Julieta
Existe uma cena em Julieta, filme dirigido e escrito pelo espanhol Pedro Almodóvar, que é bastante definidora do caráter da sua protagonista (que é interpretada por Adriana Ugarte, quando jovem, e por Emma Suárez, na meia idade). Julieta Arcos guarda um grande segredo em sua vida e, nesse momento em particular, ela compara a sua fixação pela filha Antía (Blanca Parés) como um vício em drogas, em que ela alterna momentos de sobriedade com recaídas que a deixam no fundo do poço.
Por uma dessas circunstâncias da vida, que nos são explicadas por meio de flashbacks no decorrer do filme, Julieta e Antía seguiram caminhos diferentes. A mãe nunca mais ouviu falar da filha; e a filha, por sua vez, nunca mais mandou notícias suas para a mãe. Após muita dor e sofrimento, Julieta, finalmente, conseguiu seguir em frente com a sua vida e reencontrou a felicidade por meio de um relacionamento com Lorenzo (Dario Grandinetti).
Entretanto, em um encontro fortuito com Beatriz (Michelle Jenner), que foi a melhor amiga que sua filha teve, todos os sentimentos que Julieta escondeu nesses anos todos voltam à superfície e fazem com que ela reviva os acontecimentos de sua vida e as escolhas que a levaram a se afastar de Antía.
Baseado em um conto escrito por Alice Munro, Julieta é um filme que fala, basicamente, sobre a impossibilidade de escondermos algo muito sério em nossa vida. No decorrer do filme, ao vermos a angústia de Julieta, percebemos que a felicidade que ela sentia era uma mentira que ela mesma inventou para se convencer de que tudo estava bem. Enquanto ela tivesse a sombra de Antía em sua vida, Julieta viveria prisioneira de sua própria tristeza.
Por mais que Julieta tenha todas as cores vibrantes e fortes que são típicas do universo de Almodóvar; por mais que Julieta tenha personagens femininas interessantes, interpretadas por algumas das atrizes favoritas do diretor espanhol, como Rossy de Palma; a verdade é que esta é uma obra diferente dentro da filmografia de Pedro Almodóvar; por se tratar de uma obra mais intimista; por nos mostrar que, por trás de cada escolha, existe sempre uma consequência; e, principalmente, por se tratar de uma mulher que entende que, somente ao enfrentá-los, ela vai conseguir se livrar de todos os demônios que ela guarda dentro de si mesma.
Julieta (Julieta, 2016)
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar (com base no conto escrito por Alice Munro)
Elenco: Adriana Ugarte, Rossy de Palma, Michelle Jenner, Emma Suárez, Inma Cuesta, Daniel Grao, Dario Grandinetti, Pilar Castro, Nathalia Poza
Tem dois filmes protagonizados por mulheres que me tocou profundamente nos últimos meses:esse “Julieta”(que injustamente não foi bem recebido pela crítica brasileira) e “Aquarius” de Kleber Mendonça Filho,um filme sobre a dificil arte de resistir(tem uma clara alusão ao que a Presidenta Dilma sofreu no final de seu mandato).Espero que esses dois filmes conquistem muitos prêmios na temporada de premiações.
Paulo, esses dois filmes que você me citou também me tocaram bastante!
Ainda não conferi esse Almodovar. Parece que a critica tá meio dividida, legal ler de pessoas que curtiram.
Cassiano, eu adorei esse filme! E espero que outras pessoas o apreciem da mesma maneira que eu!
Também gostei bastante do filme, é um Almodovar mais intimista de fato. Mas traz a alma feminina de uma maneira forte e envolvente.
Amanda, exatamente!