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Coração Vagabundo

publicado em:24/10/09 1:14 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Um dos mais celebrados cantores e compositores da música brasileira, Caetano Emanuel Viana Teles Veloso é o objeto central do documentário “Coração Vagabundo”, dirigido por Fernando Grostein Andrade (irmão do apresentador Luciano Huck). O interessante é que o filme não lança um olhar sobre toda a rica trajetória artística e pessoal do seu personagem principal ou das polêmicas nas quais Caetano se envolveu. Apesar de citar alguns momentos fundamentais da carreira de Veloso (como a discussão ocorrida no Festival Internacional da Canção, em 1968, quando “É Proibido Proibir” foi vaiada pelo público), o documentário joga seu olhar na turnê de divulgação do álbum “A Foreign Sound”, de 2004 – o primeiro CD totalmente em inglês feito pelo cantor, no qual ele oferece versões para alguns dos maiores clássicos da música norte-americana. 

Só por ter feito esta escolha, o diretor Fernando Grostein Andrade, de 28 anos, já mostra certa sabedoria, pois ele aborda aqui um tema que é bastante delicado, uma vez que muitas pessoas criticam Caetano Veloso por ele ser aberto demais, por ele gravar Peninha e Kurt Cobain; por ele não ter medo de assumir que faz, sim, música popular; por ele elogiar gente que não faz parte do que as pessoas consideram ser a elite do bom gosto musical. Neste sentido, em várias das intervenções que faz, durante “Coração Vagabundo”, Caetano Veloso dá a cara a bater, seja falando que a música norte-americana é a melhor do mundo, seja falando sobre a comida japonesa, seja falando sobre a sua insegurança em falar inglês. 

Uma outra escolha bastante sábia do diretor foi colocar, em seu documentário, imagens da turnê de Caetano em cidades que são uma representação fiel de um mundo cosmopolita e moderno: Nova York, Osaka, Kyoto e Tóquio. Ver Caetano nestas localidades, desbravando suas ruas e suas culturas, ao mesmo tempo em que ele mesmo está ali para mostrar a sua arte para pessoas que possuem o mínimo de contato com a cultura brasileira oferece margens para uma pequena constatação: a de que a música de Caetano é clássica, atemporal e reflete um desejo de seu próprio intérprete de ser alguém que ultrapassa as divisões geopolíticas e que faz algo que é inerente e tem apelo universal – apesar de Veloso, várias vezes, frisar o fato de que os caminhos são muito mais tortuosos para alguém como ele, que vem do Terceiro Mundo. 

“Coração Vagabundo” é um documentário que poderia ser resumido da seguinte forma: o diretor Fernando Grostein Andrade pegou sua câmera e a deixou rolando solta, pegando momentos genuínos de Caetano Veloso. O mais legal nisso tudo é que o cantor/compositor se sentiu totalmente à vontade com o diretor e a sensação que a gente tem, ao assistir o filme, é que Caetano está conversando informalmente conosco. E, como ele é um personagem interessante, tem muita coisa boa para dizer. Generoso é o diretor da obra que teve a chance de ter proximidade com esse cara e compartilhou isso conosco. Portanto, assistir a este documentário é uma experiência que deve ser aproveitada e apreciada. 

Cotação: 9,5

Coração Vagabundo (2008)
Diretor: Fernando Grostein Andrade
Roteiro: Giuliano Cedroni
Com os depoimentos de: Caetano Veloso, Pedro Almodóvar, Michelangelo Antonioni, Gisele Bundchen, Paula Lavigne, David Byrne



Jornalista e Publicitária


Comentários


Confesso que não sou um dos maiores fãs do artista (apesar de apreciar algumas de seus trabalhos), mas como adoro o gênero certamente devo conferir esse “Coração Vagabundo”.

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A escolha de documentar uma parte da vida do artista, em vez de fazer o lugar comum de doc biográfico, foi bastante feliz, o filme é gostoso de ver, com uma montagem rápida e coerente. O tempo passa e a gente nem percebe. Como você falou, uma experiência que deve ser aproveitada.

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Interessante a opção do diretor. Valorizada pelo seu olhar. Realmente, Caetano Veloso já rendeu muitas retratações( lisonjeiras ou não) em variadas mídias, mas poucas vezes buscou-se o que move o artista tão temperamental e abrangente. Ainda não vi o filme. Mas sua critica me estimilou.
Bjs

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Vinícius, espero que assista e goste do filme. 🙂

Amanda, exatamente. O tempo passa e a gente nem percebe enquanto está assistindo o filme. A experiência é super agradável.

Reinaldo, espero que assista ao filme. Beijos!

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Minha família inteira é fã de Caetano, desde a minha avó até a minha irmãzinha. Tenho certeza que esse filme será uma experiência incrível.

BEIJOS

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Poxa Kamila, esse seu texto me chamou bastante atenção. Amo música brasileira, adoro as músicas de Caetano. Fiquei curioso por esse documentário!

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Brenno, eu não sou fã do Caetano, mas apreciei demais o filme. Beijos!

Robson, espero que tenha a chance de assistí-lo!

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Não gosto do Caetano mesmo , não me desce em nenhum aspecto… mas, já vi docs de gente que não gostava e eles me agradaram rsrs

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Kamila,
assisti ao filme ontem em DVD. Concordo com tudo que disse e nos extras do DVD ainda temos algumas entrevistas que não foram para o documentário. Caetano puro e simples!

Bjo!

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