>Infância Roubada (Tsotsi, 2005)
>
As semelhanças entre “Cidade de Deus” e “Infância Roubada” não param por aí. Os dois filmes têm como personagens principais garotos que possuem uma vida sofrida desde muito cedo: ou cresceram em ambientes familiares desintegrados, ou foram criados em lares abusivos. Ao mesmo tempo, as tramas de ambos os filmes mostram que optar pela vida na criminalidade não é uma escolha covarde, e sim, em muitos casos, é a única saída que aqueles meninos possuem.
No caso particular de “Infância Roubada”, o roteiro do filme acompanha seis dias na vida de Tsotsi (Presley Chweneyagae, excelente), um jovem que, na companhia de seu grupo, obtém seu sustento através de pequenos roubos que faz em metrôs e residências. Quando encontramos Tsotsi, percebemos que ele está passando por uma fase de muita intolerância com suas vítimas – nunca se sabe se elas sairão vivas ou mortas dos “encontros” com o jovem. É justamente este pânico e nervosismo que Tsotsi apresenta frente às suas vítimas que vai acabar fazendo com que ele, após furtar o carro de uma mulher, não perceba que, no banco de trás do veículo, se encontra o filho recém-nascido dela. O que se segue a este acontecimento é uma jornada pessoal de Tsotsi – a qual o diretor Gavin Hood apresenta de maneira criativa, alternando flashbacks, com o tempo presente – em que ele reencontra, dentro de si, a esperança e o amor que andavam escondidos debaixo de tanta dor e revolta.
Baseado no livro do aclamado autor Athol Fugard, “Infância Roubada” ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2005, além de vários prêmios da crítica por um retrato contemporâneo da vida de jovens, que, repito, estão na África do Sul, mas poderiam ser encontrados em qualquer lugar do mundo subdesenvolvido. O trabalho executado pelo diretor Gavin Hood é impressionante – e é notado, especialmente, na última cena de “Infância Roubada”, que tem que ser uma das mais bem escritas, dirigidas e atuadas dos últimos anos.
Cotação: 10,0