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>Boa Noite, e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck, 2005)

publicado em:4/02/06 4:41 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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No início dos anos 50, o povo norte-americano foi invadido por um sentimento que ganhou o nome de Temor Vermelho, o qual expressava um misto de raiva e medo sentido pelos norte-americanos em relação aos comunistas. Nessa época, membros do Congresso dos Estados Unidos passaram a difundir a idéia de que altos funcionários do governo do país estariam traindo a pátria. Nenhum congressista explorou mais esta idéia do que o Senador Joseph M. MacCarthy, do Estado do Wisconsin. Foi ele quem liderou a Comissão MacCarthy contra Atividades Anti-Americanas, que investiu pesado em cima dos norte-americanos – especialmente em cima de profissionais da indústria cinematográfica hollywoodiana, professores universitários, estudantes e sindicalistas -, esnobando os direitos civis garantidos pela Constituição dos Estados Unidos. A Comissão liderada por MacCarthy durou exatos cinco anos e manchou a história política norte-americana.

Durante o funcionamento da Comissão MacCarthy contra Atividades Anti-Americanas poucos jornalistas ousaram criticar os métodos de investigação do Senador MacCarthy. Um dos que se levantaram contra a Comissão foi o jornalista da rede CBS, Edward R. Murrow (David Strathairn, numa performance natural e sem esforços, que lhe rendeu a merecida indicação ao Oscar 2006 de Melhor Ator), que, com a sua equipe de profissionais, fez uma série de reportagens que desmascararam as falcatruas políticas impetradas pelo Senador Joseph M. MacCarthy.

Edward R. Murrow é justamente o personagem principal da cinebiografia “Boa Noite, e Boa Sorte” (a frase de despedida do jornalista para o seu público quando os seus programas jornalísticos – “See it Now” e “Person to Person” – terminavam), do diretor, ator e roteirista George Clooney. O jornalismo não é um território desconhecido para Clooney, uma vez que seu pai, Nick, foi âncora de telejornais nos Estados Unidos e, hoje, tenta se dedicar a uma carreira política.

“Boa Noite, e Boa Sorte” – filme indicado a 6 Oscars 2006, incluindo Melhor Filme, Diretor e Roteiro Original – pode estar situado nos anos 50, mas o que os roteiristas George Clooney e Grant Heslov tentam mostrar é que o que aconteceu na época de Joseph M. MacCarthy continua a ocorrer nos dias de hoje. Substituiu-se o Temor Vermelho pela paranóia antiterrorista. Sai de cena a Comissão MacCarthy de Atividades Anti-Americanas e entram no quadro a CIA e o FBI, que violam os direitos constitucionais dos norte-americanos e, em busca de dizimar qualquer ameaça, não hesitam em violar as correspondências da população ou de colocar as pessoas na humilhante situação de terem que ser revistadas nos aeroportos. Uma frase brilhante do roteiro neste sentido é a seguinte: “como podemos impor a liberdade aos países estrangeiros, quando nós mesmos não a respeitamos”.

O filme também lembra o importante papel que os meios de comunicação – no caso particular de “Boa Noite, e Boa Sorte”, a televisão – desempenham em momentos de crise. Num país democrático, em um livre ambiente de trabalho (longe das pressões dos superiores ou dos patrocinadores), e com liberdade de expressão, Edward R. Murrow e sua equipe foram além da simples tarefa de entreter seus telespectadores. Eles contestaram, informaram, educaram, transformaram os acontecimentos e tiveram a oportunidade de fazer história. Ao mostrarem isso, George Clooney e Grant Heslov não deixam de fazer uma crítica à atual situação vivida pela imprensa norte-americana, que assiste passivamente ao governo de George W. Bush, deixando escapar a oportunidade de investigar temas controversos como a Invasão ao Iraque e o por quê da manutenção das tropas neste país até os dias de hoje – nós estamos vivendo o contrário aqui no Brasil, em que a imprensa desempenhou (e continua a exercer) um papel fundamental na denúncia e investigação dos escândalos do Governo Lula.

Magnificamente fotografado em preto e branco por Robert Elswit (também indicado ao Oscar 2006), “Boa Noite, e Boa Sorte” também marca o nascimento de uma nova proposta de se fazer filmes em Hollywood. A co-produtora do filme foi a Participant Productions, empresa criada pelo ex-proprietário do site de leilões E-Bay e que tem como objetivo produzir filmes que carreguem mensagens de relevância para a sociedade. “Boa Noite, e Boa Sorte” foi o primeiro filme da empresa. “Syriana”, um thriller de espionagem estrelado por George Clooney e Matt Damon, e escrito por Stephen Gaghan (de “Traffic”), foi o segundo. “Terra Fria”, filme de Niki Caro e com Charlize Theron e Frances McDormand no elenco, que retrata um caso de assédio moral e sexual numa mina dos Estados Unidos, foi o terceiro. Todos os três filmes estão indicados para o Oscar e atraíram grande atenção do público, o que confirma uma demanda por filmes bons e, principalmente, inteligentes por parte da audiência.

Crédito Foto: Yahoo! Movies



Jornalista e Publicitária


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