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Garapa

publicado em:2/07/09 9:50 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Apesar de ser um dos Estados mais belos do Brasil e de ter uma das economias mais fortes da região Nordeste, o Estado do Ceará possui um dos piores índices de desenvolvimento humano (medida comparativa que envolve três índices: riqueza, educação e esperança média de vida). Muito em parte por causa do clima semi-árido e das secas que assolam constantemente o Estado. Entretanto, é importante lembrar que este não é um problema restrito do Ceará. A questão da fome, da falta de oportunidades e de crescimento pessoal é um problema crônico do nosso país, assim como a corrupção. 

O diretor José Padilha, em sua curta carreira como diretor de documentários e de filmes de ficção, parece ser um verdadeiro obstinado em tentar compreender as razões por trás de alguns dos problemas mais sérios de nossa sociedade. Com “Garapa”, documentário que ele apresentou no último Festival de Cinema de Berlim, ele acompanha o cotidiano de três famílias cearenses (duas delas moram no sertão do Estado, enquanto uma mora na capital, Fortaleza) que possuem algo em comum: todas lutam para sobreviver e para ter o que comer. 

Rosa, Robertina e Lúcia são as matriarcas das três famílias. São elas as responsáveis pela produção do alimento de seus maridos, filhos e, em alguns casos, agregados. A câmera de José Padilha nos mostra que elas são o eixo familiar (os maridos delas aparecem sempre parados e, em alguns casos, bêbados e conformados demais para terem forças para lutar contra o que vivem todos os dias) e que correm atrás de soluções e que improvisam diante da realidade nas quais estão inseridas. Através do acompanhamento da realidade destas moças e suas famílias, vemos que o problema da fome é somente o ponto de partida para que “Garapa” aborde elementos que contribuem para tal situação, como a questão do emprego, do planejamento familiar, da responsabilidade pessoal de cada um e dos programas políticos de cunho assistencialista – leia-se Fome Zero e Bolsa-Escola. 

O nome Garapa se refere à mistura de água fervida com açúcar que é servida por Rosa, Robertina e Lúcia aos seus filhos na falta de alimentos que formam a cesta básica de qualquer brasileiro. O documentário de José Padilha, infelizmente, não acrescenta nada do que a gente já não sabia sobre a situação da fome no Brasil, mas fica como um importante e lúcido registro – especialmente no que diz respeito às vidas de Robertina e Lúcia. Durante o documentário, vendo a vida dessas duas mulheres, que possuem iniciativa e se viram com o pouco que tem, não consegui manter a mesma imparcialidade e “frieza” do diretor diante do seu objeto de estudo. Senti vontade de ajudá-las… Pena que não podemos fazer isso com todos que se encontram na mesma situação.

Cotação: 8,0 

Garapa (2009)
Diretor: José Padilha



Jornalista e Publicitária


Comentários


Kamila, tem um selo pra ti lá no meu blog. Possivelmente tu já tenhas recebido ele, portanto considere-o como um dupla confirmação do teu talento, rs.

ps: Não vi ainda esse documentário do José Padilha mas me disseram que ele é bem polêmico. Confere?

abs.

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Nossa, que coisa triste deve ser este filme. Deve ser uma agonia ver tal sofrimento humano assim, analisado e documentado friamente, mas as vezes eh de um relato lucido assim que precisamos. Admiro demais o cinema do Jose Padilha, gostaria muito de ver este filme.

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Interessante: com tanta badalação em cima do Padilha depois de Tropa, ele dá preferencia a um documentário.

Vou engrossar o coro: gostaria muito de ver este filme. [2]

Abs!

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Charles, obrigada. Verei lá. Não achei esse filme polêmico. Achei triste de ver que a gente ainda tem esse tipo de realidade em nosso país. Abraços!

Romeika, eu também admiro muito o Padilha e espero que ele continue documentando os problemas de nosso país.

Bruno, e assista ao filme, especialmente se gostas do cinema do Padilha. Abraços!

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Olá Kamila

Deve ser um documentário bastante interessante, mas bem triste também. Como pode um país tão rico como nosso ainda ter gente passando fome e sede. As vezes a gente fica chocado vendo imagens da África, porém não nos damos conta que no sertão nordestino a situação das famílias que moram lá são bem parecidas com as famílias africanas.
PS: dediquei alguns selos a todos os blogs que eu acompanho, inclusive o seu =D

Bjos e até mais.

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é realmente lamentável toda essa situação que o papis se instalou, uma vez que os governantes parecem ser os únicos a não verem essa triste realidade, o sertão, seja do Ceará, seja daqui de Pernambuco (que não muda nada com o da terra de Iracema) é a seca e a fome que assola.
Vários documentários já retrataram com fidelidade essa questão, e eu cheguei em um ponto que deixo de vê certas coisas (filmes, noticias e documentário) para não me sentir mais imparcial e sem poder do que já sou..
até que as atitudes mudanas mudem, nada vai mudar.

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Mandy, um pouquinho!

Altieres, exatamente. O sertão nordestino é quase uma África, guardadas às devidas proporções. E, pior: ninguém olha por eles também! Beijos!

Luís, faço minhas as suas palavras…

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Problemas como esses acontecem em qualquer lugar do Brasil, mas, posso te garantir que o Maranhão e o Piauí sofrem mais. Para citar um exemplo, aqui no MA tem criança que almoça farinha, água e sal, e seus pais estariam felizes da vida ganhando salário de R$ 25 por mês.

BEIJOS

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Conteúdo interessante… Presumo que eu, como cearense, não deva deixar de conferir o trabalho de Padilha. É triste, mas é um problema que há solução (?). Espero que as autoridades pousem os olhares sobre a fome, esse problema que acaba sendo responsabilidade de todos… Abraço!

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Pois é. José Padilha me surpreendeu com Ônibus 174, mas não me conquistou com o Tropa de Elite. Até tenho uma curiosidade por ver Garapa, tentarei ver.

No mais, gostaria de te parabenizar pelo blog e dizer que já te linkei lá no meu. Te convido também para visitá-lo. Continue assim e pode ter certeza que voltarei mais vezes.

Diego
(http://www.blogcinemania.blospot.com)

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Brenno, mas essa é a mesma situação das famílias de “Garapa”. Quando se tem fome, não existe situação melhor ou pior. O que se precisa é fazer com que estas famílias não sintam a fome, para começar. Beijos!

Rafael Moreira, é um problemas que esperamos ter solução. Abraços!

Diego, obrigada. Te visitei, tentei fazer comentário, mas não consegui.

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Olá Mayara, tudo bom?

A Patrícia tentou entrar em contato recentemente com você a respeito de um projeto e queria lhe avisar que eu estou no projeto também.
Gostaria de ter um contato sobre o projeto com você.
Será que você poderia me retornar por telefone ou por email?
Aguardo retorno.

Um abraço

Fred Conti

Responder

Olá Kamila, tudo bom?

Desculpa a troca de nome, ocorreu um pequeno engano aqui.
Gostaria de ter um contato sobre o projeto com você.
Será que você poderia me retornar por telefone ou por email?
meu email é fred@ichimps.com.br
e meu telefone é (11) 2925-0700
Aguardo retorno.

Um abraço

Fred Conti

Responder

O tema já não me interessa tanto (por ser exaustivamente mostrado no cinema nacional), mas parece que é tratado de forma diferente nesse “Garapa”. Sem falar que o José Padilha é um ótimo diretor…

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Fred, eu me lembro do contato. Agradeço o convite, mas não tenho interesse em participar. Um abraço.

Vinícius, exatamente. E o José Padilha faz diferença nos projetos em que está envolvido.

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Olá, Kamila! Tudo bem?

A premissa me lembrou a história do livro “Vidas Secas”, que acaba indo no mesmo molde que a história de “Garapa”. Espero conseguir assistí-lo. 😉

Beijos!

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To a fim de ver desde que saiu no cinema. Assim que chegar à minha locadora, alugarei.

Beijos.

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Pedro, concordo! Abraços!

Mayara, tudo bem, obrigada. E com você? O filme tem muito de “Vidas secas”, especialmente da adaptação desta obra ao cinema. Beijos!

Renan, alugue mesmo. Beijos!

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Kamilla, você mesma enumera várias questões que o documentário trata e várias delas são novas formas de mostrar a situação dessas famílias e a relação de comodismo delas com relação aos programas do governo, que fica claro que não resolvem o problema da miséria no país. Cenas que não são mostradas com tal crueza pela tevê (os jornais mostram os fatos de maneira distante e romantizada). Isso, para mim, já acrescenta bastante ao debate sobre o tema.

Eu também não teria sangue frio para filmar essas famílias sem querer interferir na rotina delas. Mas era a única forma de o Padilha documentar tudo de maneira fiel ao cotidiano delas. Mas o próprio disse que depois de terminadas as filmagens, deu ajuda às três famílias.

A escolha de filmar no Ceará, também segundo ele, foi por questão de que surgiu a oportunidade e só, mas que poderia ter encontrado famílias na mesma situação em qualquer outro canto do país, o que é uma verdade e uma vergonha.

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Fred, eu não vi essa questão do comodismo, até porque duas das famílias não recebem os programas do governo. Eu não sabia que o Padilha tinha ajudado às três famílias após filmá-las. E concordo com sua parte final, infelizmente.

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