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2 Coelhos

publicado em:7/02/12 11:59 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Edgar (Fernando Alves Pinto), protagonista de “2 Coelhos”, filme que marca a estreia de Afonso Poyart na direção de um longa-metragem, é um homem movido pelo remorso por ter atropelado uma mãe e seu filho pequeno. Sendo que, ao contrário de Jack Jordan, personagem que Benicio del Toro interpretou no belo “21 Gramas”, longa dirigido pelo mexicano Alejandro Gonzalez-Inarritu, Edgar não parece se penitenciar por isso diariamente. Pelo contrário, ele aproveita a sua vida como o filhinho de papai que parecia ser: dirigindo seu carro importado e passando o dia assistindo a vídeos pornográficos na Internet e jogando seu videogame de última geração.

Na realidade, Edgar é somente um dos elementos traiçoeiros do roteiro escrito por Afonso Poyart e Izaías Almeida. “2 Coelhos” é um daqueles filmes repletos de camadas, que vão se desnudando aos poucos para a plateia. Nesse caso, as diferentes camadas são as pessoas que vão ser diretamente envolvidas pelo plano que será traçado por Edgar para, de certa maneira, encontrar a sua paz. A verdade é que, por trás daquele homem “vagabundo”, preso em uma adolescência eterna e totalmente estagnado na sua vida (já que ele não se interessa por estudo ou trabalho), existe alguém que é, de certa forma, revoltado com o sistema (notadamente, o judiciário – que permite manobras para que gente como ele, que cometeu um crime, nem pague por ele na cadeia; o politico – com sua corrupção; e o do crime – com suas regras próprias).

Portanto, no decorrer de “2 Coelhos”, o que assistiremos é a transformação de Edgar num justiceiro solitário, em alguém que usa as ferramentas que cada um desses sistemas pode lhe oferecer não para corrigi-los (ele não é tão inocente a esse ponto), mas para poder, de certa forma, dar uma lição neles e poder também, da mesma forma, pagar pelo que ele fez. Neste sentido, é muito importante perceber a forma como o diretor Afonso Poyart estrutura seu filme, com um belíssimo trabalho, não só de roteiro, como também com um competente trabalho de edição, que faz com que esse longa, guardadas as devidas proporções, tenha o estilo de um Guy Ritchie em “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” e um Quentin Tarantino em “Cães de Aluguel”.

Quando se fala em cinema brasileiro, é importante perceber que, muitas vezes, as críticas principais dizem respeito ao fato de que não fazemos muitas histórias universais, que tenham o mesmo apelo aqui e com o público externo, uma vez que o cinema nacional prefere retratar obras que nos ajudam a compreender a sociedade em que estamos inseridos, com problemas sociais que são inerentes ao nosso país. Felizmente, existem exceções como “2 Coelhos”, um filme que possui uma linguagem moderna, um roteiro instigante, uma edição ágil, atuações consistentes e um conflito central que tem esse tal apelo universal, uma vez que a jornada de Edgar já foi retratada em tantos outros filmes, das mais diversas cinematografias, com as mais diferentes abordagens narrativas.

Cotação: 8,5

2 Coelhos (2012)
Direção: Afonso Poyart
Roteiro: Izaías Almeida e Afonso Poyart
Elenco: Fernando Alves Pinto, Caco Ciocler, Marat Descartes, Djair Guiherme, Roberto Marchese, Aldine Muller, Alessandra Negrini, Robson Nunes, Thaíde, Thogun, Neco Villa Lobos



Jornalista e Publicitária


Comentários


Tb gostei bastante desse filme, um filme de genero de qualidade para o cinema nacional. Espero outros assim.

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É tão gratificante quando vemos um filme nacional de qualidade como esse, pena não ser constante e termos que esperar tanto tempo entre um e outro. Espero mesmo que esse ano seja um bom ano para o cinema nacional. Bjus.

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Confesso que quando vi o trailer pensei que o filme fosse horrivel.Tudo muito rapido,câmera tremendo e dá lhe ação! e leio uma critica aqui,outra ali e estou disposto a conhecer o trabalho do estrente diretor brasileiro Afonso Poyart.Você sabe que tem filmes do gênero “Cinema Pop” que considero uma obra prima(“Pulp Fiction) e outros que me irrita bastante(“Xeque Mate”).Vou conferir.Beijos.

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Celo, exatamente. Assim esperamos!

Jonathan, eu sempre espero que seja um ano bom pro cinema nacional. Beijos!

Paulo, antes de assistir ao filme, nem tinha conferido o trailer dele. Mas, foi um longa surpreendente pra mim, em termos especialmente da estética e da qualidade apresentada. Tente conferir. Beijos!

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Acho que vc fez comparações bastante pertinentes Ka. Essa “universalidade” de 2 coelhos é o que ele tem de melhor a oferecer.
bjs

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Reinaldo, obrigada! Concordo que a universalidade do filme é um dos pontos altos da obra. Beijos!

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Tava ansiosa pra ver a sua opinião sobre 2 Coelhos e acho que você disse tudo o que qualquer um poderia dizer sobre o filme – a história é em camadas e tem um final impressionante. Muito bem construído, o roteiro é muito bom, todas as reviravoltas mantem os espectadores grudados na tela, tem ação e é um filme elétrico do começo ao fim… Enfim! Eu que já sou grande admiradora do cinema brasileiro fiquei um pouco mais fã.
🙂

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“Felizmente, existem exceções como “2 Coelhos””?
O cinema precisa retratar o seu país, suas origens, sua nacionalidade, encontrar sua identidade própria, não há nada de “felizmente” em americanizar, ou “universalizar”, o cinema. Não quero ver o cinema iraniano com seu Charles Bronson nem o argentino com seu Jason Statham. Prefiro que o NOSSO cinema permaneça expondo suas favelas, suas periferias, seus nordestes, sua vala social, a solidão das suas capitais, do que tolerar americanismos como 2 Coelhos ou O Homem do Futuro.

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Rafaele, eu concordo com seu comentário!

Isabel, aí, que você se engana. O cinema precisa retratar, sim, seu país e suas origens, ao mesmo tempo em que tem que apostar em histórias de mensagem universal, com as quais todas as pessoas podem se relacionar. Esse é o segredo do bem sucedido cinema argentino, por exemplo. Sua visão é muito radical…

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