Uma das obras básicas da doutrina espírita, “O Livro dos Espíritos”, que foi escrito por Allan Kardec, foi publicado na França, no século XIX, tendo como base os estudos do educador francês sobre o fenômeno da movimentação de objetos diversos, notadamente as mesas que eram chamadas de giratórias. Assim como tudo aquilo que é novo ao homem, “O Livro dos Espíritos” teve muitos detratores, mas a força da mensagem escrita por Kardec é tamanha que a obra continua mantendo a sua relevância, ajudando antigos e novos adeptos da doutrina espírita a entrarem em contato com os muitos princípios contidos nas cerca de 1.019 perguntas que o livro se propõe a responder.

Este é o contexto básico por trás de “O Filme dos Espíritos”, dos diretores Michel Dubret e André Marouço. O longa, na realidade, não se propõe a fazer uma investigação sobre os fenômenos que Allan Kardec investigou por ocasião do momento em que estava redigindo o seu livro. Pelo contrário, a obra nos apresenta a uma história que prova justamente a importância que o livro que Allan Kardec teve – e tem – para a vida das pessoas que são apresentadas ao que ali está escrito. Ou seja, assistimos a um relato sobre o verdadeiro legado que Allan Kardec nos deixou ao escrever este livro.

“O Filme dos Espíritos” tem uma trama bastante singular. O professor universitário e psicólogo Bruno (Reinaldo Rodrigues, em uma boa atuação) está num momento bastante vulnerável do ponto de vista emocional. Viúvo, sem saber lidar direito ainda com a morte de sua esposa (Briza Menezes), e demitido do seu emprego, ele não consegue encontrar uma saída digna para a sua vida. Em um momento de desespero, cruza com um gari, que o presenteia com um exemplar de “O Livro dos Espíritos”, com a seguinte dedicatória: “esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito”. O que se segue – e é isso que é mais importante para o roteiro escrito por André Marouço -, é a jornada de Bruno rumo a uma transformação interior e ao fechamento de diversos ciclos de sua vida, bem como das várias pessoas com as quais ele se relaciona, e que, consequentemente, o leva a uma vida mais plena do ponto de vista espiritual.

Um dos elementos mais positivos em “O Filme dos Espíritos” é que ele não se direciona a um público específico. Ao mostrar uma trama que tem como propósito nos apresentar a conceitos básicos do espiritismo, a obra acaba por sensibilizar o público em torno dos temas e das situações abordadas. Além disso, a mensagem contida no decorrer do longa é bastante positiva, na medida em que nos mostra uma corrente do bem em que pessoas ajudam as outras a se reencontrarem, tendo como base a leitura do livro de Allan Kardec. A execução do filme foi bastante sólida (ao contrário do visto recentemente em “E a Vida Continua…”) e a dupla de diretores só peca na forma como estrutura o seu primeiro ato. As diversas linhas narrativas simultâneas prejudicam muito o entendimento inicial da obra.