logo

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios

publicado em:4/10/12 1:02 AM por: Kamila Azevedo Cinema

“Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios” é mais um capítulo de uma longa parceria estabelecida entre o diretor Beto Brant e o roteirista e escritor Marçal Aquino. Ao mesmo tempo, o longa também marca um outro longo relacionamento profissional existente entre essa dupla e o roteirista e diretor Renato Ciasca. Assim, construído a seis mãos, temos uma obra que se passa numa cidade remota do interior do Pará e cujas personagens são quase uma alegoria que representam as regras para sobreviver no submundo, naquilo que é considerado a parte totalmente à margem da sociedade em que elas vivem.

A trama escrita por Brant, Ciasca e Aquino nos é retratada pelo ponto de vista de Cauby (Gustavo Machado), um fotógrafo que está de passagem pela Região Norte, fazendo alguns trabalhos esporádicos, mas nenhum de muita importância. Quando o encontramos, a sua vida nômade está prestes a sofrer uma grande sacudida, a qual é perfeitamente ilustrada pelo encontro de Cauby com Lavínia (Camila Pitanga), uma mulher bastante misteriosa, porém intensa, e que é casada com o pastor da localidade, Ernani (Zé Carlos Machado). O desenho desse triângulo amoroso é que move emocionalmente todo o filme.

A história de Cauby, Lavínia e Ernani nos é passada por Beto Brant e Renato Ciasca de uma forma um tanto interessante. A dupla de diretores mistura o tempo presente com uma série de flashbacks que nos mostram as histórias de vidas dessas personagens, bem como os diversos núcleos nos quais eles se encontram, as pessoas com quem eles se relacionam e que, da mesma forma que eles, representam um pouco daquilo que eles são e do que irá acontecer com eles. No final, “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios” acaba sendo um longa sobre um homem que, mesmo ciente dos riscos que corre, decide seguir o seu destino, independente do fato do caminho dele se revelar deveras tortuoso.

Uma trama interessante e densa como essa acaba sendo prejudicada – e muito – justamente pela estrutura narrativa adotada por Beto Brant, Renato Ciasca e Marçal Aquino. A forma como a história é filmada chama a atenção, por privilegiar planos longos e repletos de silêncio, com imagens fortes da natureza – quase como se a dupla de diretores estivesse emulando o estilo Terrence Malick de filmar. Entretanto, é justamente aquilo que enfraquece o filme que acaba revelando aquilo que ele tem de melhor: as atuações do trio central de atores. Tanto Gustavo Machado, como Zé Carlos Machado e, principalmente, Camila Pitanga (que tem a personagem mais difícil de todo o longa) estão sensacionais. Assim como Gero Camilo, que faz um jornalista cuja acidez movimenta as rodas sociais da cidade.



A última modificação foi feita em:novembro 17th, 2012 as 12:18 pm


Post Tags

Jornalista e Publicitária


Comentários


Kamila,eu ficaria um bom tempo apontando os defeitos desse filme.Vou resumir tudo em 2 questões:Roteiro e péssima direção de atores.Antes de tudo “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios” tem um sério problema de roteiro(algo corriqueiro no cinema nacional) e Camila Pitanga confiou em uma direção ruim(Beto Brant é um sujeito subestimado.Os filmes dele não me diz nada).As cenas de sexo são mal filmadas,me parece que Brant “observa” a beleza estonteante de Pitanga e o roteiro não desenvolve o passado da protagonista.É mencionado que ela foi prostituta e “encontrada” por um pastor evangélico que a “libertada”.Uma cena de vômito(seria uma cura espiritual? OH BRANT É UM GÊNIO!).Prefiro cineastas com algo a dizer como Karin Aïnouz e Cláudio Assis.E verei o proximo filme de Brant porque procuro acompanhar o cinema nacional de perto.Beijos.

Responder

Tenho curiosidade por este que é outro filme recentente resenhado aqui no “Cinéfila por Natureza” que eu ainda não conferi. Gostei da sua crítica e, principalmente, do aparte feito à forma como á história é filmada. Não é de hoje que apresento algumas restrições à dinâmica adotada por Brant (depois com a parceria de Ciasca) de filmar. A comparação com Malick é boa, mas a Brant e Ciasca (não sei nesse filme) não interessam questões metafísicas e filosóficas que permeiam a obra de Malick. Daí a estranheza ressaltada…
Bjs

Responder

Olha, o melhor do filme são as atuações, sem dúvidas, mas discordo enquanto a narrativa, o que me incomodou mesmo foi o excesso de elipses no desfecho, mas adoro a ousadia de certas sequências. Em minha opinião, um filme 3 e meio de 5. Abraço.

Responder

Paulo, eu discordo da sua afirmação sobre os filmes de Brant. No geral, acho que eles têm conteúdo e dizem algo. Esse foi o primeiro filme dele que eu não gostei. Achei as cenas de sexo bem filmadas e acredito que Pitanga é um dos grandes acertos desse filme. Beijos!

Reinaldo, eu tinha curiosidade por esse filme também e confesso que me decepcionei um pouco com ele. Obrigada! A minha comparação com o Malick foi só mesmo em relação ao estilo das tomadas, mas você foi mais perspicaz que eu e completou o resto do raciocínio de uma maneira perfeita. 🙂 Beijos!

Celo, pode discordar, à vontade. Realmente, o excesso de elipses no desfecho incomoda e o filme tem uma ousadia bacana. Mas, no geral, acho que tem mais problemas que acertos. Abraço!

Responder

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.