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Coringa | Resenha Crítica

publicado em:23/10/19 2:42 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Seja na pele de Jack Nicholson ou de Heath Ledger (pra citar somente algumas das atuações mais célebres e icônicas desta personagem), até Coringa, filme dirigido e co-escrito por Todd Phillips, a verdade é que a história deste vilão só nos havia sido apresentada de forma coadjuvante, como um suporte para um relato maior: o do grande heroi da cidade de Gotham, o Batman.

Em Coringa, temos, não só uma história totalmente centrada em Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), o homem por trás deste vilão, como também podemos dizer que o roteiro escrito por Todd Phillips e Scott Silver se propõe a fazer um grande estudo de personagem, enfatizando, principalmente, a transformação de um homem aparentemente comum em um sujeito repleto de psicopatia; e fazendo um diagnóstico preciso da sociedade de Gotham City, naquela época, a qual era formada por pessoas tão doentes e tão inseridas dentro de si mesmas, que elas não conseguiam enxergar quem estava ao seu redor e que estes seres também estavam tão doentes quanto elas.

Para o entendimento de Coringa, é importante compreendermos o contexto no qual o filme se passa. Em 1981, Gotham City vivia uma onda de violência e de levantes populares contra os problemas mais graves da cidade – quase num embate entre as camadas mais ricas e as camadas mais pobres da população. Arthur Fleck se insere nesta conjuntura de uma forma quase passiva e observadora.

Seu status muda para vítima quando ele sofre um ataque de violência. A partir deste acontecimento e do recebimento de um “presente” (uma pistola) por um colega de trabalho, Arthur, revestido de coragem, decide, quase que involuntariamente, que é o momento de reagir. É aqui que começa a transformação dele no ser psicótico e doente que é o Coringa.

A mudança de Arthur para Coringa nos é passada de forma magistral pela atuação de Joaquin Phoenix. Por meio de sua performance e, particularmente, de uma cena bastante emblemática (a da dança na escadaria), podemos perceber a fragilidade de Arthur cedendo cada vez mais espaço ao lunatismo; à falta de racionalidade, de empatia e de sentimento que o Coringa possui. É quase como se ele estivesse se sentindo livre pela primeira vez!

Há que se destacar também o trabalho de Todd Phillips como diretor. Com muita sutileza, ele consegue nos mostrar, em paralelo ao que ocorre com Arthur Fleck, como que a sociedade também tem uma parcela de “culpa” no surgimento de um caos como o que o Coringa representa. Como encaramos, como recebemos, como tratamos uma pessoa com sérias doenças mentais? Qual o nosso papel diante das injustiças diárias e o que podemos fazer para evitá-las? São perguntas que Todd Phillips nos incute a refletir durante o seu filme. Quando teremos as respostas a elas? A julgar pelo que assistimos dentro e fora das telas, ainda demoraremos muito para compreender o que fazer – se é que um dia teremos essa compreensão…

Coringa (Joker, 2019)
Direção: Todd Phillips
Roteiro: Todd Phillips e Scott Silver (tendo como base as personagens criadas por Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson)
Elenco: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy, Brett Cullen, Shea Wigham, Bill Camp

Avaliação/Nota

Nota
9.0

Média Geral



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Jornalista e Publicitária


Comentários


é claro que essa magistral atuação do Phoenix é extremamente marcante, mas o Todd Phillips merece mesmo todos os elogios. Acho até surpreendente um filme desse nível feito por um cara que dirigiu uma comédia do tipo Se Beber Não Case.

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brauns, tenho uma máxima: não existe diretor ou ator ruim, existe diretor ou ator sem roteiros bons! rsrsrsrs Todo mundo tem talento e tem capacidade, basta que tenham uma história boa para contar.

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Será um pecado se a AMPAS esnobar Joaquin Phoenix.Digo isso pelo fato dele ser avesso a campanha em temporada de premiações.”Joker” consegui discutir com muito aprofundamento as questões envolvendo saúde mental(vejo ate uma denuncia ao descaso dos governantes,na figura da assistente social) e tem um tom solitário que me lembrou “Táxi Driver”(meu filme favorito).Estou na torcida por Joaquim Phoenix que merece a estatueta.Por que se ele não levar agora,corre o risco da academia nao o reconhecer pelo filme certo,como ocorreu com Edward Norton que merecia por “A Outra História Americana” e sequer foi nomeado por “Clube da Luta” e ” A Última Noite”,e injustamente nunca foi reconhecido com uma estatueta.

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Paulo, não acho que a Academia irá esnobar o Joaquin, até porque ele tem se empenhado na divulgação de “Coringa”, fazendo diversas capas de revistas e dando algumas entrevistas, principalmente nos talk shows americanos. Acredito que ele é o grande favorito para o Oscar 2020 de Melhor Ator.

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Ahh Kamila, gostei do filme, mas acho que ele perdeu uma grande oportunidade no final, ele começa bem revelando como funciona a cabeça desse psicopata, continua quando começa um discurso mostrando-se vitima da sociedade, mas se perde com a entrega a loucura no final.

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Cassiano, me permita discordar um pouco. Essa evolução no caráter do personagem era esperado, pelas opções narrativas que o diretor fez. Como enxergo este filme como um grande estudo de personagem, acho que essa evolução fica bem dentro desse propósito.

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