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O Discurso do Rei

publicado em:1/03/11 10:41 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Olhando bem para o Príncipe Albert (Colin Firth), no decorrer de “O Discurso do Rei”, filme dirigido por Tom Hooper, você pode perceber que, se tivesse escolha, ele, talvez, não gostaria de ter se tornado o monarca supremo da Inglaterra (e ele ascendeu ao trono num momento delicado para seu país, no meio de uma crise familiar causada pelo casamento do irmão herdeiro do trono com uma mulher divorciada duas vezes; e também no meio de uma crise política que levaria a Inglaterra à entrada na II Guerra Mundial). Porém, também observando-o de uma forma mais atenta, a gente pode notar que ele sabia do seu dever como filho do Rei da Inglaterra, tanto que ele se esforça sobremaneira para superar aquele que era seu maior “defeito”, uma gagueira congênita, adquirida desde os 5 anos de idade.

O Príncipe Albert sabe que a verdadeira natureza de um líder envolve não só aspectos morais, como também elementos motivacionais. Com sua limitação pessoal, com a sua incapacidade de efetuar discursos longos ou até mesmo de conversar naturalmente, ele sabe que nunca poderia dar voz aos anseios de sua população, ele sabe que nunca poderia inflamar seus súditos de forma a fazê-los se sentirem representados pelo Rei ou de forma a sentir que eles contam com ele como exemplo de caráter e de responsabilidade. Está aí a importância, não só da perserverança do Príncipe Albert e de sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), assim como dos métodos utilizados pelo terapeuta Lionel Logue (Geoffrey Rush) para ajudar Albert  a vencer seu medo de falar em público e, principalmente, de tropeçar nas palavras.

Se “A Rainha”, filme dirigido por Stephen Frears, tinha um roteiro que enfocava o aspecto político da monarquia inglesa, “O Discurso do Rei” faz o papel inverso. Num momento em que a Monarquia inglesa renova o interesse do público a seu respeito (especialmente por causa do iminente casamento do Príncipe William com Kate Middleton), temos um filme que humaniza figuras históricas da Inglaterra (além do Príncipe Albert, temos a Rainha-Mãe Elizabeth, aquela que se tornaria a Rainha Elizabeth II e a Princesa Margaret) ao retratar um conto de superação e inspiração – que vai crescendo aos poucos até atingir um clímax arrebatador.

Como obra cinematográfica, “O Discurso do Rei” é aquele filme tecnicamente perfeito, quase que feito sob medida para agradar à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas – não foi à toa que o longa foi o líder de indicações ao Oscar 2011, com 12 citações, das quais ganhou 4, incluindo a mais importante (Melhor Filme). Por causa disso, tem atraído uma série de opiniões atravessadas a seu respeito. Tal recepção é até injusta com um filme que pode não ser tão impactante como “A Origem” ou tão contundente quanto “A Rede Social”. Entretanto, “O Discurso do Rei” merece méritos não só pela simpatia de sua história, como também pelo fato de que, nos seus 118 minutos de duração, consegue nos brindar com um pouco de tudo daquilo que o cinema tem de melhor.

Cotação: 9,0

O Discurso do Rei (The King’s Speech, 2010)
Direção: Tom Hooper
Roteiro: David Seidler
Elenco: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush, Guy Pearce, Derek Jacobi, Jennifer Ehle, Michael Gambon, Timothy Spall



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Comentários


Fiquei triste pelo filme ter ganhado nas categorias princiipais. Afinal, tinhamos “A Rede Social”, “A Origem” e “Cisne Negro”. Mas tudo bem. Estou tentando não julgar muito o filme, pelo fato de ainda não ter conferido…. Mas tá difícil, rs

[]s

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Concordo com você, “O Discurso do Rei” tem muitos méritos que agora talvez fiquem ofuscados para alguns por causa do relativo sucesso diante de obras mais fortes. Eu mesmo, inclusive.

Embora ache que o prêmio de Melhor Filme do ano é muita coisa pro Discurso e pro Tom Hooper, o filme diverte e entretem, sem dúvida, além de ser impecável tecnicamente. Collin Firth está excelente, assim como o Geofrey Rush. A comportada Bonham Carter aqui também contribui pras cenas se tornarem de alta qualidade.

Realmente gostei muito de O Discurso, mas não passará de uma nota 9 e nem de longe será marcante pra mim como Cisne Negro, A Origem e mesmo A Rede Social.

Talvez o filme me conquistasse mais se ficasse exatamente no seu lugar de coadjuvante da temporada. É bom, mas acho que não era pra tanto.

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De fato, Kamila, é um filme que terá suas qualidades ofuscadas pelo excesso de prêmios recebidos. Não era mesmo o melhor filme do ano, nem de longe, e, como você já bem listou, haviam concorrentes muito superiores na lista de indicados. A começar pelo A REDE SOCIAL, claro. Entretanto, O DISCURSO DO REI é um bom drama, com um elenco bem conduzido pelo Hooper, e com uma história redondinha que emociona mesmo. Gosto muito do clímax, por sinal.
Ah, deixa eu te falar: publiquei lá no blog um texto analisando rapidamente o Oscar, e realizando uma comparação entre A REDE SOCIAL e CIDADÃO KANE. E, se não me engano, você foi a primeira blogueira que vi fazer essa comparação, que me atentou para as semelhanças, quando publicou aqui a cena final do filme do Fincher. Não foi isso? Se puder, dá uma olhada lá no texto e me diz o que acha.
Abraço.

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Raspante, o negócio é não julgar o filme antes de conferí-lo. Abraços!

Victor, seu comentário tá perfeito e assino embaixo!

Wallace, concordo com seu comentário e vou lá dar uma lida em seu texto! Abraços!

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Achei o filme bom, mas muito quadradinho. Pra mim o Colin Firth só levou o Oscar por conta do A Single Man do ano passado. Neste filme o Geoffrey Rush rouba todas as cenas, e podia muito bem virar o ator principal. Aliás, a história da personagem de Rush quase vira a principal ao longo do filme…

Agora o que me incomodou mesmo foi o mau uso das lentes na fotografia. O cara tentou criar uma linguagem usando a distorção da grande angular, mas acabou desgastando de tanto usar quase aleatoriamente ao longo do filme… uma pena, pois poderia ter usado à seu favor.

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Leo, também acho que ‘A Single Man’ teve grande influência na vitória do Firth esse ano, mas discordo que, aqui, Rush roube todas as cenas.

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Belo texto, Kamila. A defesa está ótima, realmente o filme é tecnicamente perfeito e seus méritos em todos os quesitos acabaram somando para torná-loo escolhido da Academia. A frustração é que todos esperavam a premiação de algo inovador, coisa que a academia vai demorar a fazer.

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Kamila, adorei a tua análise! Legal ver alguém defendendo esse filme que está sendo injustamente massacrado por todos. “O Discurso do Rei” tem sim várias virtudes!

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Eu gostei de O Discurso do Rei, é um cinema britânico por excelência, bem contado, ótimas interpretações, e um visual que só os ingleses sabem fazer (filmes de época). Já a Rede Social é um ótimo trabalho de David Fincher (não o melhor), que vem se destacando pela sua flexibilidade nos últimos trabalhos: o visual moderno e inovador de Seven e Clube da Luta, para o convencional e adocicado Caso de Benjamim ao cinema maduro e eficiente de Zodiaco.

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Amanda, obrigada! Mas, é isso que a gente tem que fazer mesmo. Analisar a obra de forma fria e independente, sem qualquer tipo de influência externa.

Matheus, obrigada! 🙂

Fabrício, concordo contigo, na análise dos dois filmes.

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Oi Kamila, parabéns pela ótima análise. Gostei muito do filme, também não acho que seja necessariamente o melhor do ano , mas tem seus méritos. Dentre os pontos altos, está inclusive a atuação da Helena Bohan Carter, fazendo um tipo bem diferente do que andava fazendo e com certeza Colin Firth e mister Rush.

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Enfim, arremataste bem a questão. É um belo filme, o que não faz dele o melhor do ano. Mas não é por causa disso que deve ser malhado injustamente.
Bjs

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Flávio, obrigada! Eu achei a Helena bem sólida, mas não a destacaria tanto assim dentro do elenco.

Anderson, concordo!

Reinaldo, exatamente. Beijos!

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Não sei se considero o filme tecnicamente perfeito, ou realizado para agradar a academia, até pq o Oscar ultimamente tem rejeitado isso, vide Avatar, mas acho o filme bom, mediocre, e que se sustenta no trio central, eles sim estão ótimos.

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O que mais gostei no filme é essa identificação imediata do problema que o Bertie está passando. Essa identificação não só pela gagueira, mas também por ser adquirido para pessoas que tem dificuldades de falar em público, timidez. A direção do Tom Hooper é correta (gostei dos closes no microfone), mas só isso mesmo. E Colin Firth numa bela atuação.

Beijos! 😉

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É um belo filme. Bem dirigido, com um ótimo roteiro e atores em seus melhores momentos. Não posso pedir mais.

Bjs!

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Cassiano, não diria que o filme é medíocre. É legal e interessante.

Mayara, exatamente. Concordo. Beijos!

Otavio, eu também não posso pedir mais do que isso. Beijos!

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Gosto do filme e fiquei feliz por ele ter ganho o Oscar. Não é e jamais será um dos melhores filmes da história, mas tem qualidades que as pessoas estão fazendo questão de não admitir por birra.

Adorei a review.

Parabéns!!

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Acho que o problema sou eu, pois achei esse filme tão tão distante, uma história tão fraca (comparada aos outros indicados) tão pouco impactante e esquecivel -, mas, reconheco todos os méritos tecnicos.

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Carissa, eu gosto do filme, mas não fiquei feliz de ele ter vencido o Oscar, porém entendo o triunfo dele. Obrigada!

Cleber, pois é…

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O Filme é bom,longe de ser uma obra prima,vai lá umas 3 estrelas.Mas em um ano que tivems filmes originais como Cisne Negro,A Rede Social e A Origem o filme de Tom Hooper não é superior.O tempo é o sr. da razão Kamila e vamos ver se esse filme vai envelhecer bem.Achei nota 9,0 exagerada.Um 8,0 tá de bom tamanho,beijos.

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Ainda que um trabalho MUITO convencional, redondo e nada inovador – mesmo assim, o filme é uma delícia de se ver. Cativa, diverte, emociona mesmo! É impressionante como eu gostei desse filme. Ainda mais pelo bom roteiro de David Seidler e da maneira como Colin Firth (que por sinal está maravilhoso, em momento INSPIRADO) conduz seu personagem, oscar merecido. Geofrey Rush é seu contraponto perfeito, gosto muito das cenas de ambos, como você bem pontuou no texto.

A direção de Tom Hooper é segura, aliado pela trilha sonora perfeita de Alexandre Desplat. Eu gostei do filme, só acho que não merece os Oscar de filme e direção – “Cisne Negro” ou mesmo “A Origem” que são, ao meu ver, merecedores disso. E eu gostaria de ver Helena Bonham Carter premiada por esse filme, mas por ser uma personagem contida, sabemos que as outras concorrentes foram mais nítidas.

Muita gente odiando este filme, uma pena. Enfim, eu gostei.

Beijo!

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Paulo, exatamente!!! Vamos ver se a obra envelhece bem! Beijos!

Cristiano, concordo que é uma obra delícia de se ver, apesar de todas as características que você aponta. Seu comentário tá ótimo! Concordo! 🙂 Beijo!

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Maldito hype gerado pelas indicações do BAFTA e do Oscar. Graças ao ódio cego dele ter levado Melhor Filme, muitas pessoas deixam de conferir uma obra esplêndida por puro preconceito – coisa que acho incabível.
Seu último parágrafo tirou as palavras do meu teclado, Kamila.
bjs

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