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Resenha Crítica: “A Queda! As Últimas Horas de Hitler”

publicado em:26/09/15 12:43 AM por: Kamila Azevedo DVD

Alguns países possuem uma mancha na sua história. Algo pelo qual seus habitantes se sentem culpados, mesmo sem terem tido participação direta no acontecimento em questão. O Brasil, por exemplo, lamenta a escravidão que impôs aos negros vindos da África e que ajudaram a construir a cultura do país. No entanto, tal sentimento de culpa ganha outra dimensão na Alemanha. Os alemães – até hoje – se sentem culpados pelas crueldades cometidas (especialmente contra os judeus) pelo regime nazista liderado por Adolf Hitler.

O nazismo é, ao mesmo tempo, um tabu e um mistério na Alemanha. Ninguém entende como um povo tão culto como o alemão aceitou tão facilmente o domínio ideológico e político de Adolf Hitler. Ninguém entende como os atos de crueldade cometidos pelo führer e sua equipe de comando passaram tanto tempo despercebidos pelos alemães (que só ficaram sabendo do ocorrido durante o Julgamento de Nurenberg, que condenou diversas autoridades do regime nazista após a II Guerra Mundial). Ninguém gosta de relembrar ou de falar sobre esse período na Alemanha. Por essa razão, causa surpresa a existência de um filme como A  Queda! As Últimas Horas de Hitler, do diretor Oliver Hirschbiegel, filme que foi indicado ao Oscar 2005 de Melhor Filme Estrangeiro.

O filme se propõe a apresentar um lado – até então – desconhecido do fim da II Guerra Mundial: como foram os últimos dias de Adolf Hitler no poder, quais eram os seus pensamentos e os da sua equipe de militares e, principalmente, o que ele e os que o cercavam estavam sentindo naquele determinado momento. Como a maioria dos que estavam presentes naqueles dias está morta, Oliver Hirschbiegel tomou os depoimentos da Srta. Junge, a secretária particular de Hitler, como base para o roteiro do filme – o que confere ao mesmo um caráter documental.

A Queda! As Últimas Horas de Hitler não tem como objetivo humanizar Adolf Hitler. Oliver Hirschbiegel não quer que sintamos pena, ódio, repulsa ou indignação. Nada que o diretor tenha mostrado na tela irá nos surpreender. Esperávamos tais atitudes de um ditador como ele. O que choca, no entanto, é ver até que ponto o seu lunatismo influenciou os outros, como na cena em que a Sra. Goebbels (com a conivência do marido) assassina seus cinco filhos, pois não admite que eles vivam numa Alemanha sem o nacionalismo-socialista implantado pelo Tio Hitler.

Oliver Hirschbiegel começa e termina seu filme com duas afirmações da Srta. Junge; ambas relacionadas ao sentimento de culpa dos alemães pelo regime nazista. Entretanto, o filme – pelo menos para mim – teve um efeito contrário: ele exorciza os alemães desse sentimento, ao mostrar que eles foram tão vítimas de Adolf Hitler quanto os judeus. Hitler abandonou seu povo, o culpou nos momentos finais e os deixou à mercê de seu louco exército. Não perceber o mal que o führer fez não é nenhum problema. Também não se pode reverter aquilo que já foi feito. O importante é viver, aprender e não repetir os erros do passado. Os alemães já pagaram muito pelos erros dos outros. Está na hora de eles abandonarem o passado e se apegarem ao futuro. O difícil é fazer isso quando são muitas as pessoas (e um povo todo – o judeu) a relembrá-los de tudo o que aconteceu naqueles anos obscuros.

A Queda! As Últimas Horas de Hitler (Downfall / Der Untergang, 2004)
Direção:
Oliver Hirschbiegel
Roteiro: Bernd Eichinger (baseado no livro escrito por por Joachim Fest, Traudl Junge e Melissa Müller)
Elenco: Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara, Corinna Harfouch, Ulrich Matthes, Thomas Kretschmann, Juliane Köhler



A última modificação foi feita em:novembro 23rd, 2017 as 12:18 am


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Comentários


O Nazismo é uma mancha da humanidade e o que assusta mais é que Hitler foi colocado nesse posto de forma democrática.Você foi feliz quando diz -“Ninguém entende como um povo tão culto como o alemão aceitou tão facilmente o domínio ideológico e político de Adolf Hitler”- é bem isso mesmo,me lembrou do filme “O Leitor” de Stephen Daldry que o protagonista se vê envolvido com a alemanha do nazismo(Kate Winslet) e o país pós queda do muro.Sobre a “A Queda! As Últimas Horas de Hitler” é um filme que assisti uma vez mas mexeu muito comigo.Me recordo de dois momentos especificos:

1-Hitler em um porão esperando a iminente morte,em uma cena cheia de clímax e tensão(e vale ressaltar o diretor Oliver Hirschbiegel em nenhum momento nos faz torcer por ele)

2-A atuação de Bruno Ganz que está perfeito como Hitler.Pena que ele não conseguiu uma nomeação,mas 2005 foi um grande ano de atuações masculina(Philip Seymour Hoffman “Capote”,Viggo Mortensen “Marcas da Violência”,Joaquin Phoenix “Johnny e June”,Ralph Fiennes “O Jardineiro Fiel”,Bill Murray “Flores Partidas”…enfim Ganz merecia uma nomeação,mas a concorrência era forte.

Esse é um dos mais brilhantes retratos de Adolf Hitler e o mérito da direção é não humanizar ele.

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Paulo, para mim, a atuação de Bruno Ganz nesse filme, além da direção monstruosa de Oliver Hirschbiegel, são os grandes destaques de “A Queda!”. Eu concordo que um dos maiores méritos do longa é não humanizar Hitler e gosto do caráter documental da obra.

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Me interesso muito por história, especialmente pela da 2ª guerra mundial, e esse é para mim um dos melhores filmes sobre o tema. Gostei muito da sua crítica, e acho que o mais interessante do filme, por ser um relato fiel da história, é o ambiente de tensão e temor pelo destino de cada um, e a incrível submissão incontestável dos presentes ao louco que levou o país a total destruição. Mas discordo completamente que o povo alemão tenha sido tão vítima de Adolf Hitler quanto os judeus.

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Claudio, obrigada pela visita e por ter colocado seu ponto de vista sobre o filme aqui. Quando eu falo sobre o povo alemão ter sido tão vítima de Hitler quanto os judeus, me refiro ao fato de que ninguém esperava que ele fosse exercer o poder da maneira que ele exerceu.

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