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Jogo Subterrâneo

publicado em:30/05/14 1:40 AM por: Kamila Azevedo Filmes

Todo dia, o pianista Martin (Felipe Camargo) faz tudo sempre igual. Após acordar, ele veste uma venda e se dirige a um grande painel que decora um dos cômodos do quarto de hotel no qual ele mora. No painel, estão discriminadas as rotas do metrô de São Paulo. Aleatoriamente, Martin escolhe uma linha de metrô, se dirige à estação e entra no trem em questão. Nele, Martin – outra vez aleatoriamente – escolhe uma passageira e desenha uma rota de viagem para ela. Martin imagina seu nome, o que ela faz, de onde ela veio. Se a mulher escolhida fizer a rota que ele imaginou para ela, Martin terá a certeza de que a passageira é a mulher de sua vida.

A adrenalina, a tensão e o perigo que envolvem o jogo que Martin realiza todos os dias são o período de maior vivacidade da apática vida do pianista. Ele vive para encontrar a mulher que lhe trará felicidade. Ele torce e sonha com o momento em que ela irá aparecer. “Jogo Subterrâneo”, filme do diretor Roberto Gervitz, acompanha um momento muito especial deste jogo que Martin realiza: quando o pianista se divide entre duas mulheres tão diferentes – Ana (a ótima Maria Luisa Mendonça) e a tatuadora vivida pela não menos competente Daniela Escobar – que farão com que Martin questione o jogo com o qual “brinca” diariamente e, em alguns momentos, se torne uma marionete do próprio jogo que criou.

Baseado no conto “Manuscrito Encontrado em um Bolso”, de Julio Cortázar, “Jogo Subterrâneo” é um filme brasileiro que merece ser descoberto pelo público. Tudo na produção deu certo: o roteiro foi muito bem construído; as estações de metrô foram um espaço tão bem aproveitado, que possuem um papel tão importante quanto o de Martin para o filme; a direção de Gervitz e os atores estão bastante seguros e envolvidos com o filme e a trilha sonora ilustra com perfeição a divisão de Martin.

Entretanto, o ponto mais forte de “Jogo Subterrâneo” é a sua aparência cosmopolita. Ao contar a história de um homem com uma rotina chata e que encontra o calor da vida – e uma razão para viver – em um lugar tão inesperado como o metrô, Roberto Gervitz elimina a “brasilidade” do seu filme. Em “Jogo Subterrâneo”, não há violência, corrupção ou a fina ironia que caracterizam muitos dos filmes nacionais, e sim pedaços de uma vida real. Uma vida que poderia ser a de qualquer pessoa não importando o lugar de onde viemos.



Jornalista e Publicitária


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