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>O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, Pan’s Labyrinth, 2006)

publicado em:2/12/06 7:57 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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Muito já se foi discutido aqui sobre a última estratégia da indústria cinematográfica de Hollywood: convidar roteiristas e diretores estrangeiros para fazerem filmes nos Estados Unidos. No entanto, existe um outro fenômeno ocorrendo com certa freqüência no cinema: a volta de diretores aos seus países de origem para fazer filmes. Isso aconteceu, em 2001, com o cineasta mexicano Alfonso Cuarón e seu “E Sua Mãe Também”; e, em 2002, com o diretor australiano Phillip Noyce e seu “Geração Roubada”. Nos dois casos, os filmes foram recebidos pela crítica com aclamação e deram outro gás às respectivas carreiras de ambos os diretores.

Se formos prestar atenção na lista de filmes submetidos à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para a categoria de melhor filme estrangeiro, veremos outros dois nomes conhecidos que fizeram essa transição de volta para casa: o do diretor holandês Paul Verhoeven (com o filme “Black Book”) e o do diretor mexicano Guillermo Del Toro (com “O Labirinto do Fauno”). Este último fez carreira nos EUA ao realizar estilosos filmes de ação baseados em personagens de histórias em quadrinhos como “Blade – O Caçador de Vampiros”, “Blade 2” e “Hellboy”. Com “O Labirinto do Fauno”, Del Toro mostra que continua estiloso e violento, mas, ao mesmo tempo, ele oferece um lado suave, pois seu filme tem muitos elementos advindos dos contos de fadas.

Explico: no início de “O Labirinto do Fauno”, somos apresentados ao conto de uma princesa que vivia em um mundo triste e obscuro. O sonho dela era conhecer o mundo real. Ao conseguir encontrar a luz produzida pelo mundo real, a princesa vê o seu passado ser apagado de sua memória. Ela morre e deixa a esperança no seu pai de que, um dia, ela irá reencarnar em um outro ser ou sob outra forma.

Em seguida, conhecemos a história da menina Ofelia (Ivana Baquero) que, assim como a princesa do conto de fadas, vive num mundo obscuro (a Espanha do regime de Franco). Sua mãe (Ariadna Gil) está casada e grávida de um capitão do regime (Sergi López, numa excelente performance). As duas estão indo ao encontro dele no seu quartel-general (uma casa nas montanhas). Ofelia guarda ainda uma outra semelhança com a princesa: ela sonha com o mundo que só conhece através dos livros que lê.

Logo logo, o mundo fantástico que Ofelia só conhecia através dos livros irá invadir a sua vida real. Os seres do mundo da princesa acreditam que a garotinha é a reencarnação da menina falecida e começam a passar tarefas, de modo que Ofelia possa provar que pode assumir o lugar da princesa ao lado de seu pai. Essa história vai ao segundo plano quando Ofelia começa a perceber que o seu mundo real é ainda mais complicado e precisa de consertos urgentemente. É a partir desse momento que a platéia irá assistir a um filme tenso, violento e cheio de sub-tramas (como a que coloca Mercedes – interpretada por Maribel Verdú, de “E Sua Mãe Também” –, a empregada do capitão, como informante de um grupo de resistência ao regime franquista) que, em nenhum momento, prejudicam o desenvolvimento da trama principal.

“O Labirinto do Fauno” é o melhor filme realizado por Guillermo Del Toro (que, além de assinar a direção, fez o roteiro e a produção da película). A execução dele é praticamente perfeita – com destaque para a fotografia de Guillermo Navarro, a trilha de Javier Navarrete e a direção de arte de Eugenio Caballero. O filme tem uma moral belíssima e prova que se pode abordar assuntos delicados se apelando para a fantasia. Só nos resta ver se esta visão de Del Toro não é um pouco arrojada demais para a Academia, pois este é um filme que merece reconhecimento.

Cotação: 8,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies



Jornalista e Publicitária


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