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O Profeta

publicado em:16/03/11 11:39 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Uma coisa que fica muito notável no decorrer dos 155 min. de duração do filme francês “O Profeta”, do diretor Jacques Audiard, é a transformação pela qual passa o personagem principal, Malik El Djebena (Tahar Rahim). Ao mencionar isso, não me refiro às mudanças físicas que são naturais a qualquer pessoa, mas sim às transformações emocionais, já que fica claro que, quando El Djebena chega à prisão a qual foi condenado a passar seis anos, ele é alguém sem qualquer tipo de confiança e de força. Muito diferente do tipo dominador e cheio de si com os quais somos deparados no ato final de “O Profeta”.

De certa forma, este filme enfoca justamente este processo de mudança pelo qual passa o personagem principal. Para fazer uma analogia dentro do próprio mundo escolhido por El Djebena para viver (o do crime), é como se “O Profeta” nos mostrasse como um criminoso de pequeno porte pode se transformar em um grande chefão com direito a todos os clichês que ele tem direito (capangas, erros, o temor e o respeito dos outros, entre outros). Neste sentido, é muito importante frisar o próprio caráter de El Djebena. A fragilidade e o temor dele diante de sua nova realidade (a prisão) são talvez a maior força motriz que o personagem poderia encontrar para começar uma difícil fase de afirmação dentro da própria penitenciária. Na medida em que ele vai crescendo na cadeia dos presos e caindo ainda mais na rede de proteção do chefão César Luciani (Niels Arestrup), você tem a certeza de que El Djebena não é tão besta quanto você imaginava. Ele pensa grande e age  em prol de si mesmo. É justamente esta característica que o leva ao topo.

Chama a atenção em “O Profeta” o estilo de filmar do diretor Jacques Audiard. Estamos diante de uma obra da escola cinematográfica francesa, que é um tanto tradicional e clássica, mas, neste filme, o diretor imprime um ritmo muito ágil e moderno à sua obra, com recursos narrativos e cinematográficos que são próprios de outras escolas cinematográficas, notadamente a norte-americana. É um longa que faz um retrato, não só da ascensão de um homem no mundo do crime, mas como também, de uma certa maneira, é um relato de uma história de sobrevivência dentro de um mundo em que rato come rato.

Na temporada de premiação 2009-2010, “O Profeta” teve um excelente desempenho, chegando a ser indicado tanto ao Globo de Ouro como ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Apesar de não ter vencido nenhum dos dois prêmios, o reconhecimento a uma obra desse tipo merece ser comemorado. “O Profeta” é uma representação fiel do cinema ecoando questões inerentes à sociedade. É um forte relato, com algumas cenas muito difíceis de serem assistidas, que ocorre a seu próprio tempo e encontra ressonância na excelente performance de Tahar Rahim e na direção sólida de Jacques Audiard.

Cotação: 8,0

O Profeta (Un Prophète, 2009)
Direção: Jacques Audiard
Roteiro: Thomas Bidegain e Jacques Audiard (com base no roteiro escrito originalmente por Abdel Raouf Dafri e Nicolas Peufaillit)
Elenco: Tahar Rahim, Niels Arestrup, Adel Bencherif, Hichem Yacoubi, Reda Kateb



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Comentários


Não tinha olhado por esse lado, mas realmente esse é um cinema fracês bem hollywoodiano. rsrsrs Gostei do ritmo do filme, do elenco e especialmente da direção. Um dos melhores estrangeiros desse último ano, de longe o melhor há um bom tempo para o cinema “não-hollywoodiano”. Deu vontade até de rever. É uma abordagem até diferente do que estamos acostumados a ver sobre a vida num presídio.

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Alexsandro, eu também gostei muto do ritmo, do elenco e da direção. Um excelente filme!! Concordo com sua frase final!

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Jacques Audiard demonstra mais uma vez sua competência, como já tinha feito em DE TANTO BATER MEU CORAÇÃO PAROU, apesar das críticas de uma certa tendência do cinema francês, grande escola mundial da sétima arte, estar se americanizando. Tolice.

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O filme é realmente muito bom. Mesmo nós brasileiros já termos uma relação de amor e ódio com este estilo de filme [carandiru…], este longa cumpre o que promete e consegue sair do meio comum.

Muito bacana!
[]s

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Hneto, esse foi o primeiro filme do diretor que eu assisti. Pelo seu comentário, percebo que você não leu meu texto todo. Eu não generalizei, dizendo que a escola francesa está se americanizando. Eu falei que este filme, em particular, tem influências da linguagem hollywoodiana. E nem assim diminuí o filme, por causa dessa afirmação. Reforcei a sua qualidade, especialmente a da direção de Audiard e da performance do ator principal…

Raspante, concordo.

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Kamila, li o seu texto totalmente.
Me referia aos críticos de uma maneira geral, pois esse foi o viés que eles escolheram na época do lançamento de O Profeta.

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Um grande filme, sem dúvida algumas, que vem justamente recebendo comparações com O poderoso chefão. Vc abrilhanta o debate ao chamar a atenção para as claras influências absorvidas por Audiard. O cinema americano de gênero vinculado com a vocação do cinema francês resultou em uma obra perene.
Bjs

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Amanda, espero que assista.

Hneto, entendi.

Reinaldo, eu não consigo entender a comparação com “O Poderoso Chefão”. São duas obras tão diferentes. Obrigada! Beijos!

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Estou com este filme em casa, mas ainda não tive tempo para conferir.

A curiosidade é grande.

Até mais

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Um dos melhores do ano passado, junto com O Segredo dos seus olhos. É outro visão sobre esse mundo mafioso, menos glamourizado do que aquela época dos gângsters de terno-e-gravata, bebendo champanhe e morando em casarões. Gostei muito também!

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Bom ver um olhar diferenciado para o tradicional “filme de máfia”. “O Profeta” tem um ótimo roteiro e dois bons atores: Tahar Rahim e Niels Arestrup.

Bjs!

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Hugo, espero que o assista e goste! Até mais!

Roberto, eu concordo com sua visão sobre a obra.

Otavio, com certeza, é ótimo ver esse olhar diferenciado nesse gênero. Concordo em relação ao roteiro e aos dois atores. Beijos!

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Meu filme preferido do ano passado. Sem dúvidas, acho que ele mexeu um pouco com o cinema francês em geral (de lá para cá, as obras estão tomando uma consistência que há tempos não existia). Audiard.é um diretor genial que transformou a atuação de Rahim em um marco para mim.

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Kamila a cena em que um carro colide com um cavalo foi um dos maiores “show de fotografia” que eu vi na minha vida(e olha q não vi poucos filmes).A montagem lembra Cidade de Deus e faz tanto tempo que eu vi esse filme e a história não saiu da minha cabeça.Se Don Corleone é o maior mafioso do cinema americano e Zé Pequeno é o gangster brasileiro,podemos dizer que a versão francesa dos filmes de Coppola e Meirelles é O Profeta.Meu filme estrangeiro favorito do ano passado.Beijos.

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O filme fez grande sucesso também na França, ganhou o prêmio do Júri em Cannes. Mas sabe que eu não o vejo assim como um grande filme!! Essa coisa da mudança gradual do personagem é bastante interessante, mas acho que no terço final do filme isso se perde. As atuações do protagonista e do Niels Arestrup são ótimas.

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No âmago são diferentes, mas na superfície se assentam sobre a mesma lógica do chefe criminoso acidental. Do tipo que não escolhe, mas é escolhido…
Do ambiente criminoso como formador do caráter, ainda que este seja moralmente dúbio…
enfim…
bjs

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Paulo, concordo que a montagem lembra “Cidade de Deus”. E com seus comentários sobre esta ser a versão francesa do filme brasileiro. Beijos!

Rafael, seu comentário tem fundamento, mas discordo dele. Ficamos na concordância somente em relação às duas atuações citadas.

Reinaldo, exatamente. Beijos!

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No geral, gostei do filme, mais ainda nos minutos finais. Mas, achei um pouco cansativo sim e acho que poderia ter 20 minutos menos. Beijo

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É um filmaço. Tahar Rahim e Niels Arestrup dão show de interpretação.
Por mais que a trilogia O PODEROSO CHEFÃO esteja num outro patamar cinematográfico, acho interessantes as comparações feitas entre O PROFETA e o clássico de Francis Ford Coppola, especialmente no que diz respeito a transformação emocional passada por seus protagonistas (algo que você ressaltou bem como sendo o centro da narrativa do filme de Audiard).

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Cristiano, também acho que é uma obra bem longa. Beijo!

Wallace, os dois atores realmente dão um show de interpretação. Eu também acho interessante essas comparações, mas não vejo mesmo a semelhança entre ambas as obras.

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Assisto hoje (16/06/2011) não sabia do que se tratava, meu pai me chamou pra assistir… Filmaço! Protagonista fantástico…. agora tenho uma pequena crítica a fazer sobre as feições dele no final do filme… quando os carros o seguem seu rosto demonstra preocupação, tipo, “o que será que vai acontecer agora?” e não de “consegui tudo o que eu queria agora” entendem…

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