Democracia em Vertigem | Resenha Crítica
Historicamente, apesar de ter sido proclamada, no Brasil, em 15 de novembro de 1889, a verdade é que a República e a ideia da Democracia, em nosso país, ainda podem ser consideradas como algo muito recente. Se considerarmos o fato que vivemos em um regime ditatorial no período de 1964 a 1985 e temos 34 anos de Nova República, ainda estamos engatinhando, nossas instituições ainda não podem ser consideradas sólidas e nossa Constituição tem somente 31 anos. Só para termos uma ideia, eu, com meus 37 anos, por exemplo, sou mais velha que a Nova República e a Constituição.
Neste sentido, o documentário Democracia em Vertigem, dirigido por Petra Costa, faz um ensaio sobre a história política recente do Brasil, contextualizando o nascimento da Nova República e a conjuntura política nacional no período de 2002 (que marcou a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva) até os dias atuais com sua própria história pessoal e a dos seus pais (que foram militantes na época da ditadura). O objetivo do filme é claro: mostrar que a nossa democracia recente (ainda mais considerando-se o fato de que, dos nossos últimos sete presidentes, dois sofreram impeachments e um encontra-se preso) está construída em fundamentos que são fracos e está apoiada em instituições que, muitas vezes, trabalham em prol dos seus interesses pessoais e não respeitam o que está contido na nossa Constituição.
Ao longo de seus 113 minutos de duração, Democracia em Vertigem estabelece uma grande reflexão, em que Petra Costa conduz o fio narrativo por meio de diálogos pessoais entre a sua intimidade e as questões políticas e sociais que permearam o país nos últimos anos. O seu estopim é a eleição do primeiro governo de cunho popular no Brasil, em 2002, para retratar como as decisões tomadas nos governos Lula e Dilma Rousseff ocasionaram um movimento também popular que teve como consequência uma divisão profunda no país.
Longe de se aprofundar nos processos de corrupção que assolaram estes governos, bem como naquele que ocasionou o impeachment de Dilma Rousseff (para isso, recomendo assistir a O Processo, documentário de Maria Augusta Ramos), entendo que a intenção de Petra Costa é refletir justamente sobre este Brasil dividido entre direita e esquerda, e aonde essa polarização irá nos levar. Democracia em Vertigem é um filme que emociona, mas, principalmente, nos deixa preocupados em relação ao nosso futuro, como país e como cidadãos. Ainda temos tempo para reverter isso!
Democracia em Vertigem (The Edge of Democracy, 2019)
Direção: Petra Costa
Adorei sua crítica.Você definiu muito bem a proposta de Petra Costa e a importância desse documentário no atual momento político do país.Como você definiu muito bem -“Ainda temos tempo para reverter isso!” .É esse sentimento que todo brasileiro deveria ter em relação a nossa conturbada democracia.Estou na torcida para que esse documentário seja nomeado ao Oscar(e depois da exibição em Sundance essa possibilidade existe).
Paulo, existem boas chances do documentário ser indicado ao Oscar 2020. Estamos na torcida para que isso aconteça!
Ótimo texto, Kamila, para um ótimo documentário. Parabéns pela análise!
Otavio, muito obrigada! 🙂
[…] conseguir o grande feito que foi a indicação ao Oscar 2020 de Melhor Documentário, pelo filme Democracia em Vertigem, a diretora Petra Costa dirigiu um documentário com os elementos que são típicos de sua – […]