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Xingu

publicado em:8/05/12 12:59 AM por: Kamila Azevedo Cinema

O filme “Xingu”, dirigido e co-escrito por Cao Hamburger, fala sobre três personagens importantes da história do Brasil: os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas, que foram sertanistas brasileiros e chefes da Expedição Roncador-Xingu, que foi lançada pelo governo do presidente Getúlio Vargas com o objetivo de fazer uma grande Marcha para o Oeste, desbravando as áreas desconhecidas da cartografia brasileira, de forma a abrir caminhos, a estender fronteiras econômicas e a encurtar distâncias entre os grandes centros e as demais cidades brasileiras. Curiosamente, o filme de Cao Hamburger não se interessa primordialmente por esse momento histórico, mas utiliza ele como mote para o assunto principal do longa: o relacionamento que foi estabelecido entre Orlando (Felipe Camargo), Cláudio (João Miguel) e Leonardo (Caio Blat) com os índios daquela região e a luta que eles travaram pelos direitos indígenas, culminando na criação do Parque Nacional do Xingu, maior área de preservação da cultura indígena do Brasil, onde vivem índios das mais diversas etnias.

Neste sentido, é importante ficar atento ao papel e à liderança que foram exercidas pelos irmãos Villas-Boâs na Marcha para o Oeste. De uma certa maneira, eles transformaram o caráter inicial da expedição e, na medida em que iam desbravando e contactando mais etnias indígenas, a missão foi transformada na busca da preservação da fauna e da flora da região, bem como na defesa dos valores da cultura indígena – neste caso, é importante mencionar que os índios eram vistos como grande obstáculo para a consecução dos objetivos iniciais da expedição. A forma pacífica com que os três irmãos conduziram os diversos contatos com os índios também chega a ser admirável – e isso é um reflexo direto do respeito com que os índios os escutavam e consideravam as opiniões deles.

O filme de Cao Hamburger também é importante no retrato das diversas negociações que envolvem o jogo do exercício do poder. Os irmãos Villas-Bôas lutaram 18 anos para a criação do Parque Nacional do Xingu e para o ideal que este local deveria representar. A visão deles contrastava diretamente com aquilo que o “homem branco” acreditava ser o melhor para os índios, uma vez que, diante de um grupo cultural dominante, o normal é querer fazer com que o grupo dominado seja influenciado e absorva certos valores desse grupo maior. Mas, os irmãos Villas-Bôas defendiam justamente o contrário, para evitar a marginalização e o desaparecimento dos grupos indígenas. Esse, com certeza, é o maior legado que eles deixaram.

Por ser um filme que fala sobre o relacionamento entre culturas distintas, em um território deveras inóspito, com a necessidade do equilíbrio entre diversos interesses, “Xingu” é um filme que lembra muito uma obra como “Brincando nos Campos do Senhor”, do diretor argentino radicado no Brasil Hector Babenco. As duas obras ainda vão além nas semelhanças, devido às belas cenas em planos abertos tendo como foco principal os ambientes nos quais as histórias se passam (no longa de Babenco, a floresta amazônica; no longa de Hamburger, a região Centro-Oeste do Brasil) e do perfeito uso da trilha sonora. A diferença entre as duas obras acaba sendo a forma como a temática é abordada – no longa de Babenco, existem vilões; enquanto que, na história de Hamburger não existe espaço pra antagonismo. O que interessa a ele é justamente a discussão cultural – e nisso, o longa dele é imbatível.

Cotação: 8,0

Xingu (2012)
Direção: Cao Hamburger
Roteiro: Helena Soarez, Cao Hamburger e Anna Muylaert
Elenco: João Miguel, Felipe Camargo, Caio Blat, Maria Flor, Augusto Madeira, Fábio Lago



A última modificação foi feita em:maio 20th, 2012 as 10:02 pm


Jornalista e Publicitária


Comentários


Uma boa comparação com “Brincando nos Campos do Senhor”. Eu me surpreendi com Xingu, gostei da abordagem de Cao Hamburger, da forma não didática que nos passou a história, e na importância em si de tudo isso.

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Amanda, eu esperava que “Xingu” fosse ser um bom filme, mas não esperava que fosse ser tão ótimo! A abordagem do Cao Hamburger foi excelente. O filme cativa demais a gente.

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Um dos melhores filmes nacionais do ano, sem dúvida,
mas esperava que fosse desenvolvido mais os romances,
a decadência e morte de Leonardo,
as motivações (o filme já começa em plena ação).

Além de mistificar a figura dos irmaos Villas Boas,
que não eram tao inocentes assim.

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Eu não estava nada curioso para ver esse filme, mas agora… São outros 500. Quero ver!

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Herculano, sim, um dos melhores nacionais do ano. Entendo – e concordo – com as suas observações sobre o desenvolvimento do Leonardo, as motivações e sobre a mitificação dos irmãos Villas Bôas.

Raspante, assista, sim, se puder.

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Um bom filme mesmo. O tom episódico, que tanto reclamam, não me incomodou nenhum pouco. Surpreendente em alguns aspectos e bonito em outros (como fotografia e som). Gostei do texto, boa comparação mesmo. Abração.

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O filme é realmente muito bom, gostei da forma como fora abordada essa questão cultural e histórica de nosso país. Faltou apenas um fim mais emocionante, nada que estrague o filme, mas senti falta disso.

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“Xingu” eu verei.Já do Babenco não sei não.Ele é muito antipatico,meteu um tapa na cara no rapaz do CQC,diz que pouco se importa com o que a critica diz(na verdade ele disse um palavra que vc não merece ler).Nesse evento a Isabela Boscov estava sentado do lado dele e deu pra ver o constragimento dela.Não gosto de pessoas ignorantes.

Beijos

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Kamila, gosto muito dos três atores, creio que o grande acerto em Xingu começou daí.

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Patricio, eu também gostei da forma como foi abordada a questão cultural. Acho que esse acaba sendo o maior ponto forte do filme. E não me importei com o final, pra ser sincera. Achei condizente com a história. Beijos!

Paulo, não tenho nada contra o Babenco, não assisto CQC e acho que ele está certíssimo em pouco se importar com o que a crítica diz, desde que ele faça aquilo que acredita. Beijos!

Flavio, pois é. Também acho!

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Dei uma sumida, mas voltei. O layout está ótimo, Kamila!

Pois é, Xingu é bom. Mas apenas, pra mim. Eu esperava muito mais pelo trailer! A saga dos irmãos é contada de forma apressada e atropelando os fatos, falta contemplação em Xingu. E isso me deixa muito triste. Hoje, inclusive, ao ver “O Último Imperador”, do Bertolucci, fiquei pensando como Xingu poderia ser um verdadeiro épico nacional, mas morreu na praia por sua pressa de atingir um público maior, talvez. É compreensível, mas condenável. No mais, João Miguel, como sempre, engole os demais e está soberbo!

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Ah é, mais uma coisa: é uma pena que o filme acabe com um final cinematograficamente perfeito (dos irmãos encontrando o índio) em prol de um desfecho documental e excessivamente didático – que, embora seja eficiente no sentido de conscientização, acaba atrapalhando Xingu como FILME.

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Júlio, que bom que gostou do layout. 🙂 Eu discordo um pouco de sua visão, pois acho que a história não foi contada de forma apressada, com os fatos sendo atropelados. Para mim, aliás, existe muita contemplação em “Xingu” e muita reflexão, especialmente sobre o tema que foi retratado. No mais, concordo que “Xingu” poderia ser um épico nacional que acabou não se concretizando e acho o final do filme PERFEITO, porque terminou mostrando que a missão dos irmãos Villas-Bôas foi cumprida e o legado deles concretizado. Concordo também em relação ao João Miguel, que é um GRANDE ator do nosso cinema.

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Caramba… ainda não fui assistir… acho que vai ficar para o DVD, mas tenho boas expectativas

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Bruno, de uma certa maneira, infelizmente, “Xingu” passou despercebido nos cinemas. Espero que acabe sendo redescoberto nas locadoras, porque merece.

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O filme peca na apresentação dos personagens e suas motivações, dá uma sensação de vazio. Não é possível saber o porquê de tudo isso. Fora isso, é um bom filme.

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Jessica, discordo do seu comentário, pois acho que o roteiro faz a apresentação dos personagens e das suas motivações muito bem. Só concordamos que se trata de um bom filme.

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