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Os Descendentes

publicado em:10/02/12 10:43 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Um detalhe já chama logo a atenção em Matt King (George Clooney), protagonista de “Os Descendentes”, filme dirigido por Alexander Payne: ele está diante de vários momentos cruciais de sua vida, como a venda do último terreno que herdou e que renderá milhões para a sua família, a sua esposa está em um coma irreversível e ele não consegue sair de um relacionamento desintegrado com as duas filhas – Alexandra (Shailene Woodley, uma revelação) e Scottie (Amara Miller) -, mas a única notícia que realmente o abala é a revelação de que Elizabeth (Patricia Hastie), sua esposa, o traía. Isso que vai mexer por completo com as estruturas de alguém que estava vendo essas situações como uma chance de poder modificar quem ele era e recomeçar do zero a sua vida.

O roteiro de “Os Descendentes”, que foi escrito por Alexander Payne, Jim Rash e Nat Faxon, aborda o período de dias que se segue à descoberta da traição de Elizabeth e da decisão dos médicos de desligarem os aparelhos que a mantinham viva. Neste tempo, Matt King tenta juntar os cacos (leia-se: compreender as razões que levaram a sua esposa a traí-lo) e encontrar o equilíbrio necessário para poder retomar a sua vida e, principalmente, a conexão com suas duas filhas. Aqui, temos mais uma surpresa em relação à personagem principal, uma vez que Matt encara com uma serenidade muito grande tudo que acontece em decorrência desses dois fatos.

O filme pode não ter essa estrutura narrativa, mas “Os Descendentes” lembra muito um road movie, onde a personagem principal tem que passar por toda uma determinada jornada para poder aprender algo sobre si mesmo. No caso de Matt King, a trajetória dele é tirar da sua dor aquilo que ele precisa para poder aprender a perdoar e colocar de lado qualquer ressentimento que ele tenha para deixar toda a sua vida na maior normalidade possível, de forma a não afetar tanto as suas filhas e aquilo que ele passou a planejar para si mesmo.

O diretor Alexander Payne é muito afeto aos temas dos relacionamentos humanos. Aqui, ele pega uma história que é relativamente simples e comum e transforma num filme comovente. Ancorado pela excelente performance de George Clooney (indicado ao Oscar 2012 de Melhor Ator, prêmio ao qual ele era o favorito absoluto), que mostra, pela primeira vez, uma vulnerabilidade como ator, “Os Descendentes” nos lembra que, muitas vezes, a vida é tão normal que é preciso que aconteçam fatos extraordinários para nos fazer dar valor àquilo que é justamente ordinário, uma vez que são estes instantes mesmos que acabam fazendo de nós aquilo que somos – e isso está muito bem representado pela cena que fecha o filme, nos créditos finais, que, de tão normal, acaba sendo extremamente comovente, pois nos dá aquela sensação de que, no final, tudo vai terminar bem para Matt e sua família.

Cotação: 9,5

Os Descendentes (The Descendants, 2011)
Direção: Alexander Payne
Roteiro: Alexander Payne, Jim Rash e Nat Faxon (com base no livro de Kaui Hart Hemmings)
Elenco: George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller, Nick Krause, Patricia Hastie, Beau Bridges, Robert Forster, Matthew Lillard, Judy Greer



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Comentários


Realmente a cena final é bem comovente, mas sem ser apelativa. Kamila, como vc já leu no museu discordo do Clooney, porém devo reafirmar que ele tá vulneravel mesmo, como vc disse aqui e lá.

Só acho que muitas vezes ele exagera na personificação. Por exemplo no momento em que ele conversa com o namorado (amigo) da filha e ele lhe diz que o pai morreu, ele faz uma expressão meio do absurdo, mas enfim…

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Cassiano, eu juro que não consegui perceber essas coisas. Acho que essa foi a primeira vez MESMO que eu gostei por completo de uma atuação do Clooney.

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Kamila,Alexander Payne aborda o tema da eutanásia também?na sua critica vc cita que Clooney decide por desligar os aparelhos que mantinham a esposa viva.No terceiro paragrafo vc lembra que a narrativa lembra um road movie.Em “As Confissões de Schimidt” e “Sideways” Payne opta pelo road movie(no filme de Nicholson somente na segunda parte do filme).Kamila,vc me deixou muito ansioso rsrsrs,não faz isso comigo não menina.Obrigado por não contar o final do filme.Beijos.

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Para mim esse filme tinha a obrigação de ser mais interessante, fugir do lugar-comum e desenvolver melhor seus coadjuvantes. O roteiro é cheio de maneirismos, e as resoluções são fáceis demais; se não fosse um produto made by Alexander Paine, seria até compreensível, mas um cara que fez quatro filmes fabulosos entregar “Os Descendentes” e ainda chegar com chances reais ao Oscar… Não gostei mesmo. Só o Clooney está acima do bem e do mal.
Beijos!

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Pois é Ka, eis aí um belo filme. Com um ótimo e afinado elenco. Só não acho, e isso eu já disse outras vezes, que é a primeira vez que Clooney se mostra vulnerável. Em Amor sem escalas, por exemplo, acho, inclusive, que o personagem era mais difícil e Clooney estava mais vulnerável nele. Além, é claro, de considerar aquela performance superior… mas isso já é outro papo.
Bjs

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Paulo, não, ele não aborda o tema da eutanásia, porque os médicos tentam de tudo para salvar a esposa dele e decidem desligar os aparelhos somente quando todos os recursos foram exauridos. Beijos!

Weiner, eu discordo da sua opinião. Beijos!

Reinaldo, em “Amor sem Escalas”, pra mim, Clooney interpreta a si mesmo! Beijos!

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““Os Descendentes” nos lembra que, muitas vezes, a vida é tão normal que é preciso que aconteçam fatos extraordinários para nos fazer dar valor àquilo que é justamente ordinário” – Boa definição, é um filme simples, sem ser simplista, gosto do filme também.

bjs

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Também gostei muito do filme… dei 9.

“a vida é tão normal que é preciso que aconteçam fatos extraordinários para nos fazer dar valor àquilo que é justamente ordinário, uma vez que são estes instantes mesmos que acabam fazendo de nós aquilo que somos ”

PARABÉNS pelo texto e principalmente por esse trecho!

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Otimo texto, Kamila, Os Descendentes é um dos meus preferidos na corrida do Oscar. Clooney perfeito na desconstrução de um estereotipo.

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Celo, obrigada! Também é um dos meus favoritos entre os filmes do Oscar e concordo sobre o Clooney.

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é um filme lindissimo mesmo e singelo na mesma proporção, algo que já era de se esperar de um filme dirigido por payne, que mais um vez provou ser mais roteirista do que diretor, mas que de qualquer forma executou o filme de forma maravilhosa. o elenco, soberbo, clooney está deliciosamente bem como matt king, adorei no geral.

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Cleber, sim, é um filme bonito e singelo. Não sou a maior fã do Payne como diretor, mas tenho que reconhecer a qualidade dessa obra. Adorei o Clooney!

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O Alexander Payne, desde “As Confissões de Schmidt”, me decepciona um pouco mais a cada filme. Achei “Os Descendentes” normal demais. Só destaco a grande atuação do George Clooney (a cena final dele com a esposa é de cortar o coração).

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Matheus, realmente, “Os Descendentes” é um filme normal, mas não acho isso decepcionante. Concordo em relação à atuação do Clooney.

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‘Os descendentes’ é um filme super dramático, eu acho, mas de uma forma positiva. É uma ótica quase que incabível porque, como se não bastasse o cara perder a mulher e estar distante das filhas que agora tem que criar (o que já daria uma história muito bacana) tem a questão da traição e da venda das terras… Não sou entendida de cinema mas amei a atuação do Clooney também. Concordo com o Matheus daí de cima sobre o filme ser ‘normal’ mas acho que as grandes obras de hoje impressionam justamente por conseguir trazer uma nova visão, uma nova percepção sobre coisas que acontecem ao redor o tempo todo e nos emocionar apesar disso.
A última cena é incrivelmente singela e doce e o Clooney sofre tanto junto com o personagem… Gostei bastante!

A-do-ro o blog!

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Wow, que notão!

Eu gostei de “Os Descendentes”, mas o filme não me pegou como eu gostaria, sabe? Vou criticá-lo em breve no blog para expor a minha opinião com mais argumentos, mas achei a sua base narrativa um pouco frágil demais. Não fui seduzido pela história, pelos sentimentos dos personagens, nada… o filme tem muitas cenas desnecessárias e informações q não contribuem tanto para a trama central, mas enfim, vou detalhar isso melhor depois.

Clooney está mesmo muito bom! E Woodley está melhor q 80% das indicadas ao Oscar na categoria q ela deveria estar =]

Bjs, Ká.

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Rafaele, também acho que “Os Descendentes” tem um lado dramático bastante positivo. Pois é, o personagem do Clooney está passando por vários momentos delicados e enfrenta isso de uma maneira muito bonita, muito serena. E eu vejo a normalidade desse filme de uma forma excelente. Acho que isso é um reflexo de um filme que fala sobre a vida comum, uma rotina que poderia ser de qualquer um de nós. O Clooney é um dos grandes destaques, sem dúvida, do filme. Muito obrigada! 🙂

Elton, olha, eu discordo da sua visão. Achei a história bem fundamentada, acho que os personagens possuem um carisma importante que faz com que a gente queira se importar com eles e com o destino deles. Eu ainda não assisti a muitas das indicadas em Atriz Coadjuvante, somente a Woodley e eu concordo que ela está excelente. Uma atuação sutil, mas muito natural. Ela é uma agradável revelação. Beijos!

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Filmaço! E você tocou num ponto interessante. É mesmo um road movie. Mais um na carreira de Alexander Payne, fiel ao seu estilo. Parabéns pelo texto! Um dos melhores que você fez. Curto, simples, direto ao ponto.

Bjs!

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Filmaço!!
Sensível e humano!
Payne não erra!

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Gustavo, aí eu já discordo um pouco de você… Eu acho que o Payne errou feio em “Sideways – Entre Umas e Outras”, um filme que é bastante superestimado.

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