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360

publicado em:27/08/12 11:52 PM por: Kamila Azevedo Cinema


O filme “360” é um exemplo perfeito da atual conjuntura da indústria cinematográfica mundial, em que os longas são, na realidade, produções globalizadas. Vejamos o caso desta obra: o diretor (Fernando Meirelles) é brasileiro, o roteirista (Peter Morgan) é inglês, a peça na qual o longa se baseia foi escrita por um austríaco e o elenco que compõe o filme é formado por atores de diversas nacionalidades inseridos em cenas que estão em diferentes países e contextos. Isso, na verdade, é uma característica que também pode ser observada em “La Ronde”, a peça escrita por Arthur Schnitzler que inspirou o roteiro de Peter Morgan, a qual retrata uma série de encontros entre vários pares de personagens que podem ser inseridos em contextos e classes sociais distintas. Em comum entre eles, o fato de que todos se apresentam a nós antes ou depois de um encontro sexual.

Desta forma, a gama de personagens idealizada por Peter Morgan inclui uma garota de programa (Lucia Siposová) e sua irmã (Gabriela Marcinkova), um executivo da indústria automobilística (Jude Law), uma ajudante de um dentista (Dinara Drukarova), o capanga de um figurão do crime (Vladimir Vdovichenkov), uma editora (Rachel Weisz), um fotógrafo (Juliano Cazarré), uma jovem (Maria Flor), um agressor sexual condenado (Ben Foster) e um senhor em busca do paradeiro da filha desaparecida (Anthony Hopkins), dentre outros. Todos eles estão inseridos em cenas que se passam em diferentes países como a Eslováquia, a França, a Inglaterra e os Estados Unidos.

O roteiro de Peter Morgan mantém a essência da peça escrita por Arthur Schnitzler. Ou seja, a grande mensagem por trás de “360” é tentar revelar a moral que existe ao se tentar analisar diferentes formas de comportamentos sexuais, independente das classes sociais nas quais estes personagens se encontram, para mostrar que a questão do contato sexual ultrapassa as barreiras culturais e sociais. Trata-se, portanto, de um texto denso e pretensioso que esbarra num ponto muito complicado, uma vez que, ao explorar diversos universos narrativos, sem extrair deles todo o potencial que eles possuem, o roteiro de Morgan soa sempre muito frio, sem causar o devido envolvimento da plateia.

Este elemento acaba por influenciar negativamente na direção de Fernando Meirelles. Como tem um grupo de personagens devidamente mal explorados, o diretor brasileiro não conseguiu oferecer uma liga forte e contundente nas diferentes histórias com as quais somos confrontados. O resultado é um filme que, apesar de qualidades técnicas (como a fotografia de Adriano Goldman), e de tentar fomentar uma discussão que seria muito interessante, acaba sendo completamente esquecível. Uma pena, pois o cinema atual carece de bons filmes com conteúdo adulto, como seria esse “360”, se ele tivesse seguido um destino diferente.

360 (360, 2012)
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Peter Morgan (com base na peça escrita por Arthur Schnitzler)
Elenco: Lucia Siposová, Gabriela Marcinkova, Jude Law, Dinara Drukarova, Vladimir Vdovichenkov, Rachel Weisz, Juliano Cazarré, Maria Flor, Ben Foster, Anthony Hopkins, Marianne Jean-Baptiste



A última modificação foi feita em:setembro 6th, 2012 as 1:03 am


Jornalista e Publicitária


Comentários


Sabe que eu embarquei neste novo trabalho de Meirelles? Esperava um filme bem fraco, pelo que era dito na crítica internacional, mas acabei me deixando levar. Acho bacana essa roupagem atual que se dá à trama. No entanto, reconheço que tem alguns personagens que são mal aproveitados, casos dos de Cazarré e Weisz. Meirelles decaiu de “O Jardineiro” para “Ensaio”. E parece que caiu um pouco mais em “360”.

Abraço.

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Houldine, eu assisti ao filme sem expectativas, justamente por causa da recepção fraca da crítica internacional. Por mais que não tenha achado ruim, acredito que faltou um algo mais ao longa. E acho que o Meirelles decaiu de três excelentes trabalhos (“Cidade de Deus”, “O Jardineiro Fiel” e “Ensaio Sobre a Cegueira”) para esse “360”, que nem razoável é. Abraço!

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Também acho o filme frustrante, Kamila. Na maior oarte do tempo é desinteressante, apesar do esforço e das boas intenções. Tem essa frieza mesmo pelo pouco tempo que cada um tem em tela. Dá vontade de conhecer mais os personagens e seus dramas, tipo de coisa que o filme não permite.

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Kamila,fico surpreso em saber que Peter Morgan escreveu um roteiro que em alguns momentos soa frio e pretencioso,uma vez que ele escreveu obras bem emocionais como “A Rainha”,”O último Rei da Escócia” e “Além da Vida”(me emocionei muito com esse filme SUBESTIMADO pela critica).Considero “Frost/Nixon” uma obra prima e o duelo entre Frank Langella(Nixon) e Michael Sheen(Frost) é fantastico.Não assisti “360”.Mas espero muito dessa parceria entre Meirelles e Morgan.Apesar de vc não ter gostado muito do filme teve algum núcleo que te causou algum impacto emocional?

Beijos!

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Está na minha lista de filmes que eu ver assistir logo! 🙂

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Kamila, aproveita e dá uma passada no “E o Oscar foi para…”. Chegamos finalmente à etapa das opiniões sobre 1999! o/
http://eooscarfoipara.blogspot.com.br/

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Rafael, não achei o filme de todo desinteressante, mas acho que as histórias poderiam, sim, ter sido melhor trabalhadas.

Paulo, também gosto muito do Peter Morgan e uma pena que essa experiência dele não tenha dado certo. Dos núcleos narrativos, o que mais me chamou a atenção foi a storyline da prostituta e da irmã e dos personagens de Anthony Hopkins, Maria Flor e Ben Foster.

Luís, depois que assistir, avisa o que achou! 🙂 Vou lá no “E o Oscar foi para…” dar uma olhada sobre a cerimônia polêmica de 1999. Beijos!

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Considerei o filme raso e pretensioso,
mal comparando, talvez a mão de um Arriaga no roteiro
fizesse mais sentido para aquelas conexões.

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Acho q a crítica em geral pegou pesado com o filme. Se não é uma grande obra, ainda assim consegue entreter com qualidade. Acredito q o principal problema de 360 é escolher as tramas mais fracas para se estender mais. Qd é claro q a melhor narrativa é a q envolve Hopkins, Ben Foster e Maria Flor e infelizmente é podada na trama. Com mais esmero, Meirelles faria um grande filme. Abraço.

http://espectadorvoraz.blogspot.com.br/

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Meus cumprimentos, Kamila

Meireles…

Hum…

Proponho um teste: assistir a “La Ronde” de 1950, cinema primoroso do Ophuls, à “Ronda do Amor”, mais recente, de1964, e “O Círculo” de Jafar Panahi. Este último é iraniano e achei

emocionalmente intenso.

Todas são histórias circulares, inclusive a de Meireles, tanto que nossos colonizadores o chamam “360: A Vida é um Circulo Perfeito”. Mas, cada um desses filmes nos dá um norte para

entender Meireles que ausentou-se nesse filme, segundo ele mesmo afirmou, é mais Peter Morgan do que Fernando Meireles (“…covém que ele cresça e eu dimimua…?” – Não sei. Talvez,

seja, o típico circulo da vida, um homem vívido – Morgan – contando suas histórias cuja inspiração ele viveu ou observou nas suas viagens pela América e Londres).

Agora, mesmo com uma história que começa e termina com uma mesma personagem, no caso uma prostituta, o título me comunicou algo curioso: já ouvi falarem sobre dar a volta por cima

quando há dificuldades, essa volta ao meu ver seria de 180 graus. Portanto, 360 colocaria a pessoa no mesmo lugar de onde saiu e seria a grande irônia do filme: nada se

comunica de fato, começa-se e termina do mesmo lugar, exatamente como descrito na tua resenha.

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Herculano, concordo totalmente com seu comentário!

Celo, acho que o grande problema do filme é a conexão mal feita entre as histórias, é isso.

B. S. Lima, meus cumprimentos a você também! Tentarei fazer o seu teste. Seu comentário oferece uma luz interessante sobre “360”. Não tinha pensado nessa questão do “círculo perfeito”, sobre dar a volta por cima. Muito interessante o que você diz.

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2° coment.

Kamila,tem muitos filmes com várias histórias que se cruzam no cinema.Temos “Crash”,Magnolia”,”Babel”,”Short Cuts”,”The Burning Plain”,”Amores Brutos”…e tantos outros.Qual é o seu favorito? e outra curiosidade que eu tenho.O que você considera mais dificil nesse tipo de historia:um roteiro que priorize uma narrativa coesa ou um grande elenco?

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Paulo, com várias histórias que se cruzam, o meu filme favorito é “As Horas”. Pra mim, o mais difícil neste tipo de história é estabelecer uma linearidade, uma unidade entre as mais diversas histórias.

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Kamila, como você sabe, não curti muito “360”. Na minha opinião, falta Meirelles nesse filme. Só o segmento Anthony Hopkins + Maria Flor + Ben Foster funciona de verdade. De resto, tudo é muito frio…

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Matheus, sim, pelo seu texto, dá para a gente perceber que você não gostou do filme. Eu também não gostei muito. Principalmente pelas razões que expus no comentário feito em seu blog. Concordo sobre o segmento do Anthony Hopkins + Maria Flor + Ben Foster.

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