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Interestelar

publicado em:25/11/14 1:31 AM por: Kamila Azevedo Cinema

“Interestelar”, filme dirigido e co-escrito por Christopher Nolan, se passa num futuro que pode não estar muito distante de nós. Nele, o planeta terra foi completamente exaurido de boa parte de suas reservas naturais e as fontes de alimento, da mesma forma, estão escassas. As pessoas vivem sob uma nuvem constante de poeira que pode muito bem também ser uma metáfora utilizada pelo diretor e roteirista para nos mostrar o quão incerto é o destino da humanidade e a certeza da própria continuidade da espécie e da nossa existência.

É nessa realidade que Cooper (Matthew McConaughey) tenta criar seus filhos Murph (interpretada, nas diversas fases de sua vida, por Mackenzie Foy, Jessica Chastain e Ellen Burstyn) e Tom (interpretado por Timothée Chalamet e Casey Affleck) com a ajuda de Donald (John Lithgow), pai de sua falecida esposa, numa fazenda cuja especialidade é a plantação de milho. Um detalhe importante a ser notado em Cooper é que, no passado, antes do planeta terra ter entrado na sua decadência, ele foi treinado pela NASA como piloto de naves espaciais.

É justamente essa qualidade particular de Cooper que será fundamental para que ele se junte a um grupo de astronautas – Brand (Anne Hathaway), Doyle (Wes Bentley) e Romilly (David Gyasi) – numa missão cujo objetivo é verificar a existência de possíveis planetas que possam receber a população mundial, garantindo, desta maneira, a continuidade da espécie humana. Essa missão tem como base um trabalho que já está sendo desenvolvido por outros astronautas, todos mentes brilhantes, que já estão em determinados planetas verificando a possibilidade dos mesmos serem habitados por humanos.

Um dos pontos positivos do roteiros escrito pelos irmãos Jonathan e Christopher Nolan é o fato de eles terem inserido na história de “Interestelar” um elemento que é fundamental para o sucesso de qualquer filme: compaixão – aquele sentimento que nos faz sentir empatia com os seres que estão em tela, de forma a nos colocarmos no lugar deles e nos sentir parte daquela história. Tome-se como exemplo, a storyline de Cooper, que é muito poderosa, no sentido do sacrifício que ele faz em prol da garantia do futuro dos seus filhos – a quem ele nunca mais poderá ver, caso a sua missão termine de uma maneira errada.

Entretanto, isso não é fundamental para a experiência que é “Interestelar”, o qual é mais um dos filmes em que os irmãos Nolan introduzem uma série de conceitos interessantes que contribuem para o chamado “cinema inteligente” que eles praticam. Eles não facilitam a vida para a plateia, uma vez que, para compreender tudo aquilo que eles querem passar, será necessária uma boa dose de atenção, bem como várias visitas a esse filme.

Nós, seres humanos, estamos bem mais familiarizados com duas dimensões: o tempo e o espaço. Isso, no sistema solar, não existe, uma vez que, ali, são várias as dimensões existentes – e todas convivendo entre si, ao mesmo tempo. “Interestelar” nos desafia a tentar compreender todas essas variáveis, de forma a que possamos ultrapassar todos os limites existentes dentro da nossa mente, abrindo um conjunto infinito de possibilidades de interpretação. Isso só é possível, pois o filme se passa num ambiente como o espaço sideral, onde a exploração não conhece fronteiras.

Neste sentido, esqueça, portanto, tudo aquilo que lhe falaram ou que você leu sobre “Interestelar”. Embarque nessa jornada de peito aberto, pronto para experimentar a viagem que Christopher Nolan nos propõe – se possível, muitas e muitas e muitas vezes, nos mais diversos tempos, nos mais diversos lugares e das mais diversas formas. Tenha certeza de que as portas para a percepção do que o filme se propõe a nos falar e a nos levar serão abertas.



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Comentários


Não sou tão otimista quanto você em relação ao filme, mas é uma bela obra, sem dúvidas. E acho que a relação entre pai e filha é um dos fortes da trama. Apesar de já ter tido momentos melhores é bom ver que Nolan não chega a realizar um filme medíocre.

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Amanda, por causa das críticas negativas, fui assistir “Interestelar” sem qualquer expectativa, e acho que isso foi ótimo pra mim. O filme não é maravilhoso, mas, com certeza, tem muito a dizer e acho que ele será mais apreciado com o tempo. Concordo que a relação entre pai e filha é o ponto mais forte da trama e isso que nos causa a compaixão que eu mencionei em meu texto.

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Kamila temos opiniões diferentes sobre “Interstellar” mais concordo com alguns pontos que você levantou na sua crítica.O primeiro é a questão da compaixão com os filhos e não posso negar que a menina Mackenzie Foy e Matthew McConaughey dividem bem a cena e mais tarde na conflituosa relação com o filho(Casey Affleck tem uma cena muito boa que ele não perdoa o pai).Não acho que Christopher Nolan trabalhe tão bem o lado emocional dos seus personagens,mas temos uma trama familiar intrigante antes da segunda metade do filme.Apesar que no aspecto narrativo o filme perde com a relação do protagonista com seus dois filhos.Eu preferia um filme mais intimista como “Gravidade” de Alfonso Cuaron,com um protagonista que perto da morte se confronta com seus demônios,eu queria que Matthew tivesse a relação com Anne Hathaway parecida com a que Sandra bullock teve com Clooney no filme de Cuaron.Eu queria imaginar seus filhos e não visualizar uma discussão familiar via espaço.O filme perde muita força aí,estamos envolvidos com a descoberta do espaço e Nolan não sabe controlar a narrativa entre as duas coisas.O elenco é ótimo com vencedores do oscar como Matt Damon,Ellen Burstyn(um patrimônio vivo do cinema),Matthew Mcconaughey,Anne Hathaway e Michael Caine.Os indicados Jessica chastain,Casey Affleck e gostei da oportunidade que Nolan deu a wes bentley e Toper Grace.O elenco é grande e só mathhew mcconaughey e anne Hathaway sustentaria a história.E como você mesmo disse a discussão em torno do conceitos espaciais que não me agradou e a redundância dessas cenas me irritou um pouco.Parece que Christopher Nolan dúvida da capacidade intelectual dos cinéfilos.Stanley Kubrick jamais faria isso.

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Paulo, para mim, o ponto mais positivo do filme é a forma como Nolan trabalha o relacionamento entre pai e filha, porque isso é que move a trama de “Interestelar”. De uma certa maneira, concordo com sua visão sobre o filme, especialmente sobre a falta desse lado mais intimista e sobre a falta de uma abordagem maior da interação dos astronautas e do relacionamento que poderia surgir entre eles. Acho injusto e impróprio comparar Nolan com Kubrick. São dois cineastas de estilos e qualidade BEM diferentes.

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Como você disse, Kamila, o tempo vai julgar o filme. Gosto de muita coisa no filme; outras me incomodaram um pouco. Mas saí chapado da sessão e pensei no filme por um bom tempo, então isso só pode ser positivo.

Bjs!

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