logo

Rock Brasília: A Era de Ouro

publicado em:5/01/12 11:32 PM por: Kamila Azevedo Cinema

No início da década de 80, a música brasileira se deparou com um movimento musical diferente, que fugia do eixo Rio-São Paulo e dos apadrinhamentos que são típicos da indústria fonográfica. O grupo marcou época por causa de letras que eram um retrato bastante fiel da transição entre uma realidade de ditadura e uma conjuntura mais democrática com o voto direto. O pop/rock dos anos 80 teve vértices, é importante dizer, em várias partes do Brasil, mas o núcleo que interessa ao documentário dirigido por Vladimir Carvalho foi aquele oriundo de Brasília, a capital federal, mais precisamente o pátio localizado em frente aos edifícios da Colina, durante tardes que reuniam adolescentes de classe média alta filhos de professores universitários, diplomatas e embaixadores.

“Rock Brasília: A Era de Ouro” tem o objetivo de mostrar as particularidades do cenário nos quais estes jovens – alguns deles: Renato Russo, Dado Villa Lobos, Marcelo Bonfá, Fê Lemos, Flávio Lemos, Philippe Seabra, André Mueller, Bi Ribeiro e Herbert Vianna – despertaram para o caminho musical, iniciando, primeiramente, uma revolução dentro da própria cena musical brasiliense, para, depois, seguirem suas próprias trajetórias nos grandes centros culturais do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo. Por meio de depoimentos colhidos com aqueles que foram os protagonistas desta história, Vladimir Carvalho traça um importante paralelo que mostra, não só a importância desses jovens para a afirmação de uma atitude que era necessária para aquela época, como também relata todo o processo de amadurecimento deles, que foram aprendendo os percalços e elementos traiçoeiros da carreira musical na medida em que já estavam nela, cometendo erros e acertos que são típicos de quem ainda está crescendo.

Em termos narrativos, “Rock Brasília: A Era de Ouro” não nos apresenta fatos novos. Tudo que está em tela, nós já conhecemos. Sabemos que estes jovens tiveram a chance de morar fora do Brasil e, de países como a Inglaterra, trouxeram a influência punk que seria uma característica forte do movimento musical deles. Sabemos que a cena musical brasiliense deslanchou com o nascimento do Aborto Elétrico, banda que reunia Renato Russo e os irmãos Fê e Flávio Lemos, e que foi a origem para outros tantos conjuntos como Capital Inicial, Legião Urbana e Plebe Rude. Sabemos que, salvo a exceção da Legião Urbana, as outras bandas tiveram carreiras bastante irregulares – o Capital Inicial, por exemplo, só se transformou em um conjunto de ponta no final da década de 90, início dos anos 2000.

A grande novidade, talvez, com a qual Vladimir Carvalho nos brinda é mostrar o outro lado destes jovens: os seus pais. Em “Rock Brasília: A Era de Ouro”, eles estão presentes por meio dos depoimentos de Briquet de Lemos (pai de Fê e Flávio Lemos), de Sílvia Seabra (mãe de Philippe Seabra) e de Carminha Manfredini (mãe de Renato Russo). Todos eles intelectuais, pessoas de mente aberta e que foram extremamente incentivadores das carreiras de seus filhos na música. São deles, talvez, alguns dos melhores – e mais emocionantes – momentos de um documentário que é uma prova concreta de que a arte tem o poder, sim, de ser relevante para a compreensão da sociedade na qual estamos inseridos. Isso se encaixa ainda mais no propósito do diretor Vladimir Carvalho com esse filme, uma vez que “Rock Brasília: A Era de Ouro” encerra uma trilogia (ainda composta por “Barra 68 – Sem Perder a Ternura” e “Conterrâneos Velhos de Guerra”) que tem como objeto de estudo a construção ideológica e cultural da capital do Brasil.

Cotação: 7,5

Rock Brasília: A Era de Ouro (2011)
Direção: Vladimir Carvalho
Roteiro: Vladimir Carvalho
Elenco: Mayrton Bahia, Marcelo Bonfá, Marcelo Castello Branco, Briquet de Lemos, Flávio Lemos, Fê Lemos, Carmen Tereza Manfredini, Carminha Manfredini, Carlos Marcelo, André Mueller, Dinho Ouro Preto, Bi Ribeiro, João Barone, Herbert Vianna, José Emílio Rondeau, Renato Russo, Philippe Seabra, Silvia Seabra, Caetano Veloso, Hermano Vianna, Dado Villa Lobos



Jornalista e Publicitária


Comentários


Gostei de saber que tem depoimento dos pais dos rockeiros.Gosto de rock brasileiro.Caiu nas minhas mãos vai imediatamente para a bandeja do DVD.Bjs,

Responder

Ainda não vi esse doc, mas sigo muito curioso por ele. Acho que esse foi um dos momentos mais felizes do rock brasileiro e, como vc bem sugere na parte final de seu texto, responsável pela afirmação cultural e social da capital do país.
bjs

Responder

Reinaldo, também acho que esse foi um dos momentos mais felizes do rock brasileiro. E, nesse gênero, talvez, o último grande movimento musical que o Brasil viu. Beijos!

Responder

Uma época de ouro mesmo, concordo com você que o depoimento dos pais foi um plus, trazendo momentos emocionantes. Só achei que o documentário poderia ter mais música e excluir aquelas encenações lamentáveis.

Responder

Dos pais? Sensacional! E concordo com Amanda, senti falta um pouco de música.

Responder

Cleber, quando conferir, volta aqui pra dizer se gostou ou não do filme.

Amanda, eu concordo que o documentário poderia excluir aquelas encenações, que em nada acrescentaram à história.

Luís, sabe que eu até fiquei satisfeita com o tanto de música que teve no documentário?

Responder

Essa época realmente moldou o nosso país, pena que não deixou legado para as futuras gerações, talvez o maior erro deles.

Responder

Torço SEMPRE o nariz pra Legião Urbana, que considero uma banda de política teen, que é piorada ainda mais com os fãs alienados que acham que o melhor compositor de rock do Brasil seja o Renato Russo – pra citar 2 melhores: Cazuza e Raul Seixas. Portanto, quando o documentário entrou em cartaz e havia o Renato Russo com bastante destaque no pôster, não me interessei (não gosto de Capital Inicial também). Mas confesso, não sabia que o Herbert Viana tava no filme, porém, pra todo caso, vi ele bastante no lindo “Herbert de Perto”, que eu recomendo muitíssimo – chorei assistindo!

Responder

Cassiano, eu concordo que não deixou quase nenhum legado, especialmente porque as bandas remanescentes desse período, como Capital Inicial, mudaram tanto a sua proposta…

Júlio, eu adoro Legião Urbana e discordo dos seus comentários sobre a banda e Renato Russo – apesar de achar que ele também não é o melhor compositor de rock do Brasil. Ele é um dos melhores. Eu ainda não assisti “Herbert de Perto”. Como fã de Paralamas, preciso conferir logo.

Responder

A LEGIAO URBANA VAI ACABAR COM A AGUA DO MAR E OS INOCENTES VAO SAIR DOS PRESIDIOS
HA TEMPOS,ANDREA DORIA,VAMOS FAZER UM FILME
ESSA FOI A VITORIA DA LEGIAO URBANA.

Responder

Marks, inegável que Legião Urbana é uma das mais importantes bandas do rock nacional.

Responder

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.