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Tudo pelo Poder

publicado em:5/03/12 11:59 PM por: Kamila Azevedo Filmes

Ao que tudo indica, o cinema anticlimático de David Fincher anda fazendo escola. É só prestar atenção ao estilo de filmar de George Clooney na sua obra mais recente, “Tudo Pelo Poder”. Baseado em uma peça teatral, o filme acompanha os bastidores das prévias da campanha pela indicação do Partido Democrata à Presidência da República dos Estados Unidos da América com um distanciamento emocional e uma frieza que chama a atenção.

Além da influência do estilo de David Fincher, em “Tudo Pelo Poder” também encontramos reminiscências do próprio modo de dirigir que George Clooney adotou em obras como “Boa Noite e Boa Sorte”; uma vez que, aqui, também temos o uso da câmera como uma forma de fazer um retrato documental de uma história com contornos jornalísticos e personagens que são perfeitamente delineados, quase como se fosse um registro de uma determinada época.

Stephen Meyers (Ryan Gosling) é o braço direito de Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), Chefe de Campanha do Governador da Pensilvânia, Mike Morris (George Clooney), à indicação do Partido Democrata para a candidatura à Presidência dos Estados Unidos. Estamos num ponto crucial da corrida pelos votos: a prévia do Estado de Ohio, uma das localidades que é o fiel da balança do complicado sistema eleitoral norte-americano. Stephen é uma estrela em ascensão no campo da estratégia política. Uma campanha bem sucedida com Morris pode significar a mudança por completo em sua carreira profissional. O problema é que Stephen é idealista e ainda não ganhou o cinismo que é uma marca importante – e uma necessidade, essa é a verdade – daqueles que praticam o jogo político. O interesse do roteiro de “Tudo Pelo Poder” é mostrar e testemunhar esse instante de virada em que Stephen ganha a consciência de que, para conseguir aquilo que ele quer, ele tem que abandonar todo e qualquer tipo de escrúpulo que ele possua.

Se existe algo de importante em “Tudo Pelo Poder” é a oportunidade que o filme nos oferece de entrar por completo nos bastidores do jogo da política. O longa é muito sincero nesse ponto, ao mostrar que não existem mocinhos ou bandidos, que não existem boas ou más intenções; o que vale aqui é um instinto de sobrevivência. Nesse sentido, Clooney desponta sozinho no atual cinema norte-americano como o diretor que mais retrata as nuances da sociedade norte-americana como nenhum outro. Aqui, ele reprisa seu melhor momento como diretor, que havia ocorrido no já citado “Boa Noite e Boa Sorte”, um filme que, também, curiosamente, tem um lado político bastante forte.

Cotação: 8,5

Tudo Pelo Poder (The Ides of March, 2011)
Direção: George Clooney
Roteiro: George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon (com base na peça teatral escrita por Willimon)
Elenco: Ryan Gosling, George Clooney, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Evan Rachel Wood, Marisa Tomei, Jeffrey Wright, Max Minghella, Jennifer Ehle, Gregory Itzin



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Comentários


Também gostei bastante deste filme de Clooney. “Tudo pelo Poder” merecia mais nomeações no Oscar (incluindo melhor filme). Ele é um cara engajado e bastante competente no que faz. Abraço.

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Você apontou bem a característica de desnudar a sociedade norte-americana sem, digamos, “panos quentes”. Gosto muito do filme, da forma como ele vai nos envolvendo, da trajetória do personagem de Ryan Gosling de crente a cínico. Enfim, merecia mais.

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Muito bom esse filme, gosto do tom político, mas sem ser extremamente provocador. É realista. E a forma como a boa direção de Clooney – ele devia se dedicar mais a essa profissão, né? Ao meu ver, é melhor atrás das câmeras que interpretando ele próprio, rsrs – evidencia cada camada interpretativa de Gosling e cia é de cair o queixo. Por sinal, o filme merecia figurar no Oscar 2012. Eu gostei muito e acho que merecia indicações, principalmente pro roteiro, direção e até Gosling, possivelmente.

Beijo, Ka!

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Houldine, depois de assistir ao filme, concordo que merecia mais nomeações ao Oscar. O Clooney é politizado, engajado e gosto disso nele. Abraço!

Amanda, eu também gosto muito do filme, por causa desses elementos que você mesma citou. Acho que muito da trajetória do Stephen tem a mão do Clooney, mas também a importante contribuição da própria atuação do Gosling. Merecia mais mesmo!

Cristiano, eu também gostei do tom político sem ser extremamente provocador. Concordo também que é realista. Eu prefiro Clooney como diretor. Acho ele muito competente nessa seara, ainda mais quando dedicado a roteiros assim, que instigam o debate. Beijo!

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Tenho que assistir a esse filme ainda, perdeu tanto a força que acabei esquecendo… gosto da crescente que o Gosling tem tido. Depois de “Half Nelson” a carreira dele deu uma esfiada e voltou com tudo em 2010!

Até fisicamente ele mudou de 2006 pra cá.

Ka, você não vai fazer review de Histórias Cruzadas não? Vi o filme domingo e chorei em pelo menos umas 4 cenas… Viola, Octavia e Jessica estão sublimes…

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Gostei muito da sua crítica Ka, ainda que não detecte essa influência de David Fincher que vc alude. Acho que o ambiente retratado e a proposição de Clooney ao enveredar neste universo pedem esse distanciamento que vc indica. Essa sobriedade, no entanto, favorece a constatação não só do domínio que Clooney exerce sobre seu filme, como do impacto da crônica humana por ele iluminada.
Bjs

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Tudo pelo Poder é um dos melhores filmes de 2011. Concordo que Clooney seja um diretor competente. Também gosto de suas atuações. Nesse filme mesmo ele mandou bem como ator. Clooney tem tanta moral, que esmiuça fatos da cultura americana sem receber retaliação. É muita moral.

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Pedro, pra mim, o Gosling nunca teve uma fase fria na carreira. Acho que ele sempre esteve muito em voga, especialmente nos dois últimos anos. Ainda não assisti “Histórias Cruzadas”, infelizmente. Assim que assistir, teremos crítica aqui.

Reinaldo, obrigada! De uma certa forma, concordo com você em relação ao distanciamento, tanto que eu não cito isso como um problema para o filme. Beijos!

Celo, eu gosto mais do Clooney diretor que do ator. E ele tem muita moral mesmo!

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Gostei bastante do filme. Me surpreendeu mesmo. A direção de Clooney está ótima, mas adorei o enredo e a forma como tudo foi se desenvolvendo. Bacana mesmo!

Abs.

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A direção do Clooney neste filme foi na medida que nem foi “Boa Noite e Boa Sorte”, que adoro e era meu favorito no ano que ele concorreu ao Oscar, pra ser sincera. Assisti esse “Tudo pelo Poder” com meu pai e debatemos muito sobre ele. È uma produção que abre muitas opiniões não só com a política, mas pelas atitudes tomadas pelos envolvidos. Merecia mais atenção.

Beijos!

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Kamila ontem eu estava muito cansado e na ansia de opinar sobre o filme eu não elaborei uma critica.Eu gostei muito do filme.Me agrada muito a visão que Clooney tem da imprensa(através da personagem de Marisa Tomei).Seja para o bem ou o mal esse tema “até onde a imprensa tem poder”.Esse filme faz um bom paralelo com “Boa Noite Boa Sorte”(apesar de temas distintos,no filme de 2005 era também sobre a censura jornalistica).Kamila não vejo o filme tão distante emocionalmente por um motivo:Ryan Gosling(que ATOR FANTASTICO!).O roteiro e a maneira que a história é narrada tem um distanciamento sim,mas a interpretação de Gosling e suas nuances,humaniza e muito os dilemas de Stephen Meyers(adoro a cena final).Destaque para o sempre excelente Philip Seymour Hoffman e Paul “Sideways” Giamatti.Eu vejo citação no caso Bill Clinton/Monica Levinski.Vc não acha que algum politico não vai se entregar ao charme da nova secretaria?(no finalzinho do filme).Bem não vou tecer mais elogios a Ryan Golsing pq ele está ótimo nesse filme.Mas em “Drive” ele está excelente.”Tudo Pelo Poder” foi o único filme da temporada de premiaçãos que eu assisti duas vezes.É cinema politico de altissima qualidade.

Beijos do seu eterno leitor

Paulo Ricardo

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Raspante, concordo com o que você disse. Abraços!

Mayara, exatamente. Você foi certeira ao dizer que este filme suscita o debate. Merecia ser mais estimado pelas pessoas justamente por causa disso, uma vez que essa é uma qualidade rara nos filmes recentes. Beijos!

Paulo, concordo que a interpretação do Gosling humaniza os conflitos de seu personagem e esta história, mas acho ainda o tom muito distante e sóbrio neste filme. E acho que o Clooney foi certeiro na análise dele aqui. Em todos os temas nos quais o filme toca. Beijos!

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Não sei se é o melhor trabalho do Clooney atrás das câmeras, mas que filme objetivo, claro e sem firulas! Gostei demais dessa sobriedade, desse jeito de falar política sem parecer pedante. Uma prova de como esse tipo de história pode ser simples e, ainda assim, extremamente eficiente!

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Matheus, não é o melhor trabalho do Clooney atrás das câmeras, mas é um belo filme. Gosto também da sobriedade do longa.

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