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>Crianças Invisíveis (All the Invisible Children, 2005)

publicado em:16/05/06 11:36 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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Convidar um número variado de diretores para falar sobre um mesmo tema não é uma novidade para a indústria cinematográfica. Isso foi feito, por exemplo, no filme “11’09’’01”, quando onze diretores de diversas partes do mundo contaram histórias que mostravam os efeitos dos atentados terroristas de 11 de Setembro nas suas respectivas nações. Na realidade, esse é um recurso narrativo muito interessante, pois oferece ao espectador a possibilidade de ver diversos pontos de vista sobre um mesmo assunto. “Crianças Invisíveis” repete esta fórmula e reúne sete diretores para falar a respeito dos problemas que as crianças enfrentam no seu dia-a-dia.

O primeiro episódio de “Crianças Invisíveis” (“Tanza”) é dirigido pelo algeriano Mehdi Charef e fala sobre Tanza, um menino que vive em uma comunidade africana dominada por uma disputa interna. Tanza é somente um dos muitos meninos a serem recrutados para a luta armada em idade tenra, mas o que Charef quer mostrar é que, mesmo portando uma arma, esses meninos possuem sonhos, vontades e ídolos comuns a todas as crianças (num determinado momento do episódio, o close na arma de um dos garotos revela um adesivo de Ronaldo Fenômeno).

O segundo episódio de “Crianças Invisíveis” (“Blue Gipsy”) é dirigido pelo bósnio Emir Kusturica e conta a história de um garoto filho de ciganos ladrões e que se sente mais à vontade e em segurança no reformatório do que nas ruas. O terceiro episódio do filme (“Jesus Children of America”) é dirigido pelo norte-americano Spike Lee e conta a história de Blanca, uma garota filha de pais viciados em drogas e portadores do vírus HIV, que não sabe que ela mesma também porta o vírus e que sofre com as chacotas dos colegas de escola.

O quarto episódio de “Crianças Invisíveis” (“João e Bilú”) é dirigido pela brasileira Kátia Lund (que co-dirigiu “Cidade de Deus”) e que conta a história de um menino e uma menina que sustentam a família catando papelão, latinhas, vidros e metais. Na realidade, esse episódio mostra como o brasileiro sempre arruma um jeitinho para superar as suas adversidades (João e Bilú criam um jogo e começam a ganhar dinheiro com ele numa feira popular). O quinto episódio do filme (“Jonathan”) é dirigido pelos ingleses Ridley e Jordan Scott (pai e filha) e conta a história de um fotógrafo de guerra que tenta apelar para o seu lado criança para encontrar a sua paz interior.

O sexto episódio de “Crianças Invisíveis” (“Ciro”) é dirigido pelo italiano Stefano Veneruso e conta a história de dois amigos que fazem roubos na rua. Esse é mais um episódio que mostra crianças que são frutos de uma família desintegrada e dialoga especialmente com o primeiro episódio do filme (“Tanza”), pois mostra novamente uma criança que, apesar de entrar em contato permanente com a violência, continua a manter uma inocência e os seus sonhos vivos.

O sétimo – e último episódio – de “Crianças Invisíveis” (“Song Song and Little Cat”) foi dirigido pelo chinês John Woo. Neste episódio, duas realidades são colocadas em xeque: a de Song Song, menina rica que tem todas as suas vontades satisfeitas, mas não se contenta com nada; e a de Little Cat, menina que foi abandonada pela mãe e criada por um mendigo. Little Cat pouco tem, mas valoriza o que possui e não se esquece de sonhar com uma realidade melhor para si mesma. Esse episódio é o mais poderoso de todos, pois toca num ponto que todos nós conhecemos: o de que nós só valorizamos aquilo que temos quando o perdemos – ou seja, nós deveríamos valorizar aquilo que temos, pois muitas pessoas dariam tudo para ter o mesmo que nós.

“Crianças Invisíveis” foi um filme feito por uma parceria entre o governo italiano, a UNICEF e o WFF (World Food Programme). É difícil tentar entender as pretensões por trás de um filme como esse, mas fica subentendido que os envolvidos queriam chamar a atenção para as questões relacionadas às crianças do mundo e as infâncias que elas estão vivendo. “Crianças Invisíveis”, infelizmente, não consegue ser bem-sucedido, pois sofre com a irregularidade dos episódios – que ora apelam para a poética (caso do dirigido por Ridley e Jordan Scott), ora para o humor (caso do de Emil Kusturica) e ora para uma verdade ficcionalizada (caso dos episódios de Mehdi Charef, Spike Lee, Kátia Lund, Stefano Veneruso e John Woo). Se for para causar impacto e fazer a diferença, o filme perfeito seria o documentário “Falcão – Meninos do Tráfico” (que foi apresentado no programa “Fantástico”), do rapper MV Bill e de Celso Athayde, que não quer mascarar a verdade e a mostra como ela é.

Cotação : 5,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema



Jornalista e Publicitária


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