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>O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006)

publicado em:23/01/07 10:03 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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Em 1970, o Brasil estava quase no final de um período que ficou marcado na sua história e que ganhou o nome de Milagre Econômico. No entanto, o otimismo em relação ao progresso estava somente restrito ao plano econômico, tendo em vista que o país ainda vivia em meio à repressão e à censura do regime da Ditadura Militar. É neste contexto histórico que se desenrola a trama do filme “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, do diretor Cao Hamburger.

Mauro (o estreante Michel Joelsas), que vivia com sua família em Belo Horizonte, provavelmente estava por fora de tudo isto que estava acontecendo. Para ele, o fato mais importante do ano era a realização da Copa do Mundo de 1970, no México. O garoto recebe até com muita resignação e sem fazer muitos questionamentos a notícia de que seus pais vão tirar umas “férias prolongadas” (eles eram militantes contra a ditadura e precisavam sumir por um tempo) e que ele vai ficar em São Paulo, no bairro do Bom Retiro, na companhia do avô paterno (uma participação especial de Paulo Autran).

O mundo que Mauro encontra no bairro do Bom Retiro é completamente diferente daquele que ele conhecia. O bairro, que é habitado por famílias de origens judaica e italiana, tem muita gente idosa, alguns jovens e poucas crianças. Mauro vai experimentar ali muita solidão, a qual será agravada quando o seu avô falecer e quando ele não conseguir se adaptar muito bem à pessoa de Shlomo (o excelente Germano Haiut), que acolhe o menino em sua casa e inicia uma busca pelos pais dele.

O que é mais interessante no filme de Cao Hamburger é acompanhar a transformação, o amadurecimento de Mauro. Aos poucos, ele deixa de ser o menino inseguro que passava os dias ao lado do telefone esperando a ligação dos pais e começa a aproveitar a vida, a brincar, se encontrar e descobrir quem ele é e o que ele pretende fazer. Tudo isso, tendo como pano de fundo a Copa de 1970 e o brilhantismo daquele time, que parava o país e unia todos – não importando raça, sexo, classe e crenças – numa só voz.

Quando a gente fala sobre o cinema brasileiro, uma reclamação parece constante: os roteiros da maioria dos filmes são pobres e chegam – em alguns casos – a fazer sentido só para nós brasileiros. Poucos filmes produzidos no país têm uma mensagem universal, que pode chegar a qualquer lugar do mundo e encontrar uma identidade. “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” é um desses filmes de valor universal. A sua simplicidade é somente um dos elementos que o transforma numa experiência única, mas o seu maior ponto forte é a capacidade de contar uma história que tem ressonância em qualquer pessoa, em qualquer lugar. Filmes como esse deveriam ser regra em nossa indústria, e não exceção.

Cotação: 9,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema



Jornalista e Publicitária


Comentários


>Kamila, no Bloggers Awards valem só os filmes que foram lançados no Brasil em 2006, ok?!
Independente se você viu em 2007 nos cinemas, se o dia de lançamento foi em 2006 tá valendo!

Bejus!

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>Oi Kamila! Belo texto, como sempre!Ainda não vi esse filme… Tem um cliente aqui na assessoria que é um dos patrocinadores de O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS, mas ninguém me deu convite… aí naquela correria para ver o que sai de enlatado, eu perdi o Cao Hamburguer… Falha minha, mas me comprometo a corrigi-la em breve.

Bjs!

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>Romeika, respeitando a sua “opinião fílmica” (esse termo existe???), achei Babel melhor que 21 Gramas. Aliás, não acho que seja uma trilogia, andei lendo isso em resenhas de revistas e não concordo. Enquanto que 21 Gramas é a “poesia da morte”, Babel é a “poesia da bagunça”.

bjo!

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>Nesse caso, Victor, acho que te enviarei nesta semana mesmo minha lista de votação.

Otávio, corrija urgentemente esta falha. “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” é um filmaço.

Beijos.

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>Um filme lindo, bem construído e, felizmente, reconhecido no festival de Berlim. Uma das melhores coisas que o cinema nacional produziu nos últimos tempos.

P.S: crítica da semana em claquete (http://claque-te.blogspot.com): Déjà Vu, de Tony Scott.

Abraços do crítico da caverna.

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>Assisti esse filme esperando nada, e ele me surpreendeu..Foi simplesmente um dos melhores filmes que vi no cinema. Sei que pode parecer exagero mas é mto bom mesmo. Ótima critica, Kamila…
,
Beijoooos

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>Kamila, hoje a noite, lá pelas oito, eu publico o seu “Preview” sobre Eu nunca serei sua mulher. O trailer é muito engraçado e acho mesmo que vai ser um grande filme-despretensioso desse ano.

bjo!

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>kamila, acredite, eu gostei muito do trailer. Acho que porque usei a expressão “clichê” no texto você deve ter pensado que não gostei muito. O trailer é impagável, mas as comédias românticas (a maioria) sempre têm alguma coisa de repetitivo. Mas estou querendo muito conferir esse filme – isto é, se ele estrear por aqui…

Ah, em Goiânia, as estréias da semana foram A Grande Família e Perfume. Babel estreou por aí?

bjo!

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>Túlio, as estréias da semana aqui foram “Babel”, “A Grande Família” e “Perfume”. Gostaria de poder assistir ao primeiro e último filme, mas, infelizmente, não poderei assistir e não sei se, quando eu puder, eles ainda estarão em cartaz.

Beijo.

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>Vou corrigir isso sim, Kamila! Obrigado pela dica. Já descobri uma sala que ainda está exibindo o filme aqui em SP.

Bjs e bom final de semana!

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>Puxa, aqui em Goiânia vai estrear uma mostra esquizofrênica que vai exibir o primeiro filme do Lynch, acho que chama Easerhead… pena que a sessão começa às 0h30 (por isso é que é esquizofrênica).

Grande final de semana pra você, Kamila.

Beijo!

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>Aqui em Natal, nesta semana, vai ter um festival de filmes cult, só com aquelas podreiras de filmes de terror. A mostra vai ser aberta com um dos filmes do Zé do Caixão.

Beijo e bom final de semana para você também!

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