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Paraísos Artificiais

publicado em:22/05/12 12:58 AM por: Kamila Azevedo Cinema

Em sua essência, “Paraísos Artificiais”, filme do diretor Marcos Prado, é uma história sobre os encontros e os desencontros de um jovem casal formado pela DJ Erika (Nathália Dill) e pelo estudante Nando (Luca Bianchi), tanto no Rio de Janeiro, numa rave no Nordeste do Brasil ou na cidade de Amsterdã, na Holanda. Entretanto, Prado utiliza estes dois personagens como pano de fundo para falar de um assunto bastante importante – e que pode fazer com que seu longa ganhe ares polêmicos: a conjuntura que levou ao aumento no consumo de drogas sintéticas, especialmente ecstasy e GHB, entre os jovens brasileiros, principalmente por causa da explosão das festas raves, no final da década passada, em nosso país.

Nando, por exemplo, é um personagem que representa muito bem o perfil típico daqueles jovens que acabam consumindo e/ou traficando drogas sintéticas: oriundo da classe média, com pais que possuem condições de proporcionar viagens locais e ao exterior, com uma cabeça bem feita e descolado. Com a facilidade do transporte de uma droga como o ecstasy (que é um comprimido), cujo tráfico é feito quase que de forma solitária pela pessoa, é ele a figura perfeita para sair de Amsterdã completamente despercebido, como se fosse um turista voltando de uma viagem a lazer, trazendo uma grande quantidade de ecstasy escondido dentro da sua mochila.

Além de fazer uma discussão informativa e interessante a respeito desse cenário envolvendo aquilo que o trailer de “Paraísos Artificiais” chamou de “a geração do ecstasy”, o filme ainda faz um importante registro sobre a cultura techno no Brasil, mostrando, principalmente, o papel das raves como uma manifestação cultural fundamental de congruência de diversas linguagens artísticas, como música, artes visuais e artes plásticas. Neste sentido, temos o papel de Erika na história, uma DJ que vai desbravando o seu caminho dentro do Brasil até chegar à sua consagração como uma das profissionais mais importantes do país e com atuação importante em festas realizadas no exterior.

Por ser uma história que alterna diversos focos narrativos, “Paraísos Artificiais” é um filme que começa de forma bastante complicada, mas cuja trama ganha sentido a partir do momento em que as conexões estabelecidas pelos roteiristas começam a ser melhor explicadas. Um dos pontos mais positivos do longa é a sua parte técnica, notadamente a forma como Marcos Prado trabalhou a fotografia, a edição, os seus atores (fique de olho nos dois protagonistas, ambos em atuações bem inspiradas) e a trilha sonora. Porém, talvez, o maior acerto do diretor tenha sido evitar um tom panfletário em seu filme. Ele não adota uma posição contra ou a favor a todo esse movimento que é retratado em “Paraísos Artificiais”. O enfoque dele são as pessoas, o destino, as suas inseguranças, os seus medos, os seus sonhos, os seus momentos de celebração e aqueles de mudança. Isso que faz de “Paraísos Artificiais” um dos melhores filmes nacionais de 2012.

Cotação: 8,5

Paraísos Artificiais (2012)
Direção: Marcos Prado
Roteiro: Pablo Padilla, Cristiano Gualda e Marcos Prado
Elenco: Nathalia Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno, Bernardo Melo Barreto, César Cardadeiro, Emílio Orciollo Neto, Roney Villela, Cadu Fávero, Erom Cordeiro



A última modificação foi feita em:junho 9th, 2012 as 12:22 am


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Comentários


É um bom filme, apesar de carregar alguns probleminhas, não que diminua sua apreciação. O cinema nacional esse ano tem apresentados exemplares bem mais interessantes que em 2011.

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Bom, gosto bastante da Nathália. Pra mim ela é uma das boas revelações do campo interpretação.

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Celo, realmente, este filme tem alguns problemas, mas isso não é nada que atrapalhe no desenvolvimento de sua trama. E discordo um pouco em relação ao que você fala sobre a situação do cinema nacional em 2012. Na realidade, o ano começou ruim para o nosso cinema e foi melhorando a partir da estreia de “Xingu”.

Paulo, sim. Gostei mesmo. Espero que, quando você assistir ao filme, o aprecie também. Beijos!

Flavio, eu gostei muito do trabalho da Nathália Dill aqui. Essa foi, acredito, a primeira vez que a vi atuando e a impressão foi excelente.

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Fico feliz por você ter gostado do filme, kamila. Quando vi o título no e-mail, imaginei uma nota péssima.

Vi o filme no cinema domingo retrasado e, apesar das cenas de sexo extensas demais (tava dando um certo constrangimento no público) e o final meio hã? já acabou?”, achei um bom filme, que retratou bem a juventude dos anos 90 até década de 2000 (a atual ainda é um pouco assim). Fiquei triste com os comentários exagerados de que o filme era uma nova malhação, o filme é um lixo, etc.

A fotografia é maravilhosa! E Nathália Dill tem MUITO futuro. Ela é excelente, é tranquila, natural ao interpretar.

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Pedro, não sei porque você imaginou que eu daria uma nota péssima a esse filme. 🙂 Pra falar a verdade, não entendo o constrangimento do público nas cenas de sexo e achei a cena final simplesmente bela e poética. Dizer que esse filme é uma nova “Malhação” é constatar a falta de compreensão das pessoas sobre esta história. Um absurdo isso! Concordo em relação ao que você disse sobre a fotografia do filme e sobre a Nathália Dill.

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Achei que você iria dar notas péssimas pro filme porque assim que cheguei em casa do cinema e fui ler críticas a respeito, só vi críticas pesadas o odiando. Achei que só eu gostei… o “certo constrangimento” é porque as cenas nunca acabavam, rs… fora a lésbica.

A voz da Nathália Dill já te cativa a assistir tudo que ela faz… assim que ela aparece na novela, eu fixo nela de uma maneira…

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Pedro, eu não sou todo mundo! 🙂 Os textos aqui são reflexo da minha opinião mesmo, sem influências! 🙂 Eu não senti mesmo esses constrangimentos aqui. Juro!

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Li algumas críticas vindas do Festival de Pernambuco, onde o filme foi exibido pela primeira vez e foram divididas, algumas dizendo que o filme é um choque, o que duvido esse exagero todo. Mas, fiquei curiosa em dar uma chance depois de seua resenha.

Beijos! 😉

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Tinha perdido um pouco o interesse no filme, mas depois da sua resenha vou tentar assistí-lo no cinema! Gostei do texto! ;D

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É, ainda está na minha lista para ver, seu texto deu um pouco mais de ânimo, mesmo.

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Mayara, eu li essas críticas também. Quando você assiste ao filme, percebe o quanto essas opiniões foram exageradas e despropositais. Beijos!

Leo, tente, sim. O filme é ótimo! Obrigada!

Amanda, espero que goste do filme tanto quanto eu!

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Tenho vonta de ver esse filme, gostei da sua sinopse…mas não acho que o cinema nacional começou o ano de 2012 ruim…o filme 2 Coelhos, que estreou em janeiro, é considerado um dos mais criativos do nosso cinema nos últimos anos.

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Fabrício, sim, “2 Coelhos” é bem legal, mas, depois dele, tivemos “Billi Pig”, “Reis e Ratos”, “As Aventuras de Agamenon”, que todos são filmes péssimos! “Xingu” veio para mudar essa história e “Paraísos Artificiais” é mais um bom filme nacional de 2012.

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Não vi o filme Ka, mas gostei bastante da sua crítica. Uma das vozes dissonantes no que toca ao tom do filme. Para a grande maioria da crítica, “Paraísos artificiais” é moralista e raso. Vc não identificou isso e me parece bastante segura no desenvolvimento do seu ponto de vista.
Bjs

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Reinaldo, obrigada! Eu não achei esse filme moralista e raso. Pelo contrário, acho que ele faz uma discussão bem interessante e que bom que consegui passar isso no meu texto. Beijos!

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Kamila, acho que o grande problema do está justamente na conexão frágil que o filme força para conectar os personagens. Ainda mais utilizando como “desculpa” essa coisa de destinos cruzados, que no filme não me convence, e ainda é responsável por uns furos de roteiro. De qualquer forma, essa fuga do tom panfletário, como você aponta, foi realmente bem destacado no filme. Nem se denigre nem se condena as drogas, sendo que cada pessoa pode se perder ou passar bem por elas.

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Rafael C., entendo o que você pensa das conexões entre os personagens. Só que esses furos de roteiro não me incomodaram, pra falar a verdade.

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Ka, estou realmente mais animado pra ver, seu texto tornou lúcida a importância do filme – ao contrário de muitos blogueiros e sites que detonaram negativamente. Acredito que vou gostar do filme, ainda mais que Dill é uma atriz que eu prezo muito. Essa garota vai longe. Ótimo texto, viu? Beijos!

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Cristiano, que bom que ficou mais animado. Acho até que este filme tem um bom perfil pra ser publicado lá no “Apimentário”. Daria um grande texto seu. Como disse, essa foi a primeira vez que conheci o trabalho de Nathália Dill e fui surpreendida. Ela é talentosa. Obrigada! Beijos!

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