A Separação
No decorrer dos seus 123 minutos de duração, “A Separação”, filme escrito e dirigido por Asghar Farhadi, nos coloca diante do processo de distanciamento emocional de um casal – Nader (Peyman Moadi) e Simin (Leila Hatami) – que, apesar de se amarem e se admirarem, estão querendo coisas diferentes para as suas vidas. Enquanto ele está preocupado com o pai (Ali-Asghar Shahbazi), cuja saúde está cada vez mais deteriorada por causa do Mal de Alzheimer, ela está mais apreensiva com o futuro da filha e quer sair do Irã para oferecê-la uma melhor oportunidade de crescimento e de vida.
Numa trama que se passa num país que vive um regime ditatorial marcado por uma forte característica religiosa e que, por consequência disso, obriga seus habitantes – notadamente as mulheres – a uma vida mais difícil e com muitas privações, chega a ser até curioso ver o retrato que é feito por “A Separação”, um filme em que os atos das personagens femininas são determinantes para o desenvolvimento narrativo proposto por Asghar Farhadi, que não poupa o espectador e o confronta com um drama familiar forte, com um pano de fundo moral muito interessante.
Simin é uma mulher que não usa burca, tem um pensamento aberto, trabalha fora como professora e sai de casa (tendo em vista o fato de que o juiz nega o seu pedido de divórcio de Nader), deixando a filha Termeh (Sarina Farhadi) com o marido e o sogro. Sem o seu esteio, Nader é obrigado a contratar Razieh (Sareh Bayat) para cuidar do seu pai doente. Ao contrário de Simin, Razieh usa véus longos que escondem seu corpo, teme o marido de personalidade difícil (Shahab Hosseini) – tanto que trabalha escondida dele – e não toma nenhuma decisão importante na sua vida sem consultar a sua autoridade religiosa.
Tudo no Irã é uma questão de honra, então o grande ponto de virada de “A Separação” é um acontecimento que decorre justamente do distanciamento físico do casal principal e que acaba por envolver todos esses núcleos narrativos em uma história que se propõe a discutir aquilo que é certo e o que é errado por meio de atitudes duvidosas cometidas por todas as personagens, mas que nos mostra, principalmente, como é a vida para aqueles que seguem à risca ou são condicionados pela cultura e pela religião de onde vêm. Entretanto, o testemunho maior da força dessa narrativa é que, por mais que seja uma história muito particular sobre o estilo de vida iraniano, a mensagem do longa é universal e vai mexer com todos nós.
Vencedor do Oscar 2012 de Melhor Filme Estrangeiro, bem como do Globo de Ouro 2012 da mesma categoria, “A Separação” é um filme que se apoia no roteiro primoroso e na direção sensacional de Asghar Farhadi – que privilegia primeiros planos, enfocando as emoções de cada personagem, com pouca utilização de trilha sonora -, assim como em atuações expressivas de todo o elenco, inclusive das atrizes infantis. O longa tem cenas memoráveis, especialmente aquelas que retratam o tema básico dessa obra: a discussão moral, o que é verdade, o que é mentira. Mas, nenhuma delas será mais bonita do que aquela que encerra o filme e que, metaforicamente e literalmente, é a representação do que é “A Separação”: um longa sobre pessoas separadas, seja pelo fim de um sentimento, pelo estrato social, pelo estado de saúde ou pela idade; mas que estão todas sujeitas ao mesmo fim.
A Separação (Jodaeiye Nader az Simin, 2011)
Direção: Asghar Farhadi
Roteiro: Asghar Farhadi
Elenco: Peyman Moadi, Leila Hatami, Sarina Farhadi, Sareh Bayat, Shahab Hosseini, Ali-Asghar Shahbazi, Kimia Hosseini
5 estrelas pela revista VEJA(lembra de outro filme que conseguiu tal cotação?),premiado com Urso de Ouro e dois Urso de Prata de atuação,Globo de Ouro e Oscar.Não tenho motivos para não ver.Kamila,esse filme já esta em DVD(vc viu no cinema).Bjs.
Paulo, não me lembro de outro filme que tenha recebido cotação máxima da VEJA, até porque a Boscov é muito rigorosa nas suas críticas. Espero que assista ao filme e que goste muito dele. É um filmaço mesmo. Beijos!
Kamila,se não me engano “Brokeback Mountain” já recebeu 5 estrelas do Miguel Barbieri Jr..Uma cotação dessas para uma revista do porte da VEJA não é pra qualquer filme.
Paulo, sim, uma cotação máxima dessas, na revista VEJA, não é pra qualquer filme mesmo, como eu disse em meu comentário anterior.
Gostei bastante… ótimos diálogos e ótimo retrato daquele mundo em particular, com uma mensagem universal como vc diz. Mas não achei uma obra-prima como muitos estão apontando…
Bruno, eu também gostei muito desse filme e acho que ele está próximo de ser um daqueles filmes que se tornam atemporais…
Uma pequena obra-prima, emotivo, mas realista. Um dos melhores filmes dos últimos anos. Gostei muito do texto. Abraço.
Celo, obrigada!!! Concordo que este é um filme emotivo e realista. Abraço!
Lembra que te disse no Twitter que desisti de escrever sobre este filme porque não estava conseguindo corresponder à altura da obra. Parabéns, Ka, vc conseguiu! rsrs. Assino embaixo de tudo o que disse. Filme inesquecível, universal, necessário e que já nasce clássico!
Bjs!
Elton, obrigada! 🙂 Beijos!
“A Separação” é surpreendente. Gostei muito porque, além do roteiro ser maravilhoso (como não venceu todos os prêmios da temporada?!?), o filme em si é universal!
Matheus, um filme com mensagem universal. É dessa maneira mesmo que deve ser visto “A Separação”, porque a história, por mais que tenha as peculiaridades da cultura e da sociedade iraniana, lida com questões morais que são comuns a todos nós. E é essa uma das maiores riquezas deste grande filme.