>O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland, 2006)
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Idi Amin Dada marcou seu nome na história como líder de uma das ditaduras mais sangrentas da história de Uganda. Assim como muitos outros governantes que acabam se perpetuando no poder nos países que formam o continente africano, Amin conquistou a liderança política de Uganda fazendo a promessa de um governo para o povo. Assim como muitos outros governantes que deixam o poder subir às suas mentes, Amin logo se esquece de suas promessas iniciais e reprisa as cenas de violência, censura e cerceamento que são tão conhecidas dos africanos. É justamente este personagem complexo, carismático e contraditório, o objeto principal do filme “O Último Rei da Escócia”, do diretor Kevin MacDonald.
A história do filme é contada pelo ponto de vista de Nicholas Garrigan (o excelente James McAvoy), jovem recém-formado em Medicina, e que ainda não sabe lidar com as pressões de sua família ou com os caminhos que o seu pai julga serem os melhores a se seguir. Nicholas ainda é inocente a ponto de pensar que pode mudar o mundo, por isso ele embarca rumo à Uganda, no continente africano, aonde trabalhará em uma missão coordenada pelo médico David Merrit (Adam Kotz) e sua esposa Sarah (Gillian Anderson).
Na África, Nicholas encontra um mundo completamente diferente do que conhecia. A alegria do povo esconde, na realidade, a escassez de recursos, a pobreza, a miséria e, principalmente, a violência. O contraste é ainda maior quando – a convite do presidente Idi Amin Dada (Forest Whitaker, numa performance que lhe rendeu o Oscar 2007 de Melhor Ator) – Nicholas vai para a capital do país (Kampala), um local mais moderno e organizado. Seduzido pela confiança que é depositada nele pelo próprio Amin, Nicholas abandona o idealismo e se entrega ao sistema quando aceita ser o médico particular do presidente e de sua família, bem como o conselheiro político do ditador.
No momento em que decidiu deixar a Escócia para ir à África, Nicholas julgou estar deixando uma prisão (que era dominada pelos valores e pelas expectativas de seus pais) para ir para uma terra aonde ele poderia ser livre para aprender e aproveitar a sua juventude. Mal ele sabia que, ao aceitar trabalhar para o regime, estaria entrando em uma outra prisão. E esta nova realidade é sufocante, dolorida e decepcionante. O isolamento de Nicholas se agrava ainda mais quando ele se envolve com uma das esposas de Idi Amin Dada, a bela Kay (Kerry Washington).
O excelente roteiro de “O Último Rei da Escócia” foi baseado no livro de Giles Foden e escrito pela dupla Jeremy Brock e Peter Morgan. Este último também foi o autor do roteiro de “A Rainha”, filme do diretor Stephen Frears. Os dois filmes têm em comum o teor político. A diferença entre eles é que, em “A Rainha”, o povo tem uma maior influência na política. “O Último Rei da Escócia” dialoga mais com filmes como “Diamante de Sangue”, de Edward Zwick, e “Hotel Ruanda”, de Terry George. Nestes três filmes, o homem branco é a ponte pela qual o mundo fica conhecendo a verdadeira realidade do continente africano. Os filmes dão voz àqueles que não podem falar. O chato é saber que, provavelmente, os nossos filhos e netos continuarão a assistir filmes como estes; afinal os governos do hemisfério norte continuam a ignorar aqueles que ajudaram a construir, praticamente, todas as nações do mundo.
Cotação: 9,5
Crédito Foto: Yahoo! Movies
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