrata sombra e maldade e a luz,amor e medo.

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De fato, o filme fala sobre a violência da humanidade, fala de luz e sombra, de possibilidades. Isso é interessante, mas achei que faltou uma construção melhor de Noé, algo que nos tornasse mais próximos do personagem, criando a empatia necessária para um envolvimento emocional. Acho que ficou tudo muito distante. De qualquer maneira, não é mesmo um filme ruim, longe disso.

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Paulo, concordo com você. “Noé”, apesar de bem realizado do ponto de vista técnico, não consegue envolver emocionalmente a plateia.

Amanda, exatamente. Porém, discordo de você. Acho que a figura de “Noé” foi bem construída. No entanto, também acho que o filme falha em nos envolver emocionalmente na história.

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Acho que me decepcionei imensamente com esse filme porque ele leva a assinatura do Darren Aronofsky, um diretor sempre muito autoral e de histórias fortes – e que aqui me pareceu raso e óbvio demais. Sinceramente, não vi razões para essa releitura da história de “Noé” e a única coisa que de fato ficou comigo desse filme foi a trilha do sempre brilhante Clint Mansell.

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Matheus, a trilha do Clint Mansell, sem dúvida, é um dos pontos mais positivos de “Noé”. No resto, o filme é muito irregular.

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