O Garoto da Bicicleta
Filme vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cinema de Cannes em 2011, “O Garoto da Bicicleta”, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, tem um protagonista que é um verdadeiro desafio para a plateia. Cyril Catoul (Thomas Doret) é uma criança difícil, birrenta, dada a atos de violência e que não parece acatar qualquer tipo de autoridade. Na medida em que vamos conhecendo a história de vida dele, no entanto, fica um pouco fácil compreender o por quê de Cyril ter adotado uma atitude desse tipo. Abandonado pelo pai (Jérémie Renier), ele vive num orfanato que é uma espécie de escola em regime de internato, que o permite passar os finais de semana com pessoas que sejam de sua própria família ou de uma família adotiva.
Quando “O Garoto da Bicicleta” começa, a plateia pode duvidar bastante das motivações de Cyril. Você não sabe se ele está numa jornada em busca do paradeiro do pai ou da sua amada bicicleta – porque ele dá o mesmo grau de importância aos dois. A partir do instante em que a cabeleireira Samantha (Cécile de France, que muitos irão se lembrar pela presença no filme “Além da Vida”, de Clint Eastwood) entra na história, aí que a figura de Cyril fica ainda mais intrigante para a gente, porque chega a ser impressionante que Samantha se sinta afeiçoada e se preste a um ato de bondade extremo (ela meio que adota Cyril, trazendo ele para dentro de sua casa) a alguém que não faz a mínima questão de cativar qualquer pessoa.
Por isso mesmo que Cyril é um grande desafio para a plateia. Para que você se insira na jornada dele, é necessário doses generosas de compaixão de nossa parte. Se isso ocorrer, nós começamos a enxergar Cyril da mesma forma que Samantha, quando o viu pela primeira vez. Talvez, ela tenha compreendido que toda aquela agressão, no fundo, escondia um grande desejo que Cyril tinha de ser aceito (pelo pai, por amigos, por ela) e, principalmente, de ser amado. Toda a jornada de Cyril, no decorrer de “O Garoto da Bicicleta”, tem esse objetivo.
Dirigido de uma forma relativamente simples pelos irmãos Dardenne, “O Garoto da Bicicleta” é um filme que propõe esse diálogo com a plateia. Para isso, um dos maiores acertos deles foi justamente colocar todo o foco da ação do longa nos atos e nos sentimentos de Cyril. Neste sentido, chama a atenção também a segurança da atuação do menino Thomas Doret, que, em sua estreia como ator, consegue transmitir muito bem a transformação pela qual Cyril passa durante o filme. Ele é o sentimento puro em um longa que é pura racionalidade e frieza
Cotação: 9,0
O Garoto da Bicicleta (Le gamin au vélo, 2011)
Direção: Jean-Pierre e Luc Dardenne
Roteiro: Jean-Pierre e Luc Dardenne
Elenco: Thomas Doret, Cécile de France, Jérémie Renier, Fabrizio Rongione, Egon di Mateo, Olivier Gourmet, Batiste Sornin
Sou um grande admirador dos filmes dos irmãos Dardenne, Kamila. E como sempre eles acertaram de novo nesse filme, que ainda avança um pouco na carreira deles porque apresenta um tom mais solar, mais otimista, tipo de coisa que poucas vezes vemos nos filmes dos irmãos belga. Todo o trabalho de câmera na mão, desenvolvimento dos personagens, em especial dese protagonista irascível e difícil, com você cloca, sãao muito bem cuidados e se faz aos poucos, sem exageros ou pressa. Grande filme.
Não diria frio, mas existe sim uma intenção de não ser piegas, emocional. Os Dardenne quer a nossa racionalidade, e é por isso que esse garoto nos conquista, como muitos outros deliquentes, eles não são ruins por natureza (parafraseando seu blog), eles são frutos de nossa péssima sociedade.
Rafael, entendo o que você chama de tom solar e otimista e concordo com sua observação a respeito disso. Um grande filme mesmo.
Cassiano, como conversamos no Facebook, concordo com você. Especialmente porque existe o desafio colocado a nós da plateia de sentir compaixão pelo Cyril, que é uma criança difícil e com muitos problemas.
Esse desafio em relação a Cyril é mesmo grande, dá vontade de dar uns tapas no garoto algumas vezes. Talvez, a empatia seja mesmo com Samantha, o desprendimento dela, o amor dela, a visão dela acaba nos aproximando daquela criança problemática e sofrida.
P.S. E de certa forma, o vejo como uma continuação de A Criança, não apenas pelo Jérémie Renier, mas pela postura do personagem.
Esses filmes que parece simples mas que de simples não tem nada(como os de Eastwood).É o filme estrangeiro que estou ansioso para ver.Bjs.
Amanda, pois é. Se eu fosse a Samantha, eu tinha abandonado aquele menino no primeiro piti que ele deu… Mas, é impressionante a forma como ela não desiste dele, em nenhum momento. Ainda não assisti “A Criança”. Vou tentar conferir esse também.
Paulo, exatamente. Tente assistir. Beijos!
Tem alguma coisa nesse filme que me remete a outro filme, o russo “O Pequeno Italiano”, de 2005, eu acho. Ainda não vi a obra, vi apenas alguns pedaços dela e, de certo modo, ela me agrada. Provável que logo eu a confira.
Kamila, conforme comentei contigo no Twitter, “O Garoto da Bicicleta” – que também conferi recentemente – dialoga demais com “Tão Forte e Tão Perto”. Ambos são sobre crianças difíceis lidando com a ausência paterna. O filme de Daldry, no entanto, me conquistou mais por ter um lado cheio de emoção – algo que, ao meu ver, falta em “O Garoto da Bicicleta”.
Filme muito sóbrio, sem rodeios e melodramas. Achei delicado e singelo. Não gostei tanto quanto você no entanto, dei apenas 4 estrelas. O que mais me agradou foi a última cena: absolutamente arrasadora!
Luís, esse filme russo eu ainda não tive a chance de assistir. Anotei a sua dica.
Matheus, concordo com esse diálogo entre esse filme e “Tão Forte e Tão Perto”. É bem isso mesmo! E concordo que o filme do Daldry tem mais emoção que esse, até porque emoção é uma das marcas do cinema do Stephen Daldry.
Júlio, sim, muito sóbrio. Sóbrio até demais. Eu gostei muito. Bem mais do que eu esperava, pra ser sincera. A última cena, realmente, é um destaque sem fim!
Puxa, ainda não tive a oportunidade de ver. Por mais que a história do garoto seja densa, de um jeito ou de outro, sempre quando tem criança, acabo me deixando levar hehe
Victor, mesmo quando a criança chega a ser bem irritante, como é esse caso? rsrsrs
Assisti o filme em janeiro, porque queria ver todos os indicados ao Globo de Ouro. Além disso, como boa fã de cinema francês, o nome Cécile de France já é um incentivo grande.
Gosto do filme, o protagonista pode ser MUITO irritante, mas sofreu tanto que torci para que no fim tudo desse certo.
Carissa, eu também gostei muito do filme e acabei me envolvendo com a história do Cyril, apesar de ele ser muito difícil.
Muito bom, não?
Pra mim, um dos melhores do ano. Finalista do Oscar Indiscreto =D
Anderson, excelente filme.
Eu criei grandes expectativas sobre esse filme (erro meu), por tanto o filme é bom sim, ou médio… mas o que é muito bom mesmo é esse personagem e toda a discussão que ele provoca. É do tipo de personagem real, daqueles que você acredita, e torce para que ele tome o caminho correto, mas… dificil esse moleque mesmo. Como filme não tem muito a ver mas essa questão do personagem me fez lembrar aquele Conte Comigo com o Mark Rufallo…
te mais!!!
Ygor, eu assisti sem expectativas, talvez, por isso mesmo, tenha apreciado muito “O Garoto da Bicicleta”. Até mais!
Filme sensacional, delicado e que emociona sem apelar. Acho a maneira como os Dardenne cria a atmosfera de “mundo real” ou “gente como a gente” em seus filmes é bem um traço autêntico da sua cinematografia. Cyril tem o poder de nos cativar e também irritar, né? rs Adorei a interpretação do garoto. O filme tem paralelos com o “A Criança”, outro marcante trabalho os irmãos. Beijão, Ka!
Cristiano, Cyril me irritou mais que cativou, mas ele me ganhou porque senti muita compaixão por ele. Eu também adorei a atuação do ator mirim. Beijo!