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>Volver (2006)

publicado em:10/12/06 12:39 AM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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Depois de dois filmes (“Fale com Ela” e “Má Educação”) que mergulhavam no universo masculino, o diretor e roteirista espanhol Pedro Almodóvar retorna a um mundo que ele ama e conhece como ninguém: o das mulheres. No filme “Volver”, Almodóvar aborda como as questões de vida e de morte afetam a vida de três mulheres oriundas de uma mesma aldeia espanhola – e que já é misteriosa por si só, pois, reza a lenda, que seus habitantes ficam loucos com grande facilidade.

Quando a gente conhece as três mulheres de “Volver”, dá para começar a entender o por quê da existência da linha tênue entre sanidade e loucura. Raimunda (Penélope Cruz, que recentemente ganhou o prêmio de melhor atriz no European Film Awards pela sua performance neste filme) e Sole (Lola Dueñas) perderam os pais em um incêndio e, na primeira oportunidade que tiveram, abandonaram a aldeia e foram para Madrid. No início do filme, elas – na companhia de Paula (Yohana Cobo), filha de Raimunda – estão no vilarejo polindo e limpando o túmulo de seus pais. Após fazerem isso, as duas aproveitam e visitam a Tia Paula (Chus Lampreave) – o único parente vivo que elas têm –, que vive sozinha e está louca e doente.

Agustina (Blanca Portillo) também perdeu a mãe, que está desaparecida, e mantém pouco contato com a irmã, que está mais interessada em obter atenção e sucesso. Assim como a sua genitora, que era hippie, Agustina tem uma personalidade exótica e planta e fuma maconha como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Mas, você deve estar se perguntando, o que Agustina tem a ver com Raimunda e Sole? Agustina é a vizinha de Tia Paula e cuida dela, verificando se ela está bem e se ela terá o pão de cada dia para comer.

A vida destas três mulheres dará uma guinada de 360 graus quando Raimunda chega em casa e encontra Paco (Antonio de la Torre), seu marido, morto pela filha depois deste ter tentado abusar sexualmente dela; quando Agustina recebe o diagnóstico de que está com um câncer terminal; e quando Tia Paula morre e Sole volta à aldeia para cuidar do enterro e das coisas de sua tia, e acaba se deparando com o fantasma de sua mãe (Carmen Maura), que parte com a filha de volta à Madrid, pois, aparentemente, ela ainda tem algumas coisas para resolver no mundo dos vivos. Em comum nestes casos é a necessidade que cada mulher tem em dar um fechamento a algum capítulo doloroso de sua vida. Ou seja, algumas portas se fecharão, enquanto outras irão se abrir.

Quando você perde alguém que você amava muito, de certa maneira, você acaba se acostumando a viver sem ele (a). Como? Ou você passa batido pela vida (como Sole), ou você opta por seguir com ela (como o trator Raimunda, que numa cena esconde o corpo do marido em um freezer, e, em seguida, está fazendo um almoço para trinta pessoas). Mas existe também aquela situação em que você fica estagnada (como Agustina) e só pode continuar a viver depois de entender tudo pelo que você passou.

No entanto, “Volver” não se interessa por isso. O roteiro de Pedro Almodóvar (que é muito bem encenado pelas suas atrizes) quer desvendar o momento em que se decide voltar à vida. Pensemos um pouco na mãe de Raimunda e Sole. Como voltar a um mundo em que você não existe? Como viver e sentir dessa maneira? Talvez o maior propósito de sua presença, da sua volta, é devolver às filhas – e, de certa forma, à Agustina – a vida que elas deixaram para trás. E, a partir do momento em que se tem a volta, a ausência passa a ser insuportável. Isso é muito bem ilustrado na frase mais tocante de “Volver”, em que Raimunda olha para sua mãe e diz: “Preciso de você, mamãe. Não sei como consegui viver tanto tempo sem você”.

Cotação: 9,3

Crédito Foto: Yahoo! Movies



Jornalista e Publicitária


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